PARTE 11: "Beat acelerado"

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Coração ligado, Beat acelerado

Já era quase onze da noite quando o ensaio da DeLorean acabou. Adrian pedalou de volta para casa, preso em seus pensamentos. A piada que lhe fez rir inúmeras vezes em A Volta dos Mortos-Vivos agora, para ele, fazia parte da realidade: Sentia o seu corpo em decomposição.

Tomou banho com um certo cuidado ao ver que algumas áreas de seu braço estavam se transformando em feridas expostas. Se sentia um efeito especial tosco do George Romero. Vestiu uma roupa qualquer e foi para a sala. Zapeou os canais de TV até parar no único canal interessante daquele horário: a Globo, com o filme Coroa Você Vive, Cara Você Morre.

O cansaço não lhe permitiu ver o filme na íntegra, mas ele não se importava: Sabia que a Globo era uma "estripadora cinematográfica" e, dependendo da ocasião, era capaz de cortar mais de vinte minutos de filme para encaixá-lo numa grade apertada (se bem que, pelo horário, isso era bastante improvável). Além do mais, seu trabalho lhe dava a opção de pegar a fita para ver depois.

Domingo foi bastante estagnado, mas em compensação o auge do dia não foi apenas o Programa Silvio Santos: Adrian e Laís conversaram bastante pelo telefone!

"E depois da gente tirar onda com a cara do Fernando eu cantei Changes e a galera se amarrou! Isso quer dizer que, oficialmente, sou vocalista da DeLorean! Irado, não é?"

"Putz grila, amor. Que bacana! As Hex Girls também estão super empolgadas comigo sendo empresária delas. Mostrei ontem o rascunho da música que escrevi durante o intervalo da Hebe semana passada. Até agora, o título é We Got The Beat, depois mostro pra você", respondeu Laís. Ambos estavam extremamente felizes um pelo outro, e parecia que as coisas enfim estavam conspirando a favor dos dois.

"Quer dizer que além de linda, inteligente e super star minha namorada ainda é compositora? Uau! Isso pede uma comemoração! Pizza, UNO e Tartarugas Ninja na sua casa mais tarde?", Adrian lançou o convite.

"Como nos velhos tempos!", ela gritou, animada.

"Como nos velhos tempos"

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A casa de Laís era pequena, mas a decoração personalizada por ela mesma dava ao espaço um ar de diferente e legal. Ela não tinha sofá, então a sala era repleta de almofadas em cima de um tapete – ali era o lugar onde recebia os amigos para noitadas de diversão com seus jogos favoritos: UNO, Twister e Desafino. Conversaram sobre a vontade de um dia serem convidados para o programa Jô Soares Onze e Meia, receber um selinho da Hebe ou se apresentar com as respectivas bandas no palco do Programa Livre, até que a Laís tomou a iniciativa de ligar para encomendar a Pizza.

Enquanto a garota discava o número, Adrian buscou no armário a caixinha de UNO e sintonizou na FM que, na ocasião, tocava uma música dos Mamonas Assassinas.

"Já está preparado para perder, mozão?", Laís disse, em tom ameaçador.

Se jogar UNO fosse uma profissão, Laís teria mais dinheiro na conta bancária que um filho do Roberto Marinho. Ela ganhava praticamente todas as partidas com todas as pessoas!

Para Adrian, a sorte foi que o entregador chegou exatamente quando a situação já estava ficando sem graça. Ela ainda quis jogar mais um pouco e deixar as pizzas para lá, mas apesar de estar sem fome, disse que estava faminto e que, se pudesse, comeria um boi. "Se meu fígado estivesse vivo, estaria se contorcendo neste exato momento", falou.

Laís pegou copos de requeijão que estavam guardados no armário e, ao som da sessão anos 80 da Princesa FM, brindaram com Pepsi em homenagem a tudo de bom que estava acontecendo em suas vidas. A crise de ansiedade em ambos era tamanha que já não haviam borboletas no estômago, e sim mamutes alienígenas. Mesmo assim, estavam decididos a seguir em frente com os planos de fazer desta uma noite especial.

1999Onde histórias criam vida. Descubra agora