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#65 - NARRAÇÃO

Luke sentou-se ao lado de Michael nos degraus da escada, percebendo que o menor não o encarava, pelo contrário, seu olhar parecia distante. Ele encarava a lua, que começava a dar seus primeiros sinais, sem demonstrar emoções, mas mesmo assim Luke poderia arriscar que Michael estava triste.

Eles ficaram um tempo ali, em um silêncio confortável, observando a chuva cair preguiçosamente, molhando o quintal dos Hemmings e respingando nos dois garotos. Michael suspirou, encostando sua cabeça no ombro de Luke.

"Eu gosto da lua" ele disse.

Luke apenas concordou, sem saber o que responder. Michael dizia coisas aleatórias às vezes e seu humor sempre estava mudando, o que deixava Hemmings confuso em algumas situações.

"Tem algo te incomodando, anjo?" ele perguntou após alguns segundos de silêncio.

"É só que..." ele se afastou do maior, olhando para suas próprias mãos. "Eu gosto de você, Luke. Muito. Mas..." sua voz morreu e ele bufou, parecendo desistir do que falaria. "Eu preciso ir, meu pai deve estar preocupado."

"Depois você vai, primeiro me diz. 'Mas' o que, Mike?"

Clifford evitou encarar os olhos de Luke, balançando sua cabeça em negação. "Eu tenho medo, Luke" ele praticamente sussurrou.

"Medo de que?" questionou Luke, tentando afastar seus próprios medos de sua mente.

"Eu não quero que você fique bravo com o que eu vou dizer, ok? É só que... isso me incomoda muito."

"Pode falar, babe. Eu não vou ficar bravo com você."

Michael encarou os olhos azuis de Luke. "Quando eu acordei aquele dia no hospital, você me perguntou se eu confiava em você. Eu disse que sim. Mas quanto mais eu lembro, mais fica difícil fazer isso, Luke. Minhas lembranças me trazem sentimentos também. Quase todos os meus sentimentos por você são bons, mas tem isso: essa desconfiança" ele desviou seu olhar. "Eu sei que eu já sofri muito por você, eu não quero me entregar de novo e acabar sofrendo mais uma vez" ele disse em tom baixo.

Luke admirava Michael por conseguir dizer seus sentimentos em voz alta. Aquele era um dos maiores problemas de Luke: não conseguir se expressar. Se ele possuísse mais coragem, provavelmente já teria o dito que o amava e lhe contado tudo o que havia acontecido entre eles. Porém explicar o motivo de Luke ter feito muitas das coisas que havia feito era o mesmo que explicar seus conflitos internos e essa era uma coisa extremamente difícil para ele.

"Mike, eu... eu gosto muito de você. Não quero que você desconfie disso" Luke colocou a mão de Michael junto da sua, entrelaçando seus dedos sobre seus joelhos.

"Eu sei, amor. Mas eu só queria saber o que aconteceu, isso iria me deixar bem mais tranquilo."

"Eu vou te contar."

"Quando?" questionou, realmente angustiado por Luke ser tão vago com as palavras.

"Você pode matar aula comigo amanhã? Eu quero te levar num lugar. De novo."

"Eu não posso perder aula, lembra?"

"É, lembro. Depois da aula então, tudo bem?"

"Ok" Michael deu um sorriso mínimo, desviando seu olhar para o céu novamente. "Mas eu preciso ir mesmo agora."

"Não vai, fica aqui comigo" Luke choramingou. "Não me deixe sozinho."

Um trovão ribombou no céu e os pingos de chuva de repente começaram a engrossar. Michael soltou um gritinho, escondendo seu rosto no peito de Luke quando um relâmpago cortou o céu.