Senso de Humor

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quinta-feira, 15 de julho de 1993

Parte dois – A história de Harry

Covent Garden e King's Cross

Nicholas Grimshaw estava sozinho numa mesa para dois na filial do Forelli's de Covent Garden, quando olhou para o relógio: quinze minutos de atraso, mas imaginou que fosse parte do exótico jogo de gato e rato de um encontro. Bem, que o jogo comece. Molhou o pão ciabatta no pratinho de azeite de oliva como se estivesse umedecendo um pincel, abriu o cardápio e verificou quais pratos estavam dentro das suas possibilidades.

A vida de comediante de stand-up ainda não tinha trazido a riqueza e a exposição prometidas na TV. Se os jornais de domingo alardeavam que o humor era uma nova onda, como o rock and roll, por que ele ainda batalhava para fazer apresentações gratuitas no Sir Laffalots nas noites de terça-feira? Já tinha adaptado seu repertório para se encaixar na tendência atual, retirando o material político e empírico e enveredando pela comédia de costumes, surrealismo, canções cômicas e esquetes. Mas nada parecia fazer o público rir. Uma tentativa de se adotar um estilo mais agressivo tinha provocado murros e chutes, e seu curso com uma equipe de comediantes aos domingos à noite só havia provado que ele não conseguia ser engraçado quando se manifestava de forma espontânea e improvisada. Mas Nick continuava na batalha, indo e voltando pela Northern Line, rondando as imediações do Circle em busca das boas risadas.

Talvez houvesse algo no nome "Nicholas Grimshaw" que dificultasse a escrita em néon. Já tinha até considerado trocá-lo por um nome mais divertido, jovial e monossilábico — Ben, Jack ou Matt —, mas em meio a essa busca de sua verdadeira essência artística teve de aceitar um emprego na Sonicotronics, uma loja de artigos eletrônicos na Tottenham Court Road, onde jovens pálidos de camiseta vendiam memória RAM e processadores gráficos para outros jovens pálidos, também de camiseta. O salário não era grande coisa, mas tinha as noites livres para suas apresentações, e muitas vezes fazia os colegas rirem com suas piadas mais recentes.

Mas o melhor da Sonicotronics, a melhor coisa que aconteceu, foi ter topado com Harry Styles na hora do almoço. Nick estava na porta de um escritório da Igreja de Cientologia, decidindo se fazia ou não um teste de personalidade, quando avistou Harry, quase escondido atrás de uma grande cesta de roupa suja; ao abraçá-lo, a Tottenham Court Road iluminou-se gloriosa e transformou-se numa rua de sonhos.

No segundo encontro, lá estava ele num elegante e moderno restaurante italiano perto de Covent Garden. O gosto de Nick tendia mais para o apimentado e os temperos fortes, o salgado e o crocante, e ele teria preferido um curry. Mas sabia o suficiente sobre os caprichos da alma masculina para deduzir que Harry iria querer verduras e legumes frescos. Olhou para o relógio de novo — vinte minutos atrasado — e sentiu uma pontada no estômago, que em parte era fome, em parte, amor. Havia anos seu coração e seu estômago estavam pesados de amor por Harry Styles, e não era apenas amor platônico sentimental, mas também um desejo carnal. Depois de todos esses anos, ainda guardava — lembraria para o resto da vida — a imagem dele só com as roupas de baixo, no vestiário do Loco Caliente, iluminado por uma nesga do sol da tarde que parecia a luz de uma catedral, gritando para ele sair e fechar a maldita porta.

Sem saber que Nick estava pensando nas roupas de baixo dele, Harry Styles o observava ao lado do maître, notando que ele realmente estava mais bonito. A coroa de cabelos crespos e compactos tinha desaparecido, agora aparada bem curta e ligeiramente alisada com um pouco de gel, e também tinha perdido aquele ar de "garoto recém-chegado à cidade". Na verdade, não fosse pelas roupas terríveis e pela forma como sua boca pendia sempre aberta, ele até seria atraente.

One Day || Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora