#53 - NARRAÇÃO

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Michael sentia-se incomodado. Há um dia vinha ignorando as tentativas de Calum e Ashton de se aproximarem, bem como ignorava seus olhares, pedidos de desculpa por mensagens de texto ou bilhetes de papel com carinhas tristes que acertavam sua cabeça durante a aula.

Era extremamente difícil, mas ele não poderia se dar ao luxo de voltar a falar com Hood. Ele o magoou, o traiu, e estava recebendo as consequências disto. A confiança que Michael tanto tinha em Calum havia se esvaído por conta de um segredo. O segredo que Michael havia descoberto e, desde então, não saía de sua cabeça.

Ver Calum e Ashton trocando carícias a todo momento, mesmo sem intenção, fazia mal a Michael. Eles formavam um casal lindo, era como se tivessem saído de um filme de romance; Ashton sempre fora tão cuidadoso e carinhoso com Calum, sempre dissera a ele o quanto o amava e desejava. Michael sentia inveja daquilo. No fundo, ele apenas queria Luke ali novamente, ao seu lado, sussurrando para si elogios bonitinhos que o faziam se derreter, correndo os dedos por seus fios desbotados ou simplesmente distribuindo beijos por seu rosto. 

Michael sentia-se culpado por desejar e visualizar tudo aquilo. Ele não podia. Era errado. As palavras que Luke sussurrava para ele eram falsas, Hemmings só queria brincar com seu pobre coração e logo em seguida pisar nele como em uma flor morta em uma calçada gasta. Ele não passava de um conquistadorzinho barato, um mentiroso. 

Clifford não conseguia acreditar que Calum fora capaz de contribuir com aquele que só queria machucá-lo. Seu melhor amigo sabia de todas as verdadeiras intenções de Luke e não havia lhe contado nada, nada!  

Ele sentia tanta raiva, tanta. Michael sentia raiva de si mesmo por ter acreditado em Luke, raiva por chorar, raiva por amar. Sentia raiva de Luke por ter o enganado, o traído e ainda assim continuar em sua mente. Sentia também raiva de Calum e Ashton, seus amigos que sabiam da verdade, mas que haviam a escondido do único que precisava saber. 

Seus grandes olhos verdes enchiam-se de lágrimas constantemente. Ele não choraria. Já havia chorado uma vez, apenas uma vez, por Luke e prometera a si mesmo que aquilo não voltaria a acontecer. Michael era forte e tinha certeza de que logo tudo se acalmaria e voltaria ao normal.

Depois da tempestade vem o arco-íris e tudo o que Michael queria era encontrar seu pote de ouro, pois havia provado da tempestade sem um guarda-chuva e merecia uma recompensa.

Era incrível como Luke havia mexido com ele. 

O colorido o amava e tinha certeza disto, esperava que fosse recíproco e vinha planejando dizer a Luke as três palavrinhas que talvez mudassem tudo. Porém outra coisa havia mudado tudo. Michael preferia descobrir que o sentimento não era mútuo ainda a descobrir que estava sendo traído.

Talvez ele estivesse exagerando e a situação não fosse tão ruim assim. Aquilo passaria, algum dia. Fazia parte do drama adolescente: se apaixonar, se entregar, se foder. 

Por ora, ele apenas precisava ocupar sua mente com outras coisas que não fossem Luke Hemmings se quisesse esquecer realmente do garoto loiro. Ele poderia prestar atenção na aula de história, por exemplo, mas estava entediado o bastante para não querer ouvir sobre a mitologia grega. Michael bufava a cada dois segundos, enrolava seus dedos na ponta de seus cabelos com o pensamento "preciso pintar o cabelo" e logo depois "um dia eu vou ficar careca" e então voltava a bufar, rabiscando linhas desconexas na última folha de seu caderno. 

Era possível sentir o olhar de Calum sobre si, como sempre. O moreno sentava-se atrás dele em todas as aulas que tinham juntos (literalmente todas) e então era mais fácil que pudessem tagarelar sem parar. Mas aquela situação era diferente; Michael queria ignorar Calum a todo custo, o que significava fingir que não estava sentindo as cutucadas em suas costas.

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