Capítulo 9

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Eu tinha pedido para não ter mais que esbarrar com Senhor Fitz. Pedi para que ele pudesse nunca mais voltar de viagem. Pedi para sequer ter que ouvir sua voz mais uma vez. Eu só não sabia que seria atendida. Não apenas atendida, mas imediatamente atendida. Com um detalhe que eu não esperava.

E ele não era bom. Nenhum pouco bom.

Sinceramente? Não sei como não caí em desespero. Até quis, mas me mantive forte o suficiente para isso não me abalar. Não daria esse gosto ao Senhor Fitz, mesmo que ele nunca mais soubesse nada sobre mim.

Arruinou a vida do George e da família dele e agora estava arruinando a de todo mundo da Acontece!. É óbvio demais que a ideia de fechar está partindo dele e não de Charles. Petulante.

Realmente não errei meu pré-julgamento sobre ele. Só uma pena que eu quase caí naquela meiguice fingida.

Mentiroso! Você é um verdadeiro mentiroso, Senhor Fitz.

Já estou na segunda semana desde que li aquele email. Nada de nenhum outro trabalho a vista. Consegui finalizar todas as pautas que precisava e da Acontece!, aparentemente, estou livre. Ainda tenho direito a receber por mais dois meses, como estabeleceu Charles, mas é isso.

Elizabeth Sanchez, uma jornalista desempregada. Este é o meu novo status. E agora? Bem, eu não sei. Realmente não faço a maior ideia.

Pensei em viajar. Tirar uns meses para mim e buscar novos ares. Eu não sei.

Ir para o sítio e ficar um tempo com meu pai. Mas ir para lá seria o mesmo que admitir que fracassei e ouvir incontáveis "eu te avisei".

Não estou preparada para isso.

Continuarei tentando. Em algum momento, em algum lugar aparecerá alguma coisa para mim.

Tem que aparecer!


***


Tenho uma entrevista às quatro horas da tarde. Espero dar sorte. É uma revista pequena, também sobre entretenimento, mas estou muito confiante. Preciso muito dessa vaga. Não aguento mais ficar circulando tantos anúncios no Classificados e mandar currículo nos milhões de emails de editoras.

Eu tenho uma boa agenda de contatos, mas esse mercado de trabalho não é nada fácil. E agora estou sentindo na pele.

A entrevista fica em um prédio perto da Avenida Paulista, em uma das ruas abaixo. Alameda Santos. Perto da Starbucks. Acho que essa cafeteria me persegue, mas de um jeito bom. Meu carma – é assim que falam? – deve ser que eu não sobreviveria sem o meu caramelo macchiato cedo pela manhã.

Esta localização ajuda que não preciso ir de carro. Em tempos de crise econômica e mais falta de salário, metrô está em vantagem comparado a combustível mais estacionamento.

Ah, já falei que estou nervosa?

Porque estou, e daí fico tagarelando dentro da minha mente, pensando em um turbilhão de coisas.

Esse medo de fracassar me estremece. Medo de não dar certo. De perceber que minha vida foi em vão e que no fim eu não consegui construir nada sólido e concreto em relação a minha carreira e tenha que voltar para casa.

Eu não posso voltar para casa.

Só de pensar nisso minhas mãos começam a suar e o meu ritmo cardíaco acelera. Ah meu pai, acho que estou tendo um ataque de pânico bem no meio do metrô.

Um encontro com Sr. DarcyOnde histórias criam vida. Descubra agora