PARTE 02: "She"

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"She screams in silence: A sullen riot penetrating through her mind, waiting for a sign to smash the silence with the brick of self-control."

Era umas seis e meia da tarde quando Adrian baixou a porta da locadora e passou o cadeado. Entrou no Herbie e saiu em direção ao seu segundo lugar favorito na cidade, o Mamba Negra, um clube pequeno e underground que servia de palco para as bandas independentes da cidade. Era menos sujo que o CBGB e tinha o cardápio digno de uma lanchonete de posto de gasolina sujo – o que significa: O melhor hambúrguer de preparo duvidoso da cidade. E pizza também!

Vila Legal era uma cidadezinha bonita, cheia de grafites maneiros que faziam com que o percurso até o Mamba fosse bem artístico. Mesmo pequena, a cena cultural da cidade era interessante. Parecia coisa de cidade grande! Os jovens adoravam ousar, e era comum pintarem os cabelos da cor que quisessem, colocar piercings (arrancados na maioria das vezes aos tabefes por algum pai irritado) e fazer tatuagens (mesmo que de canetinha).

No Mamba Negra, todos se conheciam nem que seja de nome, apesar de nem todo mundo ser amigo. Você sabe: clima de gangues, os mais velhos sem paciência pra se misturar com os mais novos... O de sempre. Caso te interesse saber, aquela noite em questão era o show de estreia de uma banda formada só por mulheres chamada Hex Girls.

Fernanda Takahashi, a frontwoman, tinha uma aparência bem única e parecia ter saído direto da cena Punk dos anos 70: Seu cabelo era metade preto com uma parte tingida de vermelho, e ela usava apenas uma meia calça rasgada, botas de soldado e uma camisa preta da banda "COMUMRAIO", tamanho G, completamente estilizada por ela mesma. De dia, ela trabalhava na Lojinha de Mágica da cidade – coisa da família, que era descendente de bruxa e quer passar a história para as outras gerações. À noite, ela era a rebelde do pedaço que, apesar do temperamento esquentado de vez em quando, ela era o maior barato.

Rumores de que elas conseguiram fazer com que um olheiro da gravadora DeckDisc, a maior gravadora independente do Brasil, pintasse por lá na velocidade MACH. Adrian não estava nem um pouco surpreso, já tinha dado uma olhada em suas composições uma vez e achava que as Hex Girls poderiam facilmente se tornar a The Donnas do Brasil.

You ask me questions

And I say nothing

I'm a waste of time

"Wow! Essa música que ela tá cantando agora é daquele filme, Ladies & Gentlemen, The Fabulous Stains! Sabia que ela ia gostar da recomendação", Adrian comentou ao sentar com os amigos numa mesa que continha a placa de "reservado", enquanto o resto do lugar pulava, gritava e fazia a mãozinha de rock'n'roll.

"Quê?", perguntou uma garota chamada Drika Cavallaro, a namorada do Léo.

"Ah, é um filme antigão aí. Não saiu no Brasil, mas consegui uma cópia da fita com um amigo, que conseguiu com um outro amigo que viajou pros EUA."

"Nossa, quanto rolo por causa de um filme hein?", disse Leonardo.

"Nah, normal. Ainda acredito que um dia ver um filme underground não vá dar tanto trabalho assim."

"Obrigado a todos vocês por estarem aqui hoje!", disse Fernanda. Ela então pegou um copo de cerveja do chão e levantou para o alto. "Um brinde às Hex Girls", gritou. Bebeu super rápido enquanto o resto da banda começava a tocar a próxima música.

1999Onde histórias criam vida. Descubra agora