6. Daphne

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            O despertador toca, e amaldiçoo-o no exato momento em que abro os olhos.

Já é a terceira vez que ataco o snooze, então decido levantar o meu rabo preguiçoso e inútil da cama.

Espreguiço-me e olho pela janela.

O sol ainda está para nascer. O céu está tão claro.

Fecho a cortina: dispenso que um vizinho madrugador do outro lado da rua me veja despida, obrigadinha.

Sento-me outra vez na cama.

Olho à volta. As estrelas ainda brilham, e eu sorrio.

Ali estava eu. Por fim.

Quem havia dito que eu não conseguia? Quem? Quem?

Estou à espera que respondas, mãe.

Rio para mim mesma, da pior piada interior que eu alguma vez havia feito.

Oh, o céu do meu quarto. Aquela pequena paródia quase eficaz que representa tudo aquilo de que eu tenho saudades.

Mas isso não importava. Certo? Certo.

Era a hora do pequeno almoço.

Reviso mentalmente a matéria dada no dia anterior, enquanto percorro o corredor, passo a sala e entro na cozinha tipicamente americana, que apenas se divide da sala por um mero balcão. Gosto.

Abro o armário debaixo do lava-loiças, e procuro com determinação e muita força de vontade por algo que se assemelhasse minimamente com uma frigideira.

Quem raio compra uma casa e a equipa totalmente na primeira semana de aulas, muda-se, sobrevive a um drama terrível, estuda, mas mesmo assim não se consegue lembrar de onde deixou o raio de uma frigideira?

Desisto.

Ainda é muito cedo para ligar à Telepizza: dispenso ficar gorda no primeiro mês de aulas. E tento lembrar-me, por vezes, de que conduzo um Smart: Talvez Jean não fique muito feliz a ser conduzido por baleia que não consegue entrar, sequer.

Mas todos sabemos que existem lugares para nós, pobres almas preguiçosas que não conseguiriam sobreviver em meio selvagem por não terem energia suficiente para fazer um simples pequeno-almoço.

Chama-se café.

Bonito, não?

Encontrei um a três casas de distância do prédio em que moro.

Mentira.

Aquele café é, surpreendentemente, o único dos arredores da Universidade.

Procurei por uma casa ali perto assim que pisei nele.

Somos escritores, é isso o que fazemos: não sei se sobreviveria sem um café a onze passos do meu habitat natural. Ou seria o café o meu habitat natural? Quem sabe.

Entrei, e pude ver Clint, o empregado de mesa sexy, abrir o seu sorriso típico para mim. Acenei com a cabeça, numa saudação silenciosa.

Uma vez naquele templo sagrado, temos que conhecer os seus profetas.

Clint era o player do café.

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