5. Tyana

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            Batidas ecoavam no meu cérebro. Demorei um pouco para perceber que não eram mais da música, mas de uma bela dor de cabeça latejante.

Até me assustei quando olhei para o lado e vi um tipo.

A última memória que tinha da noite passada era meio desfocada, Natalie e cervejas. Definitivamente, não deviam ter sido poucas. Cervejas, quero dizer, não Natalies. Uma já é mais que suficiente.

Ugh. Algo me dizia que Travis (sim, este definitivamente se chama Travis) não me havia acompanhado para a cama somente para tirar uma soneca, e esse algo era provavelmente o conjunto de abdominais despidos que saíam debaixo dos lençóis. Até me daria um high-five, se pudesse encontrar felicidade debaixo do Monte da Ressaca onde me encontrava.

Levantei o lençol e espreitei. Não, não, não, eu só podia ter estado bêbada quando aceitei aquilo. Não dava nem para o gasto. Ugh. O pobre menino tinha um mindinho ali.

Levei os lençóis comigo, enrolados ao corpo, enquanto procurava pelas roupas espalhadas por, literalmente, todo o lado. Acabei por nem encontrar o vestido, então levei a t-shirt gigante dele, a cheirar a vodca e com manchas do que parecia cerveja. Se eu tivesse sorte, nem ele se iria lembrar do que havia acontecido.

Abri a porta com cuidado, mas acabou por não valer de nada: a música entrou no quarto, como se fosse um tsunami e eu a Indonésia. Pontos negativos pela piada de mau gosto. Merda.

Enfim, fiz o que todas as pessoas adultas teriam feito: saí a correr, fechei a porta e não olhei para trás enquanto não alcancei o hall de entrada.

Ok.

Digam-me uma coisa: porque raio ainda havia música? Já era o dia a seguir. Os bêbados andavam por aí, como morcegos tontos, e pude ver que o chão era 50% vómito e 49% caloiros, caídos por aí como derrotados de guerra. O outro 1% eram garrafas vazias, e não se enganem: não eram poucas.

Procurei por Natalie: a coitada devia estar aterrorizada, talvez algures a fazer um chá para acalmar os ânimos. É o que ingleses fazem, não é?

Até me surpreendi quando não a encontrei em lado nenhum. Pelos vistos, ela havia encontrado diversão na festa. Ou fora dela. Ou talvez simplesmente havia andado a pé até casa, porque as chaves do carro ainda estavam na minha bolsa+, ao contrário do par de preservativos que eu havia levado. Como raio havia Travis usado dois inteiros com uma pilinha daquele tamanho?

Apoiei a cabeça numa parede, sentindo o arrependimento vindo por sabe-se lá que motivo. Talvez o meu eu interior esteja a tentar redimir-se por se ter deixado levar pelo Travis. Boa tentativa, fofinha. Volta para o canto.

Abri a porta de casa, deixando a luz do sol entrar e derreter o que restava dos meus miolos alcoolizados.

Arrastei-me pelo quintal, continuando a zombie mais bonita da festa, saltei uma poça de vómito quase seco perto do portão e entrei, em toda a merda da minha glória, no carro.

Pronto. Cheguei.

Agora é só conduzir uns quilómetros, subir as escadas, subir as escadas, subir mais escadas, entrar no quarto, ouvir um sermão da menina Richmond e dormir.

Falta pouco.

O carro comeu alguns quilómetros, e no caminho ainda me senti realmente preocupada com Natalie. Ela não estava habituada a festas universitárias, provavelmente àquelas galas bonitas, apenas, e poderia ter sido posta em perigo, perdido o caminho, bebido demais. Acontece aos melhores. E se ela tivesse perdido a virgindade? Uma menina como ela era, certamente, virgem. Oh, que medo. Porque lhe fui eu deixar sozinha? E ela nem tinha telemóvel! Porque lhe fui eu deixar sozinha sem telemóvel?!

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