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sexta-feira, 15 de julho de 1994

Leytonstone e Isle of Dogs

Harry Styles come bem e bebe com moderação. Dorme oito boas horas por noite e acorda prontamente e por iniciativa própria pouco antes das 6h30 e toma um copo grande de água, os primeiros 250 mililitros do 1,5 litro diário, que despeja da moringa, com copos combinando, que fica numa prateleira banhada pelo sol fresco matinal perto da cama de casal.

O rádio-relógio segue tiquetaqueando, mas ele se permite continuar na cama ouvindo as manchetes do noticiário. O líder do Partido Trabalhista, John Smith, morreu, e a reportagem é sobre o funeral na Abadia de Westminster, com respeitosas homenagens dos dois partidos ao "melhor primeiro-ministro que já tivemos", além de uma discreta especulação sobre quem o substituirá. Mais uma vez, pensa na possibilidade de se filiar ao Partido Trabalhista, agora que seu registro na CND já expirou faz algum tempo.

Mais notícias sobre a interminável Copa do Mundo fazem com que ele saia da cama. Afasta o edredom de verão, põe seus velhos óculos de aros grossos, espreme-se pelo estreito corredor entre a cama e as paredes, vai até o banheiro e abre a porta.

— Um minuto!!

Fecha a porta imediatamente, mas mesmo assim não pode deixar de ver Nick Grimshaw debruçado na privada.

— Por que você não tranca a porta, Nicholas? — grita em frente ao banheiro.

— Desculpe!

Harry volta para a cama meio impaciente e ouve a previsão do tempo para as lavouras. Ao fundo, o som de uma descarga, outra descarga, um som de buzina que indica que Nick assoa o nariz, depois outra descarga. Afinal ele aparece na porta, o rosto vermelho e sofrido. Está sem cueca e veste uma camiseta que mal chega ao quadril. Nenhum homem no mundo ficaria bem num traje daquele, mas Harry faz um esforço consciente para manter os olhos focados no rosto. Nick exala lentamente pela boca.

— Puxa. Foi uma experiência e tanto.

— Está se sentindo melhor? — Tira os óculos, só para se garantir.

— Não muito. — Faz uma expressão amuada, as mãos esfregando o estômago. — Agora estou com dor de barriga. — Ele fala com uma voz lenta, cheia de dor, e, apesar de achar Nick incrível, alguma coisa na expressão "dor de barriga" faz com que Harry tenha vontade de bater a porta na cara dele.

— Eu disse que aquele bacon estava estragado, mas você não acreditou...

— Não foi isso...

— Ah, sim, você acha que bacon não estraga. Que bacon é defumado.

— Acho que é algum vírus...

— É, pode ser essa virose que está circulando por aí. Todo mundo na escola pegou, talvez eu tenha passado para você.

Nick não nega.

— Eu não dormi a noite toda. Estou me sentindo péssimo.

— Eu sei, querido.

— Diarreia misturada com catarro...

— É uma combinação imbatível. Como música à luz do luar.

— E eu odeio esses resfriados de verão.

— Não é culpa sua — comenta Harry, sentando-se.

— Imagino que seja uma virose gástrica — diz Nick, deliciando-se com a sonoridade das palavras.

— Soa bem, virose gástrica.

— Estou me sentindo tão... — Punhos cerrados, procura uma palavra que resuma a injustiça daquilo tudo. — Tão... entupido! Não posso ir trabalhar desse jeito.

One Day || Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora