Capítulo 1

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Não vi que teríamos neve no noticiário . Mas aqui ainda é Oregon, sempre neva. A idiota sou apenas eu.

O carro está deslizando pela estrada e não posso -não devo- acelerar. Por mais atrasada que esteja. Eu não posso dar uma de Vin Diesel no Velozes e Furiosos para escapar a tempo, no meu caso, chegar a tempo.

Hoje é o jantar de despedida de meu grupo de amigos do Ensino Médio.
Alguns estão indo para a faculdade então não nos veremos por um bom tempo porque as melhores faculdades estão de Portland em diante e não aqui na nossa cidadezinha fora do mapa.

Eu também deveria estar indo. Ganhei bolsa em Seattle porém, meus pais disseram que só poderei ir no segundo semestre caso eu ainda queira ir. De início, achei tudo um absurdo afinal, porque eu negaria a bolsa? Eles tiverem que prometer que eu vou entrar no próximo semestre e então pude relaxar.

Meu pai foi quem falou durante nossa pequena reunião em família -inclusive meu namorado estava- Ele explicou que todos de nossa família antes de irem para a faculdade passam alguns meses estudando a nossa própria origem e que comigo não seria diferente porque é tradição.

Meu namorado estava na reunião por um motivo ; Ele não faz faculdade.
Dan trabalha pro meu pai. Na fábrica.
E o pai de Dan, o Sr. Caleb , também -ele é muito amigo do meu pai.

As duas famílias são muitos unidas. Inclusive moramos perto. Por isso, as vezes penso que Dan me namora por obrigação. Porque eu pensaria uma coisa dessas do meu namorado? Não é que ele não me ame ou coisa do tipo, Dan me ama e é notório mas... Nossa! Dan é perfeito. Lindo. Nada grudento. Compreensivo. Tem conversa. Sabe bem como tratar uma garota.
Qualquer coisa que eu lhe peça, ele faz - teve um verão em que fizemos aulas de dança juntos, logo saímos porque eu sou péssima dançando e o Dan arrasava.

Nós namoramos há 2 anos.
Logo que ele saiu do colégio e passou a frequentar minha casa percebi os olhares e não consegui acreditar que um dos garotos mais populares de Windmill estava interessado em mim.
Ele me pediu em namoro rápido , nossos pais ficaram muito felizes. Muito mesmo.

Viro a curva um pouco derrapante e do nada, alguém entra na estrada e o acerto em cheio .

-AH ! - Grito pisando no freio vendo o homem sentado. Ele caiu. Eu atropelei alguém! - Ah meu Deus! - Berro nervosa.

Desco do carro num pulo.
Os pinheiros se agitam com as rajadas de vento.
Dentro do carro, com o aquecedor ligado, não imaginei que estivesse tão frio.

Corro para a frente do carro, iluminado pelos faróis o rapaz - não é velho - se levanta . Ele passa as mãos pela jaqueta e em seguida no jeans , removendo a neve.

-Você se machucou?!- Pergunto procurando sangue no rosto dele.
A pele de porcelana do garoto pareçe brilhar diante dos faróis. Grandes olhos azuis confusos fixados nas árvores nos limites da estrada. Lábios arroxeados pressionados numa linha fina.

Windmill é pequena. Sim. Mas sei que há gente que não conheço. Só que como eu não conheço esse cara? Ele é jovem. Deve estudar. Como nunca o vi?

-Você está bem?- Pergunto mais calma e lentamente, ele pode ter danificado a audição quem sabe.

Ele funga e cospe na neve.
Olha para mim pela primeira vez mas não dura nem um segundo.

-Sua testa. - Ele diz meio ríspido.

Minha testa?

Levo os dedos a testa e me retraio ao tocar a parte superior da sobrancelha esquerda.

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