sábado, 15 de julho de 1995
Walthamstow e Soho
Retrato em carmim
Um romance de Harry T. Wilde
Capítulo 1
A chefe de polícia Penny de Tal já tinha visto algumas cenas de crime na vida, mas nunca uma como aquela.
— Levaram o corpo? — perguntou.
As palavras cintilavam no verde bilioso da tela do processador de texto, resultado de uma manhã inteira de trabalho. Sentado na pequena carteira escolar no quartinho dos fundos do minúsculo apartamento novo, Harry leu aquelas palavras, depois leu outra vez, enquanto atrás dele o aquecedor a óleo borbulhava em tom de deboche.
Nos fins de semana, ou à noite, quando conseguia ter energia, Harry escrevia. Já tinha começado dois romances (um passado num gulag, outro num futuro pós-apocalíptico), um livro infantil que ele própria ilustraria, sobre uma girafa de pescoço curto, um teledrama amargurado e revoltado sobre militantes dos direitos humanos chamado "Bela merda", uma peça de teatro sobre a complexidade da vida emocional de jovens de vinte e poucos anos, um romance fantástico para adolescentes cujos professores eram robôs malignos, um monólogo radiofônico sobre uma sufragista moribunda, uma história em quadrinhos e um soneto. Nada havia sido concluído, nem mesmo os catorze versos do soneto.
Aquelas palavras na tela representavam seu projeto mais recente, uma tentativa de escrever uma série de romances policiais comerciais e discretamente feministas. Aos onze anos Harry já havia lido tudo de Agatha Christie, depois também leu muita coisa de Raymond Chandler e James M. Cain. Parecia não haver razão por que não pudesse tentar alguma coisa do gênero, mas estava percebendo mais uma vez que ler e escrever não eram a mesma coisa: não se podia simplesmente absorver tudo e regurgitar. Viu-se incapaz de pensar num nome para sua investigadora, sem falar de um enredo coerente original, e até mesmo seu pseudônimo era fraco: Harry T. Wilde? Será que estava condenado a ser uma daquelas pessoas que passam a vida tentando fazer coisas? Já tinha tentado formar uma banda, escrever peças e livros infantis, ser ator e arranjar emprego numa editora. Talvez o livro policial fosse apenas outro projeto destinado ao fracasso, a ser encostado ao lado do trapézio, do budismo e do espanhol. Usou a ferramenta de contagem de palavras do processador. Trinta e sete palavras, incluindo o título e seu péssimo pseudônimo. Harry deu um gemido, soltou a alavanca hidráulica da cadeira de escritório e afundou para mais perto do tapete.
Alguém bateu na porta de compensado.
— Como vão as coisas no pavilhão Anne Frank?
A mesma frase outra vez. Para Nick as piadas não eram um item para usar apenas uma vez, mas algo que utilizava até se desfazer na mão como um guarda-chuva barato. Quando se conheceram, noventa por cento do que Nicholas dizia vinha sob o rótulo de "humor", porque sempre envolvia um trocadilho, uma voz engraçada, alguma intenção cômica. Com o passar do tempo Harry esperava que aquilo diminuísse para quarenta por cento, o que seria uma redução aceitável, mas quase dois anos depois o número permanecia em torno de setenta e cinco por cento, e a vida doméstica continuava ao som daquele rumor de comicidade. Será que era realmente possível alguém continuar tão "ligado" durante quase dois anos? Harry tinha conseguido se livrar dos lençóis pretos dele, dos descansos de copos de cerveja, selecionado suas cuecas e até reduzido os seus famosos "churrascos de verão", mas parecia estar chegando ao limite do quanto é possível mudar um homem.
— Que tal uma bela xícara de chá para o conde? — perguntou com a voz de um serviçal do subúrbio.
— Não, obrigado, querido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
One Day || Larry Stylinson
FanfictionVocê pode passar a vida inteira sem perceber que aquilo que procura está bem na sua frente. Louis Tomlinson e Harry Styles conheceram-se em 1988. Ambos sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes...