happy ever after

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— Me disseram que ia me dizer que porra de lugar é esse e o que diabos eu estou fazendo aqui. — Jimin disse, em um certo tom grosso, cuspindo ríspido suas palavras enquando olhava para o garoto em sua frente. Nunca havia imaginado Hoseok vestido daquela maneira, com aquela postura e muito menos aquele olhar severo. Mas estava diante dele, e podia observar-se entre os dois certa relação de poder.

— Jimin, isto aqui é um hospital. Psiquiátrico. — ele murmurou, apoiando-se na mesa em sua frente. — Um hospital que trata doentes mentais.

— Mas por que eu estou aqui? Eu não sou um doente mental! — Jimin o interrompeu, o que fez o Jung suspirar fundo e aspirar paciência. — Isso é por causa da depressão? Se for, eu não preciso disso, eu tenho quem cuide de mim e...

— O Taehyung, Jimin? — Hoseok perguntou, o olhando diretamente dentro dos olhos cansados. — É o Taehyung quem você acha que pode cuidar de você?

Jimin engoliu a seco, sentindo certo deboche na voz do mais alto.

— Sim. Quer dizer, eu cuidei tanto dele e...Não seria pedir demais que cuidasse de mim também, seria? — Jimin perguntou, já sentindo um soluço preso em sua garganta, lágrimas presas debaixo de seus olhos. Uma dor pulsante assolava a sua cabeça.

— Jimin, Taehyung não pode cuidar de você. — Hoseok entrelaçou os dedos de suas próprias mãos, inclinando-se sobre a mesa em uma postura curva. — Não pode porque ele não existe.

Jimin entreabriu a boca, perdido, confuso. Ele observou e fitou Hoseok sem animação. Sem esperança.

— C-Como assim? — gaguejou, soltando o soluço que outrora estava preso.

— Jimin, eu estou aqui te explicando o que está fazendo aqui porque você ter notado que não estava bem vivendo uma realidade não é um bom sinal. Quer dizer que perdeu teu chão.

— Meu chão? — Jimin riu pelo nariz. — Hoseok, está me dizendo que o Taehyung não pode cuidar de mim e chegou a essa conclusão por esse caminho?

— Jimin, o Taehyung não existe. Ele não pode cuidar de você porque ele não existe. Não mais. — Hoseok disse, um tanto ríspido. Jimin arregalou os olhos ainda mais e negou com a cabeça, soltando risadas para manter presas as lágrimas. — Jimin, me escuta. Teu pai te vendeu quando você tinha oito anos, pra um traficante que deu a ele em troca metade das drogas que ele tinha. Esse cara te manteve em cativeiro. Esse cara abusava de você. Ele cometia atrocidades com você, Jimin. E você fez questão de relatar tudo isso quando entrou aqui. Aos detalhes.

— Isso é mentira. Isso foi o que aconteceu com Taehyung, e ele foi vendido aos seis, não aos oito. E ele me dizia os detalhes, eu...

— Cala a porra da boca, Jimin! — Hoseok exclamou, fazendo o Park se encolher, assustado. O Jung abriu e fechou a mão várias vezes para se acalmar. Assim que o fez, voltou a fitar Jimin. — No entanto, você não estava sozinho. Havia um garoto nas mãos daquele homem, um garoto que estava ali já havia dois anos. Aquele homem o levara pra casa lhe prometendo casa e comida, mas o colocou como brinquedo sexual por anos. E quando você veio, ele foi o seu único amigo. Seu porto seguro, a pessoa que segurava a sua mão e te dizia que ficaria tudo bem.

Jimin olhou para as próprias coxas.

— Ele era o Taehyung.

— Exato, Jimin. — ele pegou algumas fotos, e as deixou em cima da mesa, à vista de Jimin. Eram fotos das mesmas coxas para as quais havia acabado de olhar, fotografias de quando ele havia entrado naquela instituição. Suas coxas possuíam hematomas, cicatrizes, marcas. Mas não eram raquíticas, não eram magras, eram fartas e grossas.

— Faltava alimento pra vocês dois, sim. O cara dava duas refeições por dia pra vocês e olhe lá. Mas Taehyung dava a parte dele pra você. O que fazia você ter refeições completas. — Hoseok recolheu as fotografias. — Mas ele não tinha. E isso causou desnutrição nele.

Hoseon colocou outras fotografias em cima da mesa. As de um corpo fino, pálido, maltratado.

— Ele morreu por desnutrição dois dias antes de a polícia achar você. — Hoseok recolheu novamente as figuras e engoliu a seco. — Ele deu a vida dele pela sua. E quando te acharam, te levaram pro sistema de adoção. Um policial te adotou, disse que não havia problema algum em cuidar de ti mesmo sabendo que tua mente era perturbada. Mas ele não deu conta. Se suicidou em dois meses com um tiro na testa.

Jimin engoliu a seco e já respirava com dificuldades pela boca entreaberta.

— Então te trouxeram pra cá. Seu cérebro criou todo um universo alternativo, uma ilusão para isolar todo o seu trauma. Você dizia que o cara tinha sido solto, levado Taehyung embora, que iria matá-lo. Disse que seu pai tinha os deixado sozinhos. Isso era você percebendo a realidade. — Hoseok segurou a mão do mais novo, confortando-o. — Quer dizer que nosso tratamento estava dando certo.

Jimin suspirou para controlar a crise nervosa. Disse, em voz baixa:

— Mas...?

— Mas... — Hoseok o olhou e fez carinho em sua mão. — Mas vai fazer o que quando sair daqui? É um garoto perdido, com medo de contato físico, que acabou de descobrir que a única pessoa que realmente se importava com ele na verdade não está mais vivo. Você não tem chance lá fora, Park Jimin.

— E o que vai fazer agora?

— Vou te dar uma rota de fuga. Uma válvula de escape. — Hoseok mais uma vez acariciou a mão do mais novo. — Feche os olhos, Jimin.

Jimin fez como Hoseok mandara. Fechou levemente as pálpebras e suspirou, apertando a mão do moreno e mordendo o próprio lábio inferior.

Ele apenas escutou o som de uma gaveta abrindo e logo depois fechando, e então um estalo. Logo um cano gelado e liso encostou em sua testa, e Jimin já sabia do que se tratava.

Afinal, quer rota de fuga melhor do qie ficar ao lado da pessoa que você ama?

— Adeus, ChimChim. — ouviu uma voz grossa e ao mesmo tempo doce soar em seus ouvidos. — Eu te vejo de novo do lado de lá.

E Hoseok apertou o gatilho.

canvas ¡! vminOnde histórias criam vida. Descubra agora