Adivinha com quem eu consegui falar hoje? Eu já estava morrendo loucamente de saudade dela. Com a minha corrida pela busca de um novo emprego, acabei me desligando um pouco de todo mundo da antiga Revista.
Daí Clarice me ligou hoje. Ela não é um amor? Se Maomé não vai até a montanha, então a montanha vai até ele. E Clarice veio até mim.
Fiquei tão animada por falar com ela. Sinto sua falta. Muita. Clarice era a alma e o sol do meu dia. Era incrível como ela conseguia deixar qualquer ambiente com um alto astral incrível.
Clarice tem aquela cara de loira do Texas, com as mechas do cabelo ondulados como se fizesse babyliss todos os dias. Mas há boatos de que são inteiramente naturais. Tem a pele bem clarinha, o que explica porque qualquer pouquinho a mais de blush em seu rosto ela já fica a cara de tomate em pessoa. Em suma, a Barbie humana.
Ela só não é lá muito boa com maquiagem. Lembro o dia em que tentou impressionar os novos sócios no primeiro dia deles na Acontece!. Clarice tentou. Eu juro que ela tentou. Mas foi engraçado aquela chinelada na cara em forma de blush. Provavelmente irei rir daquela cena até o fim da vida.
Mas eu queria poder dizer que Clarice está inteiramente bem e feliz. Que ela conseguiu algum convite para trabalhar em uma mega Editora daquele bando de contato que ela possui na agenda.
Que está super feliz com o novo emprego e agora vamos poder sair para ir a algum pub irlandês comemorar. Porque continuamos com nossas carreiras inabaláveis.
Só que nada disso é real. E a vida de Clarice está longe de ficar desta forma, ao que tudo indica.
Me dói profundamente ver minha melhor amiga – sim, no decorrer dos anos Clarice se tornou bem mais que uma simples colega de trabalho – passar pelo que está passando e vê-la sofrer desta forma.
Já se passaram quatro meses desde que aquele email foi enviado para as nossas caixas de entrada. Desde então Clarice manda email, matéria, liga, entra em contato com uma galera. Até agora nada. Apenas promessas de futuros convites que não passam disso. E silêncio, puro e genuíno.
Só que esta é apenas a ponta do iceberg. Clarice me contou que ela e Charles estavam tendo um casinho. Nada muito sério, mas não significava dizer que ela não gostaria que pudesse virar. Uma relação o suficiente para deixar Clarice completamente mal com o sumiço dele desde o fechamento da Acontece!.
O cara simplesmente fugiu do mapa!
Pobre Clarice. Ela não parava de chorar ao telefone. Eu não sabia o que fazer, tampouco o que falar. Apenas que ela precisava esquecer logo aquele ogro.
Achei que Charles fosse um cara legal. Mas eu já deveria esperar, afinal ele é amigo de nada mais, nada menos que Senhor Fitz.
O que faz um homem sumir assim? Sem total prévio aviso? Custa dizer que não quer mais? Uma atitude tão simples que evitaria tanto sofrimento pela impregnação do "e se" que nossa mente monta. E as milhares de fronhas sujas de rímel.
Evitaria de Clarice ficar chorando todos os dias pensando que ele poderia voltar. Que Charles ainda queira alguma coisa com ela.
Poxa. Minha amiga é tão incrível. Inteligente e bonita. Qualquer cara ficaria feliz por ter alguém como Clarice ao seu lado. Acho isso tão injusto. Ela sofrendo assim dessa forma.
Charles, você caiu por completo no meu conceito. É tão idiota quanto Senhor Fitz. Fazem uma dupla mais que perfeita juntos.
Eu só espero que Clarice fique bem logo. E que, melhor, ela consiga um emprego. Ficar sozinha em casa sem nada para fazer, tendo a mente desocupada, não é uma opção plausível. Uma pena que não posso trazê-la para o meu emprego.
Ou será que posso?
***
Será que havia alguma possibilidade de eu conseguir conversar com Guilherme à respeito de Clarice?
Já na Revista fico pensando em como chegar até ele e falar sobre o assunto. Eu não estaria inteiramente pedindo um favor, afinal Clarice é uma profissional muito competente, né não?
Mesmo assim, eu me sinto nervosa. Estou há tão pouco tempo aqui. Sem contar que o dono disso tudo é o Senhor Fitz. E se Charles falou algo sobre Clarice para ele? E se Charles também trabalha em alguma filial e eu não sei? Acredito que Clarice não se sentiria nada confortável caso tivesse que se encontrar com Charles.
Mas peraí, se a Revista não tivesse acabado e o rolo dos dois não desse certo, Clarice iria o que? Pedir demissão? Não! Ela continuaria com o seu profissionalismo. Então não há problemas.
Pronto! Não há problemas. E eu preciso ajudar uma amiga à beira da depressão.
Então é isso. Vou falar com Guilherme agora.
Caminho em direção a sua sala, que fica no outro corredor do nosso andar. Ouço vozes vindas de lá então desacelero o passo, de modo a fazer o mínimo barulho possível.
Há alguém com Guilherme em sua sala. A porta está entreaberta. Me sinto em dúvida se devo ou não entrar e atrapalhar sua conversa.
Fico na espreita, procurando uma forma de entender sobre o que ele fala e com quem. Se for um assunto aparentemente muito importante eu volto em outro momento.
Chego mais perto da porta. É a voz do Senhor Fitz? Fico ainda mais curiosa.
- Mas o que houve? Soube que Charles estava profundamente empolgado. Até você, pelo que me lembro.
Ouço Senhor Fitz dar um leve riso. Sobre o que eles estão falando?
- Charles se empolga muito facilmente com qualquer coisa. É difícil encontrar um parâmetro com ele.
- Mas você também estava empolgado. E sempre possui opiniões tão fortes e convincentes. Você sempre acerta suas escolhas, não é à toa que sempre é ouvido.
- Sim, e realmente parecia ser muito promissor à primeira vista. Mas ficou apenas na primeira vista. As edições não estavam com as vendas suficientes havia meses. Os cálculos eram insuficientes para mantê-la aberta. E ainda tive o desprazer de descobrir que Charles estava em um relacionamento com uma das funcionárias. Isso faria um tremendo mal para a sua carreira e reputação. Cortei o mal antes que ficasse mais sério. Ela só queria o dinheiro dele. Nada além disso.
- Ainda bem que Charles sempre ouve você.
- Sim. É preciso um pouco de sensatez, e esta infelizmente não é uma das virtudes do meu amigo. Mas agora está tudo em equilíbrio.
Estou boquiaberta.
Então foi ele. Senhor Fitz pediu a Charles para fechar a Revista. E mais, para que terminasse com Clarice. Onde que o relacionamento deles era inapropriado? Em que século estamos? E nossa, Charles é um verdadeiro maria-vai-com-as-outras. Ele não tem personalidade? Precisa sempre ter que ouvir tudo o que o Senhor Fitz ousa dizer?
Por acaso Senhor Fitz é o dono da razão? Onde já se viu. Isso é um absurdo.
Agora minha amiga está aos prantos deitada na cama do seu quarto, com o coração completamente partido e aos cacos, se perguntando rotineiramente no que fez de errado para que Charles partisse e virasse as costas. Enquanto ela está levando a reputação de ser uma aproveitadora?
Até entendo o fechamento da Acontece!. Claro que poderíamos tentar inovar. Buscar mais criatividade e novas ideias para as próximas edições. Senhor Fitz quis desistir. Mas não unicamente pela Revista, mas pelo relacionamento de Charles com Clarice.
O que há com Senhor Fitz? Por acaso isso é assunto dele? O que ele tem a ver com isso? É gay?
Pobre Clarice. Oh céus. Pobre Clarice. Teve que se apaixonar justamente pelo melhor amigo de um verdadeiro bunda mole.
❤❤❤
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Um encontro com Sr. Darcy
Fanfiction"Senhor Fitz me fita com uma expressão que não consigo decifrar. Ele se aproxima de mim a ponto de ficar milímetros de distância. Sinto a sua respiração ofegante. Tão ofegante quanto a minha. Dá até para ouvir as batidas do seu coração. Descompassad...