Bônus

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4 anos atrás...

Eu já estava cansado do assunto "festa imperdível do Jonas". Tá legal que o cara é meu melhor amigo e tudo mais, mas... Eu não sou obrigado a nada, muito menos achar isso tudo legal.

Fala sério.

Entro na sala e me jogo no meu lugarzinho de sempre: a terceira mesa, ao lado da parede, com vista panorâmica da janela que dá para o incrível grande nada - exceto se você considera o prédio cor marrom uma coisa extraordinária. E ainda por cima está chovendo.

Marilda entra na sala e seu suéter amarelo faz meus olhos doerem. Mesmo ela estando longe o suficiente, posso sentir o cheiro de café que emana dela. A sala toda está com a tão característica cara de peixe morto matinal.

- Bom dia, alunos. - ela saúda com um sorriso enorme estampado no rosto. 40% murmura um "bom dia" tão animado quanto o amiguinho de um velhote de 90 anos. - Como eu disse na semana passada, hoje daremos início à Era Vargas. - sim,  lembro perfeitamente. Assim como lembro da mulher que me pegou no colo quando tinha 6 meses de vida. Ironias à parte. Marilda é a melhor professora de história. - Era Vargas é o nome que se dá ao período em que Getúlio Vargas governou o Brasil por 15 anos, de forma contí... 

Então o barulho de alguém batendo na porta interrompe seu discurso. Ela rola os olhos, soprando uma mecha de cabelo da frente do rosto. Grita um "entre" e a cabeça de Meredite desponta na porta.

- Trouxe mais uma. - a velhota que parece a Roz* resmunga, empurrando uma menina para dentro da sala. - Passar bem. - ela diz.

Ou eu acho que diz, afinal não estou prestando atenção.

Estou completamente focado na garota de cabelos castanhos ondulados parada ao lado da porta. Mas não é em seu cabelo revolto, nem em seu sorriso metálico, muito menos os lábios tão avermelhados que parecem vinho que estou olhando fixamente.

São seus olhos.

Olhos castanhos. Não, não são exatamente castanhos. Parecem uma mistura de mel e o tronco de uma árvore. Ou avelã. Sim, avelã. Ela mantém um sorriso contido e um olhar confiante.

Eu tentei prestar atenção no que Marilda dizia, mas meus olhos sempre desviavam para a garota. Até que ela fala:

- Sou Heather, vim do Texas. - seu sotaque arrastado parece estranho aos meus ouvidos. Faz cócegas.

Três dias depois eu me sinto um completo lunático. Obcecado.

A garota nova é estranha. Estive observando-a.

Também tentei falar com ela. Não só uma ou duas vezes... Foram várias. Mas alguém sempre aparecia primeiro. E isso me deixou irritado pra caramba.

Joana está sentada ao meu lado e intercala o olhar entre mim e Heather.

- Qual o seu problema? - pergunta, franzindo o cenho.

- Nenhum. - respondo vagamente. Jonas está conversando animado com a garota nova. E isso me irrita ainda mais.

- Olhe para mim! - pede e sua voz está manhosa. Eu odeio esse tom. Ugh. Olho para ela com as sobrancelhas levantadas. - Na minha casa depois? - ela sorri e seus olhos brilham com malícia.

Apenas balanço a cabeça. O som do riso alto da garota nova ecoa pelo refeitório.

Então o sábado chega. Encaro meu guarda roupas completamente perdido. Eu não ligo muito para combinar roupa nem nada do tipo, mas estou nervoso pra caralho.

Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora