O Quarto ao Lado

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Tudo começou em minhas últimas férias de verão do colégio. Faltava pouco para me formar e então iria para a faculdade. Eu e meus pais até já tínhamos escolhido as melhores, pois enviei várias cartas e estávamos ansiosos pelas respostas. Minha mãe estava radiante e meu pai, apesar de não demonstrar, também estava feliz por minhas conquistas.

O que não sabíamos é que tudo iria mudar naquelas férias. O que eu não sabia é que minha vida daria uma volta tão imensa que me levaria a vir parar aqui, veja bem que ironia...

Enfim, voltando ao que realmente interessa, a irmã da minha mãe, a Nelly, disse que viria nos fazer uma visita e traria o filho, no caso meu primo, para espairecer. Desde que o seu marido tinha morrido, Jayden estava depressivo e muito calado, ela esperava que a convivência com outras pessoas pudesse fazer bem a ele. Até fiquei feliz com a visita da minha tia e do meu primo, quase dois anos mais novo que eu. Esperava que pudesse ajudar o Jayden e na verdade estava ansiosa para conhecê-lo. Só tinha visto meu primo quando ele não passava de uma criança de colo e eu também não era assim tão mais crescida.

Minha tia morava na Califórnia e por isso era bastante raro nos encontrarmos, às vezes ela viajava a negócios e fazia uma visita rápida, mas Jayden nunca estava junto, então digamos que a expectativa estava nas alturas e eu realmente queria muito vê-lo.

O esperado dia chegou, fomos buscá-los no aeroporto e fiquei surpreendida em ver o quanto minha tia tinha emagrecido. Não que ela fosse gorda, mas estava parecendo uma modelo de biquíni e como era bem mais alta que minha mãe, praticamente a ofuscava. Não pude deixar de notar que o meu pai estava a olhando de uma forma bem maliciosa e fiquei extremamente irritada com ele por isso. Com certeza teríamos uma conversa séria depois. Porém, não tive tempo de me empertigar com isso, pois meu primo apareceu e como estava muito curiosa, senti até uma palpitação e armei o meu maior sorriso, que foi ignorado com sucesso.

Jayden não era nenhum pouco simpático e também não fazia o tipo garoto bonitinho e pegador. Na verdade, ele era bem esquisito. Tinha um cabelo escorrido no rosto de uma tonalidade que puxava para o castanho escuro e seus olhos igualmente escuros faziam com que sua pele parecesse ainda mais pálida. Céus, o garoto vinha da Califórnia e mais parecia um vampiro da Transilvânia! Onde estava o estilo surfistinha bronzeado?

Quando minha tia percebeu nossos olhares de decepção, principalmente o meu, pois não fiz questão de ser discreta, deu um belo cutucão em Jayden e o fez nos cumprimentar. Já estava tão desanimada com o garoto que só lhe apertei a mão rapidamente e disse que já ia para o carro.

— Ana, você está ótima, minha querida! — Tia Nelly engatou uma conversa animada com minha mãe que respondia a tudo com o mesmo entusiasmo.

Sentei no banco de trás junto com ela e minha mãe, enquanto o emburradinho foi na frente com meu pai. Estava quase pulando do carro quando finalmente chegamos em casa e pude me livrar da tagarelice das duas. Pelos deuses, como falavam!

Naquela noite, eu tinha uma festa na casa de uns amigos do colégio e iria com meu namorado. Sim, eu tinha um namorado e o nome dele era August, mais conhecido como Angus, porque ele tinha fama de ser irritadinho, aí resolveram juntar August com angry e ficou Angus. Enfim, eu tinha essa festa para ir e estava superinteressada em comparecer, pois seria na casa de Thomas Larsey e ele sabia mesmo como dar festas. O cara era rico e não media esforços em fazer algo surpreendente, principalmente se os seus pais não estivessem em casa. Estávamos de férias, todo mundo poderia ficar até tarde, então imaginei que seria o acontecimento do ano!

Mal chegamos e eu já subi me arrumar, deixando todo mundo para trás e simplesmente deletando a presença do meu primo da minha cabeça. Escolhi um shorts curto e uma blusa preta folgada com mangas caídas nos ombros, para completar, alisei o cabelo e botei um salto mediano. Ir a uma festa sem salto... jamais! Passei uma maquiagem razoável e completei com batom vermelho, minha marca registrada. Ah, claro, esqueci-me de mencionar que sempre fui bonita e cobiçada pelos carinhas da escola. Diziam que isso se devia ao fato de eu ser uma garota curvilínea e dona de um belo par de olhos verdes, herdados do meu pai. A cor dos meus olhos combina com o cabelo ondulado preto e o tom de pele mais puxado para o moreno que herdei da minha mãe, que era mulata, assim como minha tia Nelly.

Pronta para a noitada, desci os degraus da escadaria de dois em dois e estava com um sorriso digno de propaganda de TV quando adentrei a sala e perguntei para minha mãe o que ela achava. Meu pai me olhou torto, odiava que eu usasse roupas curtas, mas minha mãe deu um joinha em aprovação e fez mil observações antes de eu sair, o que deu tempo de minha tia aparecer com o filhotinho de cruz-credo, vulgo meu primo, e perguntar se eu podia levar o Jayden junto comigo.

— Mas... ele não conhece ninguém! — tentei argumentar, o que fez minha tia praticamente empurrar o garoto na minha direção.

— Uma ótima oportunidade até mesmo para vocês dois se conhecerem melhor, por favor, Charlie, faz isso por sua tia, vai!

Droga! Minha noite estava, definitivamente, arruinada. Meu primo com aquela sua cara simpática ia espantar todo mundo da festa, sem falar que eu ia com meu namorado e Angus ia ficar furioso de ter um vela com cara de velório atrás da gente.

— Ta bom, tia... vamos então, Jayden? — falei aquilo com gosto amargo na boca e o carinha só levantou os ombros e foi seguindo em direção à porta, como se eu nem existisse.

Ótimo!

Talvez se eu não tivesse aceitado levar o Jayden na festa, tudo seria diferente hoje, mas fazer o que? Eu fiz uma escolha e hoje vejo que foi péssima!