Sky Ascending

Capítulo 2: Valores

Quando finalmente recobro minha consciência, estou pendurada na sela que Nia mandou que me colocassem. Os grilhões mantém meus braços fixados acima da minha cabeça na parede, mas meus pés estão livres. O que não é de grande ajuda. O lado da minha cabeça dói e pulsa, mas eu já lidei com dores bem piores. Embora, agora cada centímetro de mim doa por muitos motivos, principalmente pelo que concordei em fazer.

Talvez eu tenha feito coisas muito piores. Em TNDC ou em Mount Whater. Não consigo me decidir qual dos dois levou todo o resto de humanidade que eu tinha. Por tanto tempo tivemos receio dos terra-firmes, considerando-os completos selvagens, mas veja agora. O quanto sou diferente deles? Em muito pouco, eu penso. A nossa justificativa quase sempre é a mesma. Manter nosso povo a salvo e lutar por nossa sobrevivência.

Foi nisso que Lexa se agarrou para se decidir por um acordo com os homens da montanha. Não posso dizer que não faria o mesmo. Não sei o quão forte eu seria para negar. Mas, eu esperava mais de Lexa. Mais lealdade, cumplicidade, união. Principalmente, depois que ela havia se declarado a sua maneira para mim. Ela havia me beijado. Ela me questionou o que faríamos depois da guerra. O que eu deveria pensar disso se não que estávamos do mesmo lado? Mas no fim, quando realmente importava, ela não pensou em nós.

É o que farei também agora. Olhar para mim mesma e para meu povo. Mesmo sabendo que Nia não quer lutar por sobrevivência, mas por algum tipo de vingança com algo mais. Fico me perguntando por que ela precisa de mim para isso, por que precisa que seja feito na surdina. As engrenagens estalam no meu subconsciente com a resposta.

- Ela quer o povo e as terras de Lexa e deseja que confiem nela. Por isso, serei eu e não qualquer um deles. - sussurro para ninguém em especial.

Deixo-me escorregar um pouco pela rocha pontiaguda e meus pulsos doem quando forço para baixo. Embora eu diga que lutarei por meu povo, não sei em que nível aceitei isso para salvá-los da fúria de Nia. Eu saí do Camp Jaha para não ter que vê-los e lembrar dos rostos daqueles que decidi que iriam morrer na guerra. Droga, havia crianças naquele lugar! Só que não me arrependo inteiramente. Arrependimento não foi algo com o qual aprendi a lidar. E encarar isso me faz ter vergonha de mim mesma. Por isso as coisas não são mais fáceis.

O mesmo pensamento dá voltas em minha cabeça. Posso não estar fazendo isso integralmente por eles. Talvez seja uma maneira de me rebelar, aceitar que já não sou mais a mesma e, em outro patamar, por vingança. Por acaso, não culpo Lexa pelo que fui obrigada a fazer? O exército que tínhamos poderia muito bem ter tornado tudo mais simples e evitado todas aquelas mortes. Pode ser isso em primeiro lugar.

Por não ter outra escolha, eu acolho esse sentimento fervoroso. Precisarei de todo ele para me manter forte e pário para Lexa. Ela me disse a mesma frase várias vezes, me dando a pista que eu não quis ver: o amor é fraqueza. E me mostrar que isto é real pode ter sido a sua falha.

No dia seguinte, estou fraca, a ponto de desmaiar por inanição. Nia falou sério ao dizer que não me dessem qualquer alimento. Quase não posso manter-me de pé e em alguma hora durante a noite tombei e meus pulsos agora estão em carne viva. Encaro a maciça porta de madeira aguardando que alguém venha ter comigo. Eles não me deixarão morrer. Não assim. O pensamento me acalenta.

Meia hora depois, ainda estou observando a janela gradeada na porta. Não posso enxergar nada mais que a claridade de uma tocha distante e a parede de rochas do outro lado. Fecho meus olhos tentando manter-me firme. Ouço passos e, em seguida, um molho de chaves sendo agitado. Quando abro-os a porta é arregalada e estou encarando um homem. Fico o mais ereta possível para que ele não me tenha como fraca.

- Você tem sorte, garota do povo do céu. - ele rosna. - Eu não sei o que Nia viu em você, mas não vai durar. Seu povo não foi feito para isso.