3

378 33 10
                                    


Febre alta.

Foi isso que resultou a brincadeirinha do Jayden em me deixar vir embora na chuva.

Quando acordei, estava tremendo de frio e mesmo assim estava suando. Minha mãe ficou superpreocupada e tratou logo de me pôr no carro e insistiu para que fôssemos ao médico. Eu argumentei dizendo que era só um sintoma de gripe, mas minha mãe era exagerada... Eu devia ter insistido mais.

Enquanto ela dirigia pela avenida movimentada onde se localizava o hospital, eu no banco de trás e minha mãe no motorista, algo inesperado aconteceu. Um carro entrou na contramão e bateu no carro à frente do nosso que, por sua vez, com o impacto, veio para cima do nosso carro e simplesmente entrou na nossa frente. Tudo aconteceu muito rápido... Não consigo me lembrar da sucessão dos fatos. Sei que escutei mais um impacto com o nosso veículo e depois acordei no hospital com um monte de caninho no meu nariz e nas minhas veias.

A primeira pessoa que vi foi Jayden. Não estou brincando. O garoto estava lá, sentado numa poltrona de maneira desconfortável e parecia estar dormindo. Não tinha mais ninguém no quarto e eu senti uma pontada na cabeça quando tentei me mexer. Fui tomada pelo desespero, queria saber onde estava minha mãe e o que tinha acontecido, então, a solução foi chamar pelo meu primo.

— Jayden? — Minha voz saiu baixa e cortada, doía muito a garganta para falar. — Jayden, acorda! — insisti.

Ele se mexeu na poltrona e se espreguiçou por um longo minuto, depois olhou para mim e quando me viu acordada, juro, os seus olhinhos até brilharam e ele se levantou imediatamente, vindo em minha direção.

Jayden estava usando uma camisa inteiramente preta, calças da mesma cor e um sapato social. O seu cabelo escorrido estava penteado para trás, o que o fez parecer mais velho e seus olhos estavam avermelhados... Jayden tinha chorado?

— Você acordou — disse, quase como se estivesse me contemplando e passou a mão no meu rosto, em forma de carinho. Céus, o que estava acontecendo com aquele moleque doido?

— O que aconteceu, Jayden? Por que estou aqui? — Havia emergência em minha voz. Um sentimento muito ruim começou a se apoderar de mim e então me lembrei do acidente... — Onde está a minha mãe?

— Charlotte, a tia Ana... — Ele travou. Lágrimas começaram a rolar pelos seus olhos e fui tomada por um choque de percepção. Aquilo só podia significar que...

— Não! Onde está a minha mãe? Pare de brincadeira, Jayden — bradei, sentindo as lágrimas brotarem involuntariamente nos meus olhos.

— Sinto muito, acabei de voltar do enterro. O tio Robert está inconsolável e minha mãe está cuidando dele.

Já não ouvia mais as palavras do Jayden, comecei a chorar sonoramente e todo o meu corpo doía por conta do esforço. Minha vontade era sair correndo, por isso comecei a tentar tirar os canos e agulhas do meu corpo e meu primo apertou o botão da emergência, assustado com minha reação. Não muito tempo depois, a sala foi invadida por um monte de gente de branco que me contiveram rapidinho, botando-me para dormir de novo.

A culpa de tudo aquilo era do Jayden e da sua gracinha em me deixar na festa.

Eu o odiava.

Nem pude me despedir da minha mãe.

O Quarto ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora