Capítulo 4: Vislumbre

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Passasse mais uma semana até que a rainha aprove a minha ida até o Camp Jaha. Uma semana quer dizer: muitas lutas, embora nem todas ganhas; muito esterco sendo recolhido, ajudas na cozinha e até mesmo limpeza de toda a construção. Foram os dias mais exaustivos pelos quais já passei desde que estou na Terra. Muito mais cansativos do que planejar batalhas e estar nelas.

Mas se isso queria dizer que eu poderia ver meu povo novamente, então eu devia ir fundo. Contudo, eu estou ciente que não irei até eles sozinha. Não é uma volta para casa e definitivamente não é como se eu fosse de total confiança.

Fico me dizendo isso diversas vezes. Não tenho escolha. Não agora. Preciso de tempo e tempo ganha-se com paciência. Já é um grande prêmio poder vê-los mesmo que de longe. Meu peito se aperta com saudade e cada hora em que estou aqui e não lá é um suplício. Não posso estragar tudo agora.

Será que minha mãe estará lá me esperando? E Bellamy com todos os outros? Poderia ser possível que estejam bem? Fico imaginando que Lexa arrumou qualquer pretexto para atacá-los novamente e que estão todos mortos. Essas dúvidas vão me matar. Ainda bem que o dia de ter certeza é hoje.

Visto-me como me instruíram: uma camisa de mangas longas cinzenta com uma regata de couro por cima, uma calça de lona de um marrom desbotado, botas e a lança premiada pendurada nas costas. Eles me deram uma faca também para o caso de avistarmos o povo de Lexa rondando o Camp Jaha. Eles acreditam que eles não serão capazes de me reconhecer. Roan e Jót irão comigo para vigiar-me. Eles terão armas melhores a disposição. De alguma forma, me consideram perigosa o bastante para merecer dois guardas bem armados.

Uma criada de nome Guin faz linhas pelo meu rosto com algum tipo de tinta artesanal. Traços ao redor dos meus olhos que acentuam seus tons fazendo-os parecer profundamente azuis, linhas negras em minhas bochechas que assemelham-se a arranhões. Guin faz seu serviço em silêncio de forma meticulosa, não olha em meus olhos e parece-me distante. Permaneço em silencio enquanto ela trancei-a meu cabelo no costume padrão dos terra-firmes e as puxa em um coque preciso.

Eles querem me deixar o mais irreconhecível possível para o caso de alguém do meu povo me ver. É por isso que eles me vestem com roupas mais leves que pertenceram a inimigos capturados do clã de Lexa, assim ninguém saberá dizer que não sou uma deles. Nia não quer que saibam da sua existência antes da hora, então vamos nos passar por grounders do clã Trikru.

Ontem fui capaz de encontrar um pedaço de papel no meu quarto, embora muito pequeno, e roubei um pedaço de carvão da cozinha. Vai ter que servir. Quando Guin me deixa a sós tenho uns poucos minutos antes que Roan venha me buscar, então aproveito para escrever a mensagem.

"Sou eu. Clarke. Estou bem. Encontro-me..." Penso se forneço alguma ideia a eles de que sou prisioneira. Isso faria com que eles procurassem por mim. Nia poderia matá-los e eu nunca ficaria sabendo. Eles precisam se manter como estão, seja lá o que isso seja. Apago a última palavra. "Sou eu. Clarke. Estou bem. Encontrei um lugar para mim. Decidi algo que precisam saber. Matarei Lexa antes que ela resolva fazer o mesmo conosco. Estejam preparados, pois haverá retaliação. Não posso explicar-lhes tudo agora, mas esperem por mim. Só aguardem." O espaço na folha de papel acaba e escondo-a na minha roupa. Só posso esperar que entendam.

Lágrimas me vêm aos olhos. Frescas e dolorosas. A porta atrás de mim produz um estalido seco, alguém entra e não preciso virar-me para saber quem. Enxugo o rosto apressadamente antes de levantar-me.

- Vamos, Clarke. - chama Roan parado na soleira da porta. Tento encontrar algo em sua expressão que me faça sentir mais segura de que não é uma armadilha da rainha. Quem sabe o que ela tem em mente? Mas o rosto de Kange permanece incólume, lembrando-me vagamente Lincoln quando o torturávamos. Nada nele denunciava-o. De repente, tenho inveja.

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