Capítulo 2

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Cheguei em casa com um sorriso notável, bati a porta, sentindo cheiro de carne queimada. Corri para a cozinha e vi minha mãe lutar contra o fogão.

— Mãe?

— Oi, meu bem! — Ela sorriu.

— O que está fazendo?

— Nosso almoço.

— Vamos comer carvão?

— Já está bom? — Ela me olhou.

— Já, mãe... — Corri para desligar o fogão.

— Opa. Você está sorrindo. — Ela apontou. — Gosto de sorrisos. Me conte.

Tirei a mochila das costas e me sentei ao balcão.

— Conheci uma garota hoje — contei —, e ela foi muito legal comigo. Ela é líder do clube do livro e me chamou para andar com a turma dela.

— Ah! Que incrível! — Mamãe sorriu largamente.

— Sim. Eles vão se encontrar numa lanchonete hoje às seis para falar sobre o meu escritor favorito e me chamaram para ir com eles — contei, e minha mãe parou de sorrir. — Eu disse que ia, mas preciso de...

— Você não vai... — mamãe me interrompeu.

— Como é? — Franzi o cenho.

— Ravena, você leu o jornal? — Ela pegou o jornal, jogando na minha frente e me fazendo ver aquela manchete de novo. — Não vou deixar você sair com Seattle neste estado.

— Mas, mãe! — Eu me levantei. — Pela primeira vez em muito tempo, eu consegui falar com alguém que não tenha me olhado e começado a rir.

— Ravena, Seattle está perigosa...

— Mas não vou muito longe.

— Não vai sair durante a noite.

— Eu não vou demorar! — Já estava gritando.

— Você não vai! — ela insistiu. — Fale com eles e explique que...

— Eu odeio minha vida! — berrei e fui para o porão.

— Ravena! — Minha mãe veio atrás de mim.

Passei a chave na porta, deixando que minha mãe batesse sem obter respostas.

Comecei a jogar as coisas que estavam amontoadas ali; minha raiva era tão grande, que as lágrimas caíam sem que eu pudesse evitar. Como minha mãe tinha coragem de me privar assim? Eu nunca tive uma chance dessas, de sair com amigos, de finalmente ter uma turma. E então ela não permite? Ódio!

Não sei quanto tempo se passou. Eu estava deitada no chão, olhando para a luz do sol que entrava pela janela, o ambiente cheirava a poeira, água e mofo. O sol não estava tão quente e parecia estar sumindo, então deduzi que o dia já estava acabando.

— Ravena... — Ouvi minha mãe chamar no andar de cima. — Estou indo para o trabalho. Por favor, querida. Me desculpe.

Fiquei em silêncio e então ouvi seu suspiro: os passos se afastaram e então a porta se fechou. Ela saiu.

Olhei para a janela novamente, vendo o sol ficar mais fraco à medida que entrava no cômodo, pegando nas pontas dos meus cabelos. Eu sabia que parte da razão de minha mãe não deixar eu sair era pelos assassinatos, mas eu não iria tão longe. Era como ir à escola. Se isso fosse desenho animado, uma lâmpada se acenderia na minha cabeça; talvez minha mãe não precisasse saber que eu havia saído, eu podia ir e voltar antes que ela chegasse.

O Destino De Ravena: O Palácio de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora