Prólogo

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Não sei ao certo quando o mundo se tornou tão escuro, mas parece uma eternidade. Meu coração se tornou frio que nem as paredes desse quarto. Não sei se serei capaz de amar novamente. Para falar a verdade, ninguém me mostra o amor há muito tempo. Aliás, o que é o amor?

Os dias se tornaram monótonos, todos os dias sempre no mesmo horário, um homem entra por aquela porta com uma seringa em mãos. Ele aplica aquele líquido estranho em minha veia para que eu durma; muitas vezes o tal líquido me faz ter convulsões. Duas vezes por semana eles me "presenteiam" com sessões de eletro choques. Sinto-me tão fraca, não sei ao certo há quanto tempo eu não tenho uma refeição decente, passo semanas sem comer absolutamente nada e quando como alguma coisa é sempre um pingo de mingau, e não é tão bom assim; e uma caneca com água que da apenas para um gole.

Eu já desisti a muito tempo desse mundo, não tenho mais forças. Meus olhos se tornaram vazios, e meus movimentos ficaram repetitivos. Raramente eu falo, apenas mexo a cabeça de um lado para o outro. Acabei virando uma boneca sem movimentos. Nada mais fazia sentido, tudo se tornou um borrão em minha mente. Não sinto mais nada, acho que me tornei resistente à dor. Eu me sinto vazia e inútil. Acho que estou morrendo.

Mas afinal, o que é o amor?

~ X ~

Era uma manhã fria, pouca luz entrava pela fresta da janela de um quarto pequeno, o mesmo estava caindo aos pedaços, às paredes eram sujas e com infiltrações, havia apenas uma cama simples de ferro com um colchão duro no canto do quarto. Estava um absoluto silêncio o único barulho que era se ouvido no lugar, eram os pingos de água caindo do céu em direção ao asfalto cinzento da rua. Uma pobre garota estava acorrentada à parede, seus braços estavam para cima; presos. Seu vestido que antes era branco e bonito, agora estava imundo e aos farrapos. A garota mantinha a cabeça baixa, seu rosto estava escondido atrás do véu de cachos ruivos que eram os seus cabelos. Depois de alguns minutos a porta do quarto se abriu e um homem alto, de pele alva e com a roupa toda branca entrou no lugar com uma seringa em mãos. Assim que ouviu o estrondo da porta a menina levantou o olhar. Seus olhos eram vazios com uma expressão assustada. O homem começou a se aproximar dela com passos curtos, ela tentou se afastar, se arrastando inutilmente para trás. Ao se aproximar dela o rapaz tentou soltar um de seus braços, mas ela estava tão agitada que ele mal conseguia segurar o braço. Ele acabou se irritando e disparou um tapa em seu rosto para que a menina parasse de se mexer. Ela apertou os olhos tentando impedir que lágrimas caíssem, mas uma acabou escapando. Ele era mais forte do que ela, a única coisa que podia fazer era ficar quieta e deixar que ele fizesse o que tinha que ser feito. O homem soltou um de seus braços, aplicou a injeção e logo voltou a prendê-lo novamente. Em seguida ele saiu do quarto batendo a porta com força.

A menina passou a fitar o nada, depois de alguns minutos seus olhos começaram a se cansar. Sinal de que o remédio já estava começando a fazer efeito. Seus braços começaram a amolecer, ela piscou freneticamente tentando impedir-se de pegar no sono. Desde que foi presa nesse lugar ela tem medo de dormir, pois sempre que prega os olhos é assombrada por pessoas que morreram no local. Mas era inevitável, logo todo seu corpo amoleceu e ela acabou dormindo. E com isso imagens sem sentido começaram a invadir seu subconsciente; gritos de pessoas escoavam pelos seus ouvidos perturbando sua mente. Seu corpo arqueou e começou a tremer, ela balançava a cabeça de forma incontrolável tentando desperta-se do sonho. Seus gritos começaram a ecoar pelas paredes do quarto, suas costas arquearam mais ainda. Logo a porta bateu e um homem a desacorrentou e a levou para uma sala no fim do corredor, a prenderam em uma maca. Assim que ouviu o barulho das fivelas se fechando os olhos da garota se abriram arregalando-se automaticamente. Um dos homens ligou a máquina e ela começou a balançar a cabeça bruscamente de um lado para o outro.

- Não. - ela suplicou. Uma lágrima acabou escorrendo de seus olhos e molhando sua bochecha.

A jovem começou a gritar desesperadamente para que não fizessem aquilo. Mas nenhuma das pessoas que estavam ali presentes deram-lhe ouvidos, pelo contrario um dos homens deu um tapa em seu rosto e mandou que calasse a boca. Ela mordeu o lábio inferior com tanta força a fim de não fazer barulho que acabou tirando sangue do mesmo. Uma mulher se aproximou da maca e colocou um negócio estranho em volta da cabeça da garota, era uma espécie de capacete de metal cheio de fios ligados ao objeto. Ela apertou tanto o capacete envolta da cabeça da menina que acabou causando-lhe dores de cabeça. A mulher se afastou, um homem apertou um botão vermelho e logo a sessão de choques começou. A cada choque levado a menina arqueava as costas. Era um mais forte do que o outro. Os gritos da menina ecoavam por toda a sala, ela se balançava bruscamente tentando se soltar, o que era inútil.

Depois de uma hora de tortura, a sessão finalmente havia acabado a pobre menina estava desacordada em cima da maca. Um dos homens a pegou no colo e levou para o quarto, jogou-a bruscamente em cima da cama e saiu do quarto batendo a porta com força. Ela ficou apagada por horas, estava muito fraca, seus pulmões doíam por conta dos gritos constantes e seu corpo estava todo mole sem força alguma. Talvez estivesse morta? Não! Ela estava abrindo os olhos, mesmo que fosse devagar.

Ela se levantou da cama com dificuldades, caminhou lentamente em direção à janela. Estava mais claro do que antes. Ela sorriu bobamente com o brilho do sol entrando pela fresta da janela. De repente houve uma explosão. Pedras de cimento voando para todo o lado, o quarto se encheu de poeira. Ela se jogou no chão, cobrindo a cabeça com os braços. Depois que os destroços da parede estavam no chão e restava apenas a poeira, a garota se levantou do chão e olhou para a parede, que agora era um enorme buraco. Um grande brilho entrava por ele. Essa era sua chance. Era agora ou nada. A garota correu desesperadamente em direção ao buraco quando a porta do quarto se abriu para revelar três homens altos e fortes. Droga! Ela resmungou baixo. Seu quarto ficava no andar superior e se pulasse dali poderia se machucar gravemente. Mas antes isso do que perder sua liberdade. Então a garota fechou os olhos e pulou dali. Acabou torcendo o tornozelo, mas que se foda. Ela correu o mais rápido que pode, conseguiu fazer com que um ônibus parasse no meio da estrada. O motorista ao ver o desespero estampado no rosto dela, acabou nem cobrando pela passagem. Ela desceu na estação de trem, pegou um para bem longe dali. Londres.

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