Capítulo 3: Circunstâncias

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Duas semanas se passaram desde a luta com Jót. 14 dias em que cada segundo que me havia de sobra pensava no meu povo. Será que estão a minha procura? Minha mãe jamais se conformaria com a minha saída. Ela mpveria o mundo para vir atrás de mim. Bellamy estará mantendo vigia sobre os outros ou estará na floresta procurando meu rastro com eles? É o que se esperaria dele. Bellamy aprendeu a amar o seu povo e se preocupar com cada indivíduo como se fossem da sua família. E aquele olhar... Talvez ele venha por mim.

Embora, eu não deseje que eles venham. Não depois de ter amostras do poder de Nia. Aqui na Nação do Gelo eles são mais organizados, possuem mais ferramentas e pessoas, e Nia inspira o seu povo como nunca vi ninguém ser capaz de fazer. Não duvidaria que até mesmo as crianças dariam sua vida por sua rainha. É diferente de Lexa que é apenas uma jovem que obteve poder subitamente. Seu povo foi obrigado a aceitar-lhe e apesar de demonstrar força e sabedoria em suas escolhas, eu sei que ela não tem todos ao seu favor. Não vejo isso aqui.

Já o meu povo é pequeno, mal abastecido de armas, cheio de pessoas com cicatrizes e medos. Estão mais fortes do que antes, mas não o bastante. É por isso que eu estou verdadeiramente tentando ser o que Nia espera que eu seja. Não por ela ou por nosso acordo ou por meus desejos de vingança, mas por que eu gostaria de ser capaz. Sem me preocupar com limites pequenos ou se eu tenho alguma arma com a qual estava acostumada. Se apegar as coisas do passado - a quem eu era - só acabará por ser a causa da minha morte. E então o que seria do meu povo?

Eu já decidi. Voltarei ao Camp Jaha. Não deixarei que o sentimento de culpa me corroa e me isole. Não é assim que devo honrar as mortes dos que foram sacrificados para que tivéssemos a chance de perpetuar a humanidade. Irei voltar, mas apenas depois que eu encontrar uma maneira para que possamos viver em paz. Que possamos ser como essas pessoas que vivem aqui. Do contrário, seremos dizimados, mortos um a um e não restará ninguém para lembrar daqueles que vieram do céu.

Se apenas os terra-firmes parecem conseguir sobreviver, então devemos aprender com ele. Podemos começar por mim. Serei uma terra-firme. Por isso, foi bom ter partido. Agora sabemos que temos mais inimigos do que suponhamos.

Só queria saber se todos estão bem para me focar integralmente. Eu deveria pô-los no acordo. Nia precisa de mim mais do que diz. Para ter o comando do bando de selvagens de Lexa, ela precisa que confiem nela. Isso não viria se soubessem que ela planejou a morte de sua líder. Meu coração acelera de súbito com esse pensamento. É para isso que ela precisa de mim. Para que eu seja a pessoa que eles irão odiar e então eles terão uma motivação para lutar.

Minha garganta se fecha, seca como rocha do deserto, e dói. Dói em um ponto que eu não havia sentindo estar vivo desde a morte de Finn. Eu precisei assassiná-lo e o que me resta agora? Nada mais que voltar ao mesmo ponto. Como será ver os olhos escuros de Lexa perderem o seu brilho usual, a ferocidade que faz dela uma terra-firme? Será que me bastará saber que foi o que ela merece depois do que fez? Deixou-me para morrer ou escolher deixar meu povo morrer. E nada do que eu diga a mim mesma faz com que eu esqueça aquele momento em que ela revelou-se uma traidora.

As lágrimas vêm aos meus olhos e eu as deixo ir. Queimam como se fossem lava e meu corpo estremece. Se não fossem as correntes eu desabaria. Não quero matar Lexa. No fundo, não é o que eu quero. Contudo, por quê? Talvez eu saiba, mas não queira admitir. Então, eu forço as lágrimas a pararem. Ela não deve ter chorado por mim. Ela não teria pena se fosse o caso. Amor é fraqueza.

Em algum ponto, adormeci e quando meus olhos se abrem há alguém na cela comigo. Me ponho estirada, e meus pulsos já não protestam mais como antes, acostumados com o decorrer do tempo. Quem está lá é Nia. A primeira vez que ela vem me ver desde a humilhação que me fez passar lutando com Jót. Forço minha expressão a ficar impassível.

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