Domingo, 04:21, Aeroporto de Congonhas.
A vida é tipo uma caixinha de surpresas. Quando você acha que já viu de tudo, ela vem e te surpreende.
Eu achava que o trânsito de São Paulo fosse a coisa mais caótica da cidade... até conhecer o aeroporto.
- Isso aqui tá mais bagunçado do que o quarto do Joey. - Marvin sussurra, observando o tráfego de pessoas zanzando. - E olha que lá é inabitável.
Ontem pela manhã soubemos que a final foi remarcada para daqui uma semana. Ao que parece, ocorreu um problema com a aparelhagem e um dos jurados.
Estamos jogados nos bancos, aguardando o voo. Está atrasado duas horas.
Corey tá meio deitado, meio sentado no banco, abraçando o travesseiro. Marvin tenta achar uma tomada desesperadamente. E Joey... parece estar irritado enquanto digita algo no celular.
- Ei. - cutuco ele com o pé, recebendo um olhar mortífero em resposta. - O que tá pegando?
Ele mexe no celular, me dando em seguida. Gesticula exageradamente para o aparelho. No ecrã uma foto da Ana Júlia com Michel, um dos caras do time de basquete.
- Eles estão ficando. Olha a p0rra da legenda. - sibila, gesticulando mais uma vez.
Na foto, Michel beija a bochecha dela, enquanto ela sorri de olhos fechados. Na legenda o trecho de uma das composições de Joey: "Seu sorriso é o maior furacão que meu coração já conheceu"
- Vocês estão juntos? - pergunto, franzindo o cenho. Joey nunca esteve com alguém por mais de duas horas.
- Não. - desvia o olhar, focando o chão.
- Então por que esse surto?
Agora ele me encara, e posso dizer que nunca vi essa expressão em seu rosto.
- Porque... - suspiro longo. - Como você soube que estava apaixonado? - devolve com outra pergunta, agora mais atento.
- Bem... - começo, sem saber como explicar. - Acho que eu sempre estive. Ela tem aquela coisa com o olhar, não sei. Pode ter sido quando eu senti falta dela no segundo em que ela foi embora. Ou quando me peguei pensando nela mais do que o comum. Nós nunca sabemos, de fato. Só acontece.
Obviamente não foi isso. Quer dizer, em partes. Eu não sei realmente como aconteceu, nem quando.
- E... o que você sentia ou sente?
- É tipo aqueles filmes que nos negamos a assistir. O coração acelera, o ar falta, a raiva em ver alguém que pode tê-la. Não dá pra explicar e me sinto muito gay falando isso pra você.
Joey gargalha por um breve momento. Logo sua expressão se fecha.
- Acho que gosto dela, Cameron. - ele sussurra, como se estivesse esperando uma negação.
Ele dá um salto do banco, esfregando o rosto.
- P0rra, Cameron! Acho que eu mais do que gosto dela.
- Para de gritar, caramba. Tem gente tentando dormir aqui. - Corey resmunga, acertando em cheio o rosto de Joey com o travesseiro.
- Eu estou no meio de uma crise, dá licença. Não é culpa minha você ficar batendo punheta a noite toda ao invés de dormir.
Mais uma hora se passou e, graças a Deus, nosso voo foi anunciado.
Juro que se Joey e Corey abrirem a boca mais uma vez eu os jogo daqui de cima.
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Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)
Ficção Adolescente"Heather Cooper é como a letra de uma canção nunca terminada. Como uma fórmula matemática nunca solucionada. É uma língua nunca explorada. Um paradoxo. Uma fórmula química perigosa. Sua face angelical, nos engana. Porque no fundo, ela é sacana."...