Capítulo 6

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- Ei amor - Dan coloca a mão na minha coxa nua. Ele está quente. - Você não pareçe feliz.

Sorrio para ele passo os olhos nas pessoas que jantam conosco.
Meus pais, Caleb, tio Harry e a namorada Ádele que é poucos anos mais velha que eu.
Era pra ser um jantar de véspera de Natal muito animado. Está sendo, para eles.

-Eu estou. - Sussurro pegando a taça de vinho com baixo teor alcoólico. - Estou ótima Dan. - Afasto minha coxa do aperto dele e lhe olho nos olhos - Vou ao banheiro.

Levanto e papai me olha parando a conversa sobre quando o vovô contou a história dos Caídos para ele e pro tio Harry .

-Com licença. - Murmuro educadamente , ele ainda me olha esperando a confirmação de que voltarei - Volto já.

Mamãe sorri para mim.
Ela está tão linda hoje. Todos estão.
As melhores roupas. Conversa leve. Sorrisos fixos. O Natal derepente me pareçe uma farsa total. As pessoas não andam celebrando direito.
As coisas estão erradas.

Subo as escadas tentando abafar o som dos saltos, sem muito sucesso.
Esse sapato é alto demais para mim e é rosa. Rosa vibrante. Presente da Ádele que esteve na França no início do mês e comprou lembrancinhas para todos os Vollute.
Tio Harry nunca havia trazido uma namorada mas Ádele é especial, nota-se pelo olhar dele em cima dela.
Ádele é uma das mulheres mais lindas que vi na vida. Se não for a mais linda. Tem cabelos louros muitos claros, lisos , enormes e bem partidos no meio. O rosto dela lembra muito o da Angelina Jolie, é impressionante! Os lábios são bem preenchidos e os olhos são azuis desbotados, como os de um cego. Ela é linda e muito simpática. Todos gostamos dela.

Entro no meu quarto buscando ar.
O meu cheiro está em toda parte mas a aparência de quarto intocado é minha marca registrada. Tudo está no lugar.

Ando até a penteadeira e paro diante do espelho.
Consigo ver o vestido e minhas pernas. Não é um vestido que eu compraria mas mamãe me fez prometer que o usaria.
Ele é preto e de um tecido novo para mim, fino e suave. O decote da frente e das costas são um X, que é formado pelo caimento do tecido. Me sinto com os seios expostos demais porém todos aprovaram a roupa.
O comprimento vai ao meio das coxas onde ele é justo. Minha cintura e quadril estão marcados de forma que geralmente não aprovo.

Era pra eu me sentir bonita mas estou me sentindo falsa.
Não sou eu. Não é a roupa que eu compraria. Não são os sapatos que eu usaria. Não estaria nem de maquiagem. Ou muito menos teria usado produto nos cabelos.

Sento na beirada da cama tirando os sapatos.

***

Derek Mountain

Natais assim são raros.
Fui a um restaurante italiano pela manhã e encomendei o banquete tradicional. Custou uma nota mas tudo está aqui na mesa. Purê de batatas, salada bastante colorida, o peru ... O vinho. E a minha mãe. Do outro lado da câmera mas ainda está comigo. Estamos pelo Skype. Comendo exatamente as mesmas coisas, conversando como se estivéssemos na mesma mesa com consciência de que não estamos. Ela ainda está em San Francisco porém agora estou fazendo de tudo para acreditar que ela está aqui, em Portland.

-Acho que para mim está bom. - Ela diz bebericando o vinho. Os cabelos louros presos num coque e o vestido de festa dourado indicam de que ela também tenta fazer tudo com normalidade, que comigo e Eliot longe ela ainda consegue viver. - Ainda tenho que ir a missa hoje, não posso exagerar no vinho e você sabe como é... Agente bebe, lembra, sente falta... Bebe mais... - A voz dela some mas o sorriso fraco permanece - Eu te amo Derek.

A sensação de ouvir isso estando longe é a mesma de frear bruscamente e bater a testa no volante, talvez mais.

-Eu te amo mãe. - Sorrio - Não vejo a hora de estar com você . De voltar pra casa.

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