IV

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Parando pra pensar, eu nunca fui feliz. Minha infância toda eu passei sendo rejeitada por minha família e por outras pessoas. Elas tinham vergonha de mim. Me achavam esquisita. Tinham medo de mim. Já chegaram a acusar-me de ter um demônio dentro de mim mesma. Diziam que eu era uma criança amaldiçoada. Meus pais até chegaram a me levar a uma Igreja e o padre quis me exorcizar. Minha família permitiu com que ele fizesse. Lembro que quando voltei para casa, eu estava com tanto medo que acabava me assustando até com as paredes. Quando completei doze anos meus pais disseram que eu não havia mais jeito, então acabei sendo trancada naquele quarto imundo. Permaneci lá durante anos, e agora que estou livre aquele lugar volta para me assombrar.

Eu ouço gritos de agonia; a risada maldosa daquelas pessoas; e ainda sinto as marcas que me causaram, não apenas fisicamente, mas psicologicamente. Eles feriram a minha alma. Sinto-me quebrada; sem esperanças. É como se esse fosse meu último suspiro. Dor alguma é maior do que a dor de ser violentada sexualmente. Depois você acaba se sentindo um lixo; você passa a ter medo de tudo e de todos. Isso irá assombrar você pelo resto de sua vida.

Quando conheci Dylan e ele pareceu se preocupar comigo e ofereceu-me abrigo, eu fiquei extremamente feliz por dentro. Pena que eu não pude demonstrar tal sentimento, depois de conhecer apenas o sentimento da dor eu acabei me tornando fria. Meu coração virou uma pedra de gelo difícil de se perfurada. Nunca ninguém havia se importado com o meu bem estar. Dylan parecia ser um bom rapaz, embora eu ainda fique um pé atrás com ele. Depois que você sofre maus tratos, você passa a desconfiar do mundo. Você passa a achar que todas as pessoas irão querer causar-lhe dor. Você passa a ver apenas a maldade nas pessoas. Tudo na sua mente se torna escuro. E um borrão impede que você veja as coisas com outros olhos. Digo por experiência própria. Minha vida se tornou perturbada, não consigo sair na rua como qualquer outra pessoa. Os meus medos acabam aparecendo para me assombrar. Sempre acho que as pessoas estão querendo me fazer mal. Eu não tenho mais paz interior. Minha cabeça gira.

O que fazer com a minha mente perturbada?

~ X ~

Violet estava deitada na cama, olhando para o teto. A jovem estava perdida em meio aos seus pensamentos e lembranças. Era por volta das cinco horas da manhã e ela ainda estava acordada. Estava assustada, como sempre. Seus pesadelos haviam voltado, como fazem todas as noites. E só de pensar que teria que ficar sozinha em casa, já que Dylan tinha que ir trabalhar; seu corpo estremecia e um nó se formava em sua garganta impedindo que respirasse. Ela se debateu incontrolavelmente sobre a cama em busca de ar. Assustada, Violet se levantou da cama e correu até o quarto de Dylan, entrou no mesmo sem bater na porta. Ela se aproximou da cama do rapaz e o chacoalhou com força, ele acordou assustado e assim que olhou para o lado se deparou com a garota caída no chão.

- Violet! - ele deu um pulo da cama e a tirou do chão, colocando-a deitada em sua cama. - O que foi?

- Fal... Fal... Falta... De... De... Ar. - ela disse engasgado.

- Vou levá-la ao hospital. - ele disse e foi até o guarda-roupa pegar um casaco.

- Não. - ela disse rouca. - Não gosto de hospitais. A minha bombinha de ar, ela ficou em seu escritório. - ela disse rouca e em seguida caiu com a cabeça no travesseiro.

- Ok. Vou pegá-la. - ele saiu correndo do quarto, entrou no escritório, pegou a bombinha que estava em cima da sua mesa e voltou correndo para o quarto. - Aqui está. Consegue levantar a cabeça?

- Acho que não, me sinto fraca. - ela disse tentando se levantar, mas voltou a cair deitada na cama.

- Calma, eu te ajudo.

Dylan apoiou as costas e a cabeça da garota com um braço e uma mão, com a outra mão ele segurou a bombinha de ar e ajudou Violet usá-la, apertando o botão para que saísse o remédio. Depois de alguns segundos, Dylan colocou Violet novamente deitada na cama e guardou a bombinha de ar na primeira gaveta do criado-mudo.

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