1. Não vá ao Rei&Ryan

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Segunda-feira, 09:45 am, aula de biologia (vulgo tortura medieval), Colégio Columbia.

Um fato sobre Columbia: Sua alma será sugada, juntamente com sua energia. Isso não se aplica caso você seja um verdadeiro CDF, futuro presidente dos EUA. O que não é o meu caso.

Tudo bem trabalhos sobre como a água é importante ou a função das usinas hidrelétricas. Fácil, fácil. Mas agora: explicar a classificação de Lineu, o que é Mackenzie, entre outros monstros da biologia... Tortura nível Idade Média.

Não só porque sou péssimo em biologia. Nada disso. Mas ter Joe Clifford como dupla é uma puta sacanagem. Tá certo que sou um cara admirável e tal... Mas ter Joe como puxa saco oficial é mais do que tortura.

- Cara, aquela música nova é show! - ele exclama pela quinquagésima vez em 15 minutos.

Balanço a cabeça, com meu sorriso exclusivo "Joe-puxa-saco".

Ele disse a mesma coisa na quinta série quando escrevi o poema "Heather texana". É um péssimo poema, sobre uma péssima pessoa. Mas essa é outra história...

Mesmo dia, 14:09, Rei&Ryan, Beira Rio.

Uma das características mais marcantes de Beira Rio é seu ar preguiçoso. É a típica cidade onde amores acontecem. Valentina e Kyle - meus pais - que o digam. Aos 15 anos eles se conheceram na lanchonete mais badalada da cidade: Rei&Ryan. Dois velhinhos simpáticos que fazem promoção para alunos todas as quartas e sextas. Apesar de Beira Rio ser consideravelmente grande, todos conhecem o famoso Grito da morte - sanduíche criado por Ester, falecida de Ryan. Que descanse em paz a velha bruxa!

Marvin suga o restinho de seu terceiro milk shake, enquanto Corey tenta acertar batatas na boca de Joey. Estamos numa reunião super séria, como podem ver.

- Precisamos de uma música, galera. - manifesta Joey, cansado de estar com a boca aberta. - Tudo bem que temos mais de 6 meses para a competição, mas não podemos deixar para as finais.

Suspiramos em uníssono. Compor uma canção. Em 6 meses...

Meus pensamentos são interrompidos com o barulho do sino, indicando a entrada de alguém. E lá estava ela...
Com seus habituais All Star cano médio, short jeans, camiseta de uma banda antiga qualquer e camisa quadriculada. Sua marca. Heather é como uma bola de energia sugadora de atenção. Não pelas roupas que usa, mas sim, sua presença. Sua risada escandalosa e olhos que descobririam um novo continente. Malditos olhos espertos. Eu tinha 13 anos quando a família Cooper veio do Texas. Lembro nitidamente...

Era uma segunda-feira chuvosa, como qualquer outra em Beira Rio. Marilda, professora de história, explicava sobre A era Vargas. Até o som de alguém batendo na porta a atrapalhar. Meredite, a tia do corredor mais assustadora que já vi, empurra "gentilmente" uma garota para dentro da sala. Marilda, sempre simpática, puxou a menina das garras da cosplay de Monstros SA.

A garota fitava todos com seus grandes olhos castanhos. Ela tinha algo de especial no olhar... Era esquisita demais. Usava um macacão que me lembrou um jardineiro mexicano - nada contra os Hermanos calientes!

Durante uma semana a observei, tendo certeza absoluta de que ela era - e é! - esquisita. Para começar: ela não mordia a tampa da caneta! Quem não morde a tampa da caneta? Só pessoas esquisitas mesmo. Ela usava uma camisa flanela diferente cada dia da semana! Apostei meu fone com Mizuro - o China da turma - que em cada uma tinha os dias da semana gravado. Acabei perdendo, pois ele fez amizade com ela dois dias depois e acabou perguntando. Sempre sorrindo para todos e tudo - inclusive o vento. "A garota perfeita!". Porém, certo dia, a vi rir de uma gordinha - que não importa o nome agora - que caiu de bunda na quadra. A-há. Nem tão santinha assim. Isso serviu de inspiração para meu poema, aquele cujo nome não deve ser pronunciado.

Agora, 4 anos depois e nenhuma palavra trocada, mantenho minha opinião: Heather Cooper é a garota mais esquisita que já vi.

- Ei, Libertini! - balanço a cabeça, olhando confuso para Marvin, que sacudia a mão em meu rosto.

- Que foi?

- Você estava fazendo de novo.

- O que?

- Encarando Hea de jeito estranho. - responde Corey, com seu sorriso debochado. Reviro os olhos.

- Heather é estranha. - friso em seu nome, deixando claro que apelidos para ela não são bem-vindos.

- Você que sempre foi paranóico com a garota.

- Lembra quando você achava que ela e a família eram vampiros? - zomba Joey, rindo alto, atraindo atenção indesejada.

- Cala a porra da boca, Joey. - resmungo, jogando um guardanapo sujo nele.

- Relaxa aí, Cameron. A propósito, ela é legal. Até me ajudou com aquele trabalho de física semana passada.

Reviro os olhos para meus amigos traidores.

Entro em colapso ao olhar na direção oposta, constatando que meu maior pesadelo decidiu dizer:

- Oi!

Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora