31 - Frieza

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Lucas foi embora e me deixou com meus pais. Era horrível sentir raiva deles mas não poder demonstrar. Eu queria tanto chorar mas também não podia. Por que eles não me falavam logo para que eu pudesse desabar em lágrimas.
- Querida - chamou papai -, precisamos te contar uma coisa.
- Não. - interrompeu mamãe, rispidamente.
- Eu quero saber. Por favor, me digam o que está acontecendo.
Eu tentei ser convincente com o tom implorativo da minha voz. É claro que mamãe continuou impassível.
- Não podemos provocar uma convulsão, Alex - disse mamãe para papai - Se mais alguma desgraça acontecer...
- Desgraça? - repeti.
Papai então explodiu. Ele levantou-se da cadeira e gritou algo suficiente para que as enfermeiras se preocupassem:
- Então sai daqui para não ver a nossa filha saber da verdade. Saber agora ou depois não vai privá-la de sofrer! Ou nós contamos, ou ela saberá por outros.
- Faça o que quiser - sussurrou mamãe. Ela sempre tentava evitar ao máximo as brigas - mas eu não vou ficar aqui para ver nossa filha tendo outro piripaque.
Ela saiu do meu quarto pisando forte. Mamãe estava tão irritada que insistiu em esbarrar em meu pai antes de sair da sala. Eu fiz uma cara de espanto para meu pai e tentei dar um meio sorriso. Ele continuou sério.
- Filha, me promete que não não vai ter ataque.
- Eu já sei.
- Já sabe do que? - perguntou ele, espantado.
- Eu sei que minha irmã morreu. Foi por isso que tive a convulsão.
- Então aquele rapaz te contou?
- Sim. Ele não achou justo que eu não soubesse da minha própria irmã. Ela teve eclâmpsia, não?
- Pré-eclâmpsia. - corrigiu-me papai.
- E o bebê?
- Ele não te contou sobre o bebê?
- Não deu tempo.
- O bebê está bem. Ele ainda está na UTI porque é prematuro. Sete meses.
- Qual o nome dele ou dela?
- Igor.
- Que nome horrível!
- Era o nome que Júlia queria.
- Ela tinha um péssimo gosto - esse foi um comentário cruel.
Papai se zangou comigo. Ele refletiu por um tempo e disse:
- Esse é o seu jeito de lidar com a dor? Desdenhando da vida das pessoas? Você sempre foi assim, Luiza. Prefere ser uma pessoa fria a admitir que sente falta de alguém. Eu sei que vai desabar quando eu e sua mãe sairmos daqui. Por isso eu vou fazer isso agora mesmo é te dar espaço para chorar um pouco.
Papai saiu do quarto sem me dizer mais nenhuma palavra. Será que eu era realmente assim? Acho que não. Eu já chorei tantas vezes, não era fria como talvez eu aparentasse.
Tudo isso me fez pensar em Rafael. Será que eu o tratei com tanto desprezo por quê o tinha perdido, ou por quê ele merecia? Perguntas que só poderiam ser respondidas por mim mesma.
De repente, Daniel entrou na sala. Ele me encarou por alguns segundos e eu fiz o mesmo. Dani se sentou ao meu lado e ficou calado por muito tempo. Parecia querer falar alguma coisa mas não sabia o quê exatamente. Tinha esperança que ele continuasse calado para que eu continuasse a minha auto análise. Infelizmente, não foi o que aconteceu.

Amor de Gatos ❤ R.L CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora