38 - Auta

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Cheguei na portaria do Hospital com a cadeira de rodas que me deram para descer o elevador. Bianca tinha saído uma semana antes de mim. Meus pais estavam ocupadas com meu sobrinho e Bianca estava ocupada com seu noivado. Eles mal me viram no hospital e não pareciam ter aceitado minhas desculpas. Mas eles eram meus pais e obrigados a me amar.
Rafael teve que assinar meus papéis de auta para que eu finalmente pudesse sair. Fiquei com um pouco de medo quando consideraram uma quimioterapia para acabar com a minha imunidade e para que eu não tivesse problemas futuros. Desviei o máximo possível dessa possibilidade.
- Tenho uma surpresa - anunciou Rafael, antes de sairmos do hospital.
- Eu odeio surpresas - respondi, irritada.
- Essa é legal! - Rafael me guiava para a porta enquanto falava - Vai ser a melhor supresa da sua vida, tenho certeza que vai amar.
Rafael corria com minha cadeira até o portão. Eu acabei de ganhar uma cicatriz do pescoço até o umbigo e ele ainda achava que eu queria alguma surpresa? Estava tão desgastada que era incapaz de ser feliz por enquanto.
Saímos para fora com a cadeira. Lange já tinha conversado com as enfermeiras para que eu pudesse ir pra a rua com a cadeira.
Na outra esquina uma real surpresa: uma limusine preta enorme aguardava linda e reluzente. E se já não bastasse o carrão pronto para me levar, o meu nome estava escrito na lateral do carro. Eu sorri como nunca antes.
- Obrigada, Rafael! - agradeci.
- Você ainda não viu nada.
Ele abriu a porta da limusine para mim. Ajudou-me a sentar no banco do carro. Reparei na iluminação azul e rosa, nos bancos de cor neutra e de todas as bebidas que tinham no frigobar.
- Vou levar a cadeira de volta enquanto você aprecia a paisagem.
Ele encostou a porta e eu o observei ir rapidinho até a portaria e agradecendo na mesma velocidade a enfermeira que o esperava com a cadeira. Me recostei no banco e percebi que Rafael corria de volta. Ele abriu a porta e se jogou no banco ao meu lado.
- Pode andar! - disse Rafael para o motorista. Acho que ele escutou porque o carro começou a andar.
- Não precisava de tudo isso. - reclamei.
- Não fiz por você - eu voltei meu olhar para ele - sempre quis andar em uma limusine, só nunca tive tempo.
- Então eu te dei uma oportunidade.
- Quer uma das bebidas do frigobar? - perguntou ele ao lado da mini-geladeira.
- Acabei de fazer um transplante de fígado! Quer que eu morra? Meus pontos mal secaram.
- Os médicos exageram.
- Até que eu morra, aí eles estarão certos, não?
Ele assentiu e pegou uma água no frigobar. Rafael me deu a água e eu a coloquei entre minhas coxas para tirar o gelo. Ele me olhou com confusão.
- Por que não quer água gelada?
- Não quero morrer.
- Você não é sarcástica dessa forma, Lua. Você tá muito estranha.
- Eu acabei de sofrer um acidente, descobri duas doenças que nem sabia que tinha e agora estou com uma cicatriz horrível e enorme no meio dos meus seios. Não era para estar mal-humorada?
- Não foi só por isso.
- E por que mais seria?
- Seus pais?
- O que tem eles? - minhas palavras saíram ríspidas.
- Não precisa falar deles. Esquece eles por um tempo e pensa um pouco no momento atual. Só vive tudo que está acontecendo por um instante. É fácil lembrar do passado, mas é impossível recuperar bons momentos.
- Facebook?
- Uma mensagem do Whatsapp.
Eu sorri de verdade pela primeira vez. Não podia gargalhar porque estouraria os meus pontos um tanto frágeis.
- Eu vou cuidar de você, Lua. - disse Rafael.
- Eu não vejo a hora de você poder cuidar de mim em outros sentidos - sorri maliciosamente para que ele entendesse que estava a fim de voltar a minha vida normal com ele. Só mais dois meses e poderia voltar a fazer sexo regularmente. Isso seria maravilhoso.
Chegamos ao nosso apartamento e Rafael me carregou até meu apartamento. Com muito esforço, ele me deixou em cima do sofá. Eu pude descansar alguns segundos. Percebo que algumas coisas estavam faltando por aqui.
- Onde estão os pôsteres do Lucas? Tinha os pôsteres de Star Wars por aqui.
- Ele foi morar com Daniel. Disse pra que eu cuidasse de você porque não queria ver seus peitos quando fosse limpar a sutura.
- Entendo. Então você quer?
- Eles são bem bonitos e redondos. Já faz um tempo que eu não os vejo. Estou com muita saudade deles.
- Segura aí. Eu ainda tenho mais dois meses de celibato. Vou ter que me virar sozinha.
- Não sabia que você podia...
- Eu posso.
- Hmm. Bom saber.
Continuamos a conversar sobre coisas que qualquer pessoa consideraria vergonhoso de se falar com um ex que voltasse a se tornar atual. Nunca tive vergonha de falar sobre sexo ou coisas do tipo, só de fazer sexo. Não me achava tão bonita para ficar nua na frente de alguém.

TRÊS MESES DEPOIS:
Aguardem o hot ¬¬

Amor de Gatos ❤ R.L CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora