PARTE 05: "My Boyfriend's Back"

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He's been gone for such a long time... Now he's back, and things will be fine

As meninas então seguiram para a Loja de Ocultismo de Vila Legal. Fernanda era descendente de Lucinda Cavender, uma bruxa europeia que conseguiu escapar da Santa Inquisição – aquele período histórico em que a igreja queimou um monte de mulheres por considera-las satânicas e tal. A loja, apesar de não muito grande, foi o modo que sua família encontrou de manter viva a tradição e, claro, ganhar uma grana: as visitas aumentaram com o sucesso do filme Jovens Bruxas.

Nos fundos da loja havia uma modesta biblioteca que, apesar de ser formada por livrosextremamente antigos, era incrivelmente limpa: não havia um resquício de poeira. Pegaram um livro chamado Necronomicon e foram direto até a o capítulo XXWCZ... Desculpa, não sou muito bom com algarismos romanos.

"Ah, tá aqui! Ritual para o Resurrectionem Mortuorum", disse Fernanda.

"Ressu o quê?", perguntou Laís

"Ressuscitar os mortos, em Latim!"

"Ah, ok. E aí, o que a gente precisa?"

"Nah, o básico. Algumas velas, pó de flúor e uns incensos específicos. Tem tudo aqui!", respondeu Fernanda, enquanto seguia para as prateleiras da loja para pegar todo o material necessário. "Ok, tudo isso daria um total de cinquenta reais, mas eu sossego se você topar ser empresária das Hex Girls".

"O quê? Eu, empresária? Sério? Que irado! Eu gostei muito do show de vocês mesmo. Mas.... Porque? ", perguntou Laís, visivelmente feliz (rimou!).

"Ah, você morou na capital, tem suas conexões e ainda é responsável pelo programa de rádio mais ouvido pelos jovens da cidade. Escolha certeira, pequena Jedi."

"Jedi? Você assistiu Guerra nas Estrelas naquela maratona da TV também?"

"Bem queria! Não estava em casa e não programei o vídeo para gravar na hora certa. Mas aluguei os três lá na Cine Vídeo e tô louca pra ver esse novo que saiu agora!", respondeu Fernanda.

"Ah, eu também! Quando ressuscitarmos o Adrian a gente obriga ele a conseguir o primeiro aluguel da fita como agradecimento", disse Laís.

"E de graça", concluiu Fernanda.

-

Era quase uma da manhã quando as meninas correram para dentro do Cemitério Municipal. A lua cheia brilhava forte no céu, o que ajudou a iluminar bastante aquele lugar silencioso e sem iluminação pública.

"Ainda bem que lembrei de trazer uma lanterna", pensou Fernanda. Dez minutos depois, encontraram um montinho de terra recém colocado com uma lápide que dizia: "Adrian Omena: Um filho maravilhoso, um amigo espetacular".

"Tem certeza de que você quer fazer isso?", disse Fernanda.

"Sim", respondeu Laís.

Então, elas organizaram no chão as velas piramidais nas cores preto e vermelho de forma que parecia o funeral do Flamengo, acenderam os incensos e pegaram os saquinhos de pó de flúor colorido e o pedaço de papel com o feitiço anotado. Contaram até três e, juntas, começaram a jogar ocasionalmente a areia em cima do túmulo e a recitar palavras que, mesmo sem saber o que significa, que língua é ou como se escreve, fiz o possível para reproduzi-las a seguir:

"Ade due damballa. Dê-me o poder, eu imploro.

Secoise entienne mais pois de morte.

Morteisma lieu de vocuier de mieu vochette.

Endonline pour de boisette damballa!

Secoise entienne mais pois de morte.

Endelieu pour de boisette damballa!"

As meninas terminaram de recitar o encantamento com uma empolgação bem mais ou menos e esperaram um minutinho para ver se deu certo.

"Acho que não está funcionando," disse Laís.

"Calma aí, essas coisas demoram um pouco", respondeu Fernanda. "Vamos de novo, agora com bem mais emoção".

"Ade due damballa. Dê-me o poder, eu imploro.

Secoise entienne mais pois de morte.

Morteisma lieu de vocuier de mieu vochette.

Endonline pour de boisette damballa!

Secoise entienne mais pois de morte.

Endelieu pour de boisette damballa!"

De repente, as nuvens cobriram a lua. Elas sentiram alguns tremores na terra e segundos depois, um montinho de areia parecia ter tomado vida própria. Foi então que uma mão apareceu. As meninas passaram por um leve susto e soltaram um gritinho, mas logo tiveram a ação de ajudar Adrian a chegar na superfície. Ele saiu do túmulo com uma aparência pálida e com olheiras enormes e, após sacudir todo o pó de cima de seu corpo, olhou para a roupa que estava vestindo e, surpreso, disse:

"Quem diabos teve a ideia brilhante de me enterrar num terno? Todo mundo sabe que quando eu morresse eu ia querer mesmo era usar a roupa das Tartarugas Ninja."

"Seu bobo!", disse Laís enquanto dava um abraço forte em Adrian. "Eu senti tanto a sua falta! Tudo bem que não faz tanto tempo mas CARALHO! Achei que nunca mais ia te ver", disse ela.

"Aparentemente ou alguém lá em cima gosta muito de mim ou... Quando o gato da vizinha me arranhou, passou para mim parte de seu DNA que se fundiu com o meu, me dando sete vidas, tipo Homem-Aranha."

"Quanta besteira...", disse Fernanda revirando os olhos. Adrian deu-lhe a língua, e ela retribuiu.

"Ok, chega que não tô com saco pra ser a Carol desse Chiquititas", disse Laís, tentando acalmar a situação. "Enfim... Agora que já está todo mundo aqui, vivo e tal... O que você estava dizendo naquela hora mesmo? Cê sabe, antes de morrer e tal."

"Bom... Er... Sabe...", ele respirou fundo e, embora seu coração não estivesse batendo ele sabia que, em outros tempos, o órgão estaria à beira de um ataque cardíaco. "Vou encarar esse retorno como uma oportunidade de criar vergonha na cara e ter coragem pra fazer uma coisa que sempre quis fazer. Laís, somos amigos há tanto tempo, passamos por muita coisa juntos... Mesmo. Achei que, depois que você foi embora, ia esquecer o que sentia e tudo, mas foi só te ver na Mamba Negra que meu coração acelerou como se eu fosse o adolescente fedido de outros tempos. Eu te amo e... Acho que podíamos tipo, ser namorados, que acha?"

"Claro que sim"

Laís o beijou e eles ficaram agarrados por uns cinco minutos. Revoltada, Fernanda bufou revirou os olhos. "Alô! Não vim aqui pra segurar vela!", ela disse.

Os meninos ignoraram o comentário e continuaram se beijando. "Eca, tchau", Fernanda disse, enquanto saía do cemitério.

Laís e Adrian se sentaram na tumba mais próxima e conversaram um pouco. Adrian ficou surpreso ao saber que na verdade, foram elas que o trouxeram de volta.

"Nossa! Então quer dizer que essa coisa de magia funciona mesmo!", disse ele em tom de surpresa.

"Mas claro que sim, ué", ela respondeu e deu um tapa nele, rindo. "Obrigada por sua descendente, Lucinda Cavender. Me sinto o Doutor Frankenstein!"

1999Onde histórias criam vida. Descubra agora