— Mãe! — entrei batendo a porta com força. — Mamãe!
O coração não tinha se acalmado, muito menos eu tinha vindo mais tranquila para casa. E naquele momento, eu só queria chorar no colo da minha mãe, até me convencer de que tudo não havia passado de um pesadelo. Olhei para minhas roupas sujas e para a perna ralada, que confirmavam que tudo tinha sido real.
— Meu Deus! — Chorei mais. — Como...? O quê?
Eu não conseguia respirar. Não podia simplesmente dizer que vi um orc comendo uma garota em um beco escuro, ninguém acreditaria.
Olhei para o relógio — 21:05, minha mãe já ia chegar. Manquei até o banheiro, decidida a tirar os vestígios de fuga e quase morte do corpo. A água entrou em contato com a ferida, me fazendo rosnar de dor. Não foi um ferimento tão fundo, mas ainda sangrava. Eu me limpei ao máximo, notando que havia ficado com o sangue da garota nas minhas roupas também.
Tenho que queimar essas roupas...
Saí do banho e fiz um curativo bem rápido na perna. Em seguida, vesti minha calça de pijamas e um moletom. Queimei as roupas em uma panela, sentindo que isso não deixaria minha mãe preocupada depois.
Estava sentada no sofá, com as mãos em volta de uma xícara de chocolate quente, quando minha mãe passou pela porta, tirando o cachecol e o pendurando. Seus olhos vieram em minha direção, e um sorriso meigo cresceu em seus lábios.
— Ainda acordada? — ela perguntou
— Estou sem sono... — murmurei, tomando o chocolate, que ficou com gosto de poeira.
— Ah... — Ela veio até mim e beijou minha testa. — Você está gelada.
— Está frio... — Olhei para ela.
— Hum. Trouxe uma rosquinha para você! — Ela me entregou o embrulho de papel, era da loja de doces onde ela trabalhava.
— Obrigada...
— Que houve, Ravena? Ainda é pelo clube do livro?
— Não! — respondi rapidamente. — Eu só... É... Estava subindo as escadas do porão e acabei tropeçando... machuquei a perna.
Ótimo improviso, Ravena...
— Se machucou? — Ela se aproximou mais. — Deixa eu ver!
— Calma, mãe... — Bufei, deixando a xícara de lado, indo até minha perna e puxando a calça para cima, para que ela pudesse ver. — Aqui está.
— Que arranhado feio, filha! — Ela me olhou assustada. — Como foi essa queda?
— Deixa pra lá — pedi. — Só estou cansada e mancando.
— Podia ter me ligado — comentou, indo até a cozinha.
— Só foi um arranhão.
— Do tamanho da mão de um orc — disse, fazendo com que meu coração desse um salto.
— O quê?
— Modo de falar, filha — ela se defendeu. — Quis dizer que foi um arranhão grande.
— Mas por que falou em orc? Já ouviu falar nisso?
— Eu estudei também... — Ela riu. — Por que o susto?
— Não gosto dessas histórias — encurtei.
— Ah, é bom mesmo.
— Vou dormir... — Eu me levantei, sentindo a perna doer — Boa noite.
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O Destino De Ravena: O Palácio de Cristal
Fantasi"E agora,para milhões de pessoas, nós somos apenas mitos? Isso não nos deixa à beira do esquecimento?" Ravena Gwin tem 16 anos e vive em Seattle com a mãe; para uma adolescente,as únicas preocupações deveriam ser espinhas, puberdade e rivais. Porém...