06.Oregon

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Chegamos há pouco no Oregon, não sei o motivo, mas sempre tive um carinho muito grande por esse estado.
Para ser mais exata, estamos na Região Florestal de Klamath, é como uma grande reserva natural onde eu e Cameron iremos acampar.

A floresta é linda e todos os detalhes aqui presentes lhe dão um aspecto acolhedor, como se a natureza quisesse nos dizer "Bem-vindos!".

-Esse lugar é muito bonito, realmente nunca parei para pensar nos outros lugares dos Estado Unidos. Eu estive sempre tão ligado a Los Angeles que me esqueci completamente das belezas do Oregon.- Cameron parou para pensar enquanto descansávamos.

-É estranho ter a sensação de que esse é o mundo de verdade? É muito sufocante passar tanto tempo em um lugar só! Viajar é a melhor coisa do mundo.- Eu disse, soltando meu corpo e me deixando cair levemente sentada no chão.

-Nisso eu concordo.-Cameron respondeu.- Mas não consigo parar de pensar no quanto meus pais devem estar preocupados...-Ele suspirou tristemente.

-Você não avisou para os seus pais que ia sair sozinho por todos os Estados Unidos? Que tipo de filho é você?- Dei um tapa em seu braço. Eu até poderia emprestar o meu celular para ele, mas ele saberia que eu quebrei o trato e de qualquer jeito aqui não tem sinal.

-Eu sei, me sinto péssimo. Mas e você? Avisou para os seus pais?- Ele perguntou.

-Ah, avisei. Mas meu pai já sabia de qualquer jeito que um dia eu iria sair de casa do nada e viajar por aí...A ideia foi dele!- Eu respondi.

-Eles vão me dar uma bronca enorme.-Ele disse olhando fixamente para o chão.

-Com certeza.

-April...Você também está ouvindo esse barulho? Esse...Esse barulho...-Cameron se confundiu e ficou calado tentando ouvir o mencionado som.

-Que barulho?- Ele sussurrou um "shiu".

-É de...água?- Ele perguntou mais para si mesmo do que para mim.

-Ah, esse barulho. Eu já estou ouvindo ele há muito tempo. EI! ESPERA, ÁGUA?- Eu percebi que meu nível de lerdeza estava fora do normal quando me toquei  de que eu estava ouvindo há muito tempo barulho de água e ainda não tinha entendido.

-Vamos!- Cameron levantou, pegou sua mochila e o grande porta-violão dele e saiu andando na direção do som. Segui-o e em poucos minutos achamos uma cachoeira enorme, bem longe de todas as pessoas e no meio da mata. Era o lugar perfeito.

Comecei a separar uma roupa na minha mochila, toalha e produtos de higiene

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Comecei a separar uma roupa na minha mochila, toalha e produtos de higiene.

-Eu vou primeiro!- Gritei e Cameron bufou em derrota.

-Droga!- Ele falou andando para longe da cachoeira, adentrando a floresta. Peguei tudo o que eu tinha separado e entrei na cachoeira. A água estava muito gelada, mas tomei banho mesmo assim. Quando eu já estava me arrumando, escutei ruídos entre as árvores e coloquei rapidamente a camisa, terminando de me vestir.

-Eu consegui lenha para a fogueira.-Cameron disse concentrado na madeira em seus braços.

-Sua vez, vai lá e vê se não demora.- Brinquei. Saí pela floresta procurando fazer alguma coisa útil, depois de andar alguns minutos eu me sentei em uma grande pedra e tomei um gole de água.

-O que seria de mim se eu tivesse vindo sozinha nessa viagem hein?- Disse para mim mesma.

-Eu sei que você não é nada sem mim, April. Eu sei.- Cameron surgiu dentre as árvores se gabando e eu revirei os olhos.

-Não estou dizendo que você é necessário para a minha existência, estou dizendo que ver o tamanho da sua burrice me faz pensar que eu ainda tenho alguma salvação.- Rebati.

-Ah, então eu sou o burro? Você pensou que uma cabine telefônica em Las Vegas era um banheiro público!

-Eu estava desesperada! Sabe há quanto tempo eu não vejo uma privada?- Eu disse e peguei minha mochila seguindo caminho pelas árvores e Cameron veio logo atrás.

-Você não pode reclamar, pelo menos o papel higiênico é de folha dupla.- Ele bufou e eu dei de ombros.

[...]

Já tínhamos arrumado nosso pequeno acampamento mas decidi não fazer uma fogueira e comer biscoitos, coisa que deixou Cameron bem irritado, pois ele passou bastante tempo recolhendo lenha.

Ficamos sentados no chão por um tempo antes de ir dormir.

-Eu quero fazer um jogo de perguntas.- Cameron disse arrastando a voz como uma criança de seis anos arqueando as sombrancelhas.

-Tudo bem- Aceitei na milésima vez que ele pediu isso.

-Qual a sua cor preferida?- Ele perguntou.

-Verde.-Respondi- Qual seu esporte preferido?

-Basketball-Ele disse- Qual a coisa que mais te irrita?

Parei para pensar um pouco. Na verdade, entre todas as milhares de coisas que existem no mundo, poucas delas conseguem me deixar realmente irritada. Eu tenho família, escola, comida, amigos...Tantas pessoas precisam disso e eu não vejo razão para reclamar de coisas tão estúpidas quando temos tudo o que mais precisamos bem debaixo de nossos narizes.
Cheguei á uma conclusão bem variada a partir desse pensamento.

-Pessoas que reclamam de tudo, sendo que têm tudo o que precisam.- Respondi por fim.- E você? O que mais te irrita?

CAMERON•

Após ouvir aquela pergunta eu gelei, não por precisar responder aquilo mas sim porque eu sabia que ela não gostaria da resposta.

A verdade é que eu sempre reclamei de absolutamente tudo, nunca está bom o suficiente. Eu posso ter tudo, mas sempre tem aquele pequeno desejo escondido.

Apesar de sempre sentir isso, aqui eu pareço não precisar de mais nada. Estou tão livre, tão conectado com a natureza...Tudo parece tão perfeito que eu pareço esquecer daquelas coisinhas que normalmente me deixariam irritado.

-O fato de eu não perceber que eu era o maior idiota.- Eu falei baixinho, como uma confissão de um menininho que acabou de quebrar o vaso preferido da mãe enquanto jogava bola.

April me olhou com uma cara interrogativa, mas depois abriu um grande e largo sorriso, como se tivesse entedido e estaria lá se eu precisasse. Eu abri a boca para explicar, mas ela fez um gesto com a mão e eu me calei.

-Sei bem como é isso.- Ela deu novamente aquele sorriso reconfortante que parecia iluminar aquela escura floresta.- Há um tempo atrás eu tive um namorado, ele se chamava Jason, ele era um babaca mas eu não ligava para isso, eu tinha sempre a mania de perdoá-lo mesmo depois de tudo. Eu cresci, amadureci e percebi que eu merecia coisa bem melhor...

-Eu sinto muito.-Tentei confortá-la.

-Tudo bem, era eu quem estava errada por não perceber antes...-Ela se levantou e foi na direção de sua barraca- Acho que já vou dormir. Boa noite Cameron.

-Boa noite, April.

The World Is Ours || Cam. BoyceOnde histórias criam vida. Descubra agora