28 - Teste de Sinceridade

532 39 7
                                    

Minha coluna estava doendo. Uns murmuros e uma luz corriam em volta de mim me deixando tonta. Levantei minhas pálpebras com força e percebi que estava num lugar extremamente branco, separado por cortinas azuis e com duas cadeiras ocupadas ao meu lado. Não estava entendendo absolutamente nada. Mamãe dormia com a cabeça encostada na parede ao seu lado, enquanto meu pai se apoiava na parede atrás dele. Tinham alguns rios presos no meu peito, algo no meu dedo e um monitor. O bip do monitor era até agradável.
Eu me levantei e todos os aparelhos apitaram. Me apoiei na perna esquerda e caí. Meus pais acordaram e junto com as enfermeiras me colocaram de volta. Olhei para minha perna e vi que havia um gesso em toda ela. Meu olho esquerdo estava meio embaçado também. A bochecha direita coçava um pouco.
- Acordou bem, querida? - perguntou mamãe ao meu lado.
- Estou bem. - minha voz saiu estranha.
- Tem certeza? Posso pedir mais morfina para o médico. - papai estava mais assustado que mamãe.
- Eu estou bem. Nem senti minha perna quando levantei.
Eles se calaram. Mamãe tinha seus belos olhos castanhos inchados. Papai continuava insensível, mas também parecia ter chorado. Mamãe tinha algo para me contar. Me recostei no travesseiro e perguntei:
- O que tinha para me dizer, mamãe?
- Não é hora para isso.
- E quando será? - enraiveceu-se papai.
- Não podemos brigar na frente dela. - retorquiu mamãe.
- Eu quero saber! - protestei.
- Sua irmã...
- Cale a boca! - gritou mamãe.
Eu e papai nos assustamos. Ela sempre se mantinha pacífica em qualquer briga. O assunto era sério.
Uma enfermeira veio advertir todos nós de que não podíamos gritar. Ela também trouxe outro recado:
- A paciente tem mais visitas.
Mamãe disse que sairia e puxou papai para ir junto com ela. Eu esperei Lucas e Daniel entrarem mas, ao invés disso, outra pessoa entrou. Cellbit entrou vagarosamente no meu quarto. Eu revirei os olhos.
- Oi, Lua! - cumprimentou ele.
- Oi.
- Está com dores?
- A morfina tem resolvido bem o problema.
- Precisa de alguma coisa?
- Eu só sei que não preciso de você. - senti que fui mais grossa do que o pretendido.
- Eu sei que pisei na bola com você mas quero que entenda que as pessoas erram. Eu prometo nunca mais cometer o mesmo erro.
- Só que eu já superei o seu erro.
- Eu soube que você transou com seu ex e com seu amigo. - sussurrou ele, envergonhado.
- As notícias voam, não? - surpreendi-me.
- O que ele fez? - questionou Lange, de supetão.
- Quem?
- O Daniel. Por que se separaram?
Eu me calei por um tempo. Já fazia tantos meses que já tínhamos nos separado que não lembrava o motivo. Aquilo era praticamente uma informação inútil.
- Ele foi para um intercâmbio. Nós ainda nos falávamos por algumas redes mas acabamos nos distanciando. Tínhamos um trato. Você foi o culpado por quebrá-lo. - lembrei-me, sorrindo.
- Que trato?
- Eu me manteria virgem até ele voltar. Ele faria as honras.
- E eu acabei tomando o lugar dele.
- Foi.
Eu sorri com a lembrança desse momento feliz. Sempre fui de manter tratos, foi bom que não ter que transar com Daniel por um tempo. Claro que isso terminou na festa.
- Então você o deixou ir porque ele te abandonou?
- Sim. Minhas três regras para namoro são nunca abandone, nunca traia e nunca minta.
- Eu te abandonei?
- Você mentiu e traiu. São duas infrações.
- Não três. Aposto que Daniel também deve ter mentido para você. Só tiramos lições de antigas relações, não das que virão a acontecer.
- Eu acho que ele me traiu. Não tenho provas mas provavelmente ele ficou com alguém no intercâmbio.
- Então ainda tenho uma chance?
- Lucas não cometeu nenhuma dessas infrações. Ele tem mais chances que você.
Ele esperou um pouco para jogar um último trato:
- Você disse que ele não cometeu nenhuma dessas infrações, mas você não deu oportunidades suficientes para que ele pisasse na bola. Tenho uma ideia: você vai pedir para ele dizer aquilo que sua mãe iria dizer a você antes do acidente. Ele estava lá fora comigo e seu pai nos contou o quê aconteceu. Se ele lhe disser que não sabe, é mentira.
- O que minha mãe está escondendo? Me conte!
- Você precisa ser forte. Só vou lhe contar para que você saiba diferenciar a mentira que ele poderá contar da verdade.
- Então diga.
- Sua irmã teve um parto prematura. Ela teve pré-eclâmpsia e falha hepática. A algumas horas você era a única que tinha uma chance de doar seu fígado para ela, mas houve o acidente e ela... - Lange me encarou por um instante - morreu.
- Júlia morreu? - repeti, em choque.
- Eu disse que teria que ser forte.
Minha vista ficou embaçada e senti minhas pupilas irem para cima. Meu corpo tremelicava com força. Ouvia Lange gritar ao fundo:
- Enfermeiras, socorro!
Fui jogada de lado por uma delas, que me segurou firmemente contra a maca. Eu comecei a sentir a dor da perna quebrada e os rasgos na minha cara. Imaginei que minha irmã deveria ter sofrido muito mais por eu não ter chegado a tempo.

POV RAFAEL:
Lua convulsionou na minha frente e eu me assustei. Tive que chamar as enfermeiras rapidamente antes que ela quebrasse alguma coisa, ou se quebrasse. Saí da sala as pressas enquanto a estabilizavam. Não entrei desde então. Observei um garoto magricela vindo na minha direção. Ele olhou frio para mim, mas eu o cumprimentei mesmo assim:
- Oi, Lucas!
- O que faz aqui?
- O mesmo que você. Vim visitar a Lua. Quer carona para casa?
- Como assim? Eu acabei de chegar. A Lua está bem?
- Acabou de ter uma convulsão. Os pais dela estão chorando por lá. Se chegou agora é a sua vez de consolá-los.
Eu andei em direção ao elevador para não me sentir mais culpado pelo o quê eu estava fazendo agora.
- Espera! - gritou Lucas.
Virei-me para poder encará-lo. Andei alguns passos para não ficar tão longe.
- O que?
- Sabe por quê os pais dela estão agindo dessa forma? Disseram que a Júlia está no hospital.
- Eu não sei não, cara. Acho melhor nem perguntar para os pais dela porque eles não vão te contar.
- Tudo bem. Até mais.
Ele se debandou para o quarto e eu corro para o elevador quando ele não estava olhando. Me sentia culpado o suficiente para sentir nojo de mim mesmo. Eu amava a Lua, não queria que ela soubesse por outras bocas. Mas também não queria que ela tivesse convulsionado. Eu simplesmente esperei o elevador descer e entrei no carro. Deixei que o trânsito enchesse minha cabeça com as banalidades corriqueiras.
--------------------IG---------------------
Ei abiguinhos! Trouxe mais um cap emocionante aqui na fic. Se gostaram, dêem seu votinho e comentem algo sobre Cellua. Acham que ela vai descobrir sobre a mentira do Cell?
Um beijo 😘,
Um queijo
Fui

Amor de Gatos ❤ R.L CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora