Capítulo 01

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Thalya Pierce

20 de fevereiro de 2016

O dia está frio, mas acho que nós estamos mais. Havia tempos não sentimos mais calor. O que nosso anjo de sol está sendo enterrado.

Uma pessoa que tanto nos alegrou, passava mansidão a cada passo, agora nem mesmo tem um sorriso.

Ninguém está feliz, pelo ao contrário. Todos choram. Até os céus resolveram se derramar em prantos inconsoláveis. Fazendo assim com que sombras negras pairam sobre nós, nos cobrindo das gotas tristes.

Apesar da família, amigos também dão uma última olhada no caixão, comentam em sussurros ou apenas ficam calados ao longe com cigarros acesos escondidos atrás do corpo. Outros ficam calados, fingiam ser fortes, mas há quem nem se importa mesmo, mas pelo menos faz questão de estar aqui para desejar seus pêsames.

Típico dia de domingo nublado, frio e chuvoso.

Meu pai parece uma pedra - talvez tenha se tornado uma mesmo - fria, triste e estática. Não é fácil para ninguém enterrar seu amor.

Daniel chora, ele não resistiu. Mesmo em sua pose forte, é um menino. Vivian o abraça e acaricia seu rosto com as luvas negras de seda. Assim parece bem mais dramático. Quem sabe um pouco de inadequações sejam necessárias, mesmo sendo um padrão. Acho que é um forte seu. Kendrick limpava os olhos de vez em quando. Pelo visto é tão manteiga derretida quanto Dani.

Matt não consegue olhar para as grandes coroas de flores que rodam o caixão. Tão bonitas para um momento tão triste. Ele abraça sua esposa que tenta o consolar assim como a família dela. Eles são maravilhosos. Pena é quando vemos as pessoas importantes ou as que gostamos apenas quando há uma desgraça. Será que Deus pensa que devamos sofrer para que assim possamos ver entes distantes quase esquecidos? A desgraça parece reunir as pessoas.

Mas olhe Kate, ela tem sua cabeça apoiada no ombro de Vicente, no dia seguinte eles iram viajar, voltar para a Europa. Os dois estão unidos e distantes. Pelo menos tudo entre eles está bom. O francês tem se mostrado um bom homem, bom companheiro.

Já Stevan está bem mais presente. Ele abraça Jass e Isabela. Ambas se derramam em lágrimas. Podem ser pouca coisa mais nova que eu, mas olhando daqui parecem crianças. Ah, Jasmim... A única filha biológica de Aurora, não que nossos amores sejam diferentes, mas é tão doloroso para uma garota que tem a mesma aura da mãe.

Uma família... Quis rir quando pensei nisso. Antes eu nem me importava se minha família ficava longe. Minha madrasta era quem nos mantinha unido. Ela era nosso imã.

Perto das árvores, as mais pertos de nós, mas ainda sim um pouco distantes pairavam três sombras. Faziam me lembrar de ceifeiros, aqueles que vemos em clássicos filmes de terror, mas esses usam armas no coldre e distintivos pendurados no pescoço. Tem vezes que me esqueço deles. Parecem estatuas como as várias que vemos ao longo do grande cemitério. Ora os vejo se mexer ou responder algo para alguém. Talvez um sim, não, meus pêsames ou policia. Suas roupas negras comuns de todos os dias de investigação não se destacam por entre os fantasmas pretos que cobriam cada um de nós.

Ainda ao redor, ouvindo cada palavra do reverendo, Jaqueline chorava, até Richard veio. Ele abraça minha mãe que carrega uma rosa branca nas mãos. Não que eles estejam nas melhores, mas como eu disse: a desgraça une as pessoas.

Ela olha pra mim e forca um sorriso calmo para me deixar melhor. Suas mãos viajam até meu braço dando um aperto aconchegante como se me desejasse força. Tentei abrir a boca para falar algo, porém nem minha boca se abriu.

Erick me aperta em seus braços em forma de proteção e por um momento pude ouvir uma palavra do reverendo.

- Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. . Jesus é o nosso pastor e somos suas ovelhas nesse mundo e não estamos sozinhos. Mesmo nos piores dias e quando a tempestade tentar nos afogar, Ele estará lá, nos guiando, nos protegendo, nos consolando. Como ovelha nosso Salvador veio quieto e manso, sentiu toda a nossa dor. A dor da perda, a tristeza, o frio e a dor da morte. Mas Ele também disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. Essa mulher é e sempre será muito amada a todos e pelo seu sorriso é que devemos nos lembrar dela. A alegria que colocou em nossos corações.

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