Terça-feira, 15:35. QG Our Madness, casa do Joey.
As três batidas já familiares para mim soam no "estúdio" abafado. Joey se joga no sofá de couro vermelho, suspirando alto e languidamente. Marvin e Corey o acompanham, todos sorrindo satisfeitos.
- Essa música deveria se chamar Heather. - diz Corey, sorrindo malicioso.
Heather. A garota que grudou chiclete no meu cabelo na nona série. Jogo uma almofada em Corey, acertando sua cara.
- Por falar nisso, a festa de Hailee será quando mesmo?
- Espero que você saiba que esse assunto não tem ligação alguma com o anterior, Joey. - Corey diz, revirando os olhos para a falta de nexo de Joey. - Será sábado. Vamos tocar alguma música nova?
- Se a anfitriã da festa nos permitir, sim.
- Corta essa, Cam. Hailee faz tudo que você quer. Tudo mesmo.
De fato, é a verdade. Hailee é louca por mim desde... Bem, desde que a puberdade me deu uns bons centímetros e massa muscular a mais do que os adolescentes do velho Colégio Columbia.
Há quatro anos atrás, Corey e eu tivemos a brilhante ideia de montar uma banda - no ápice da puberdade e a descoberta do poder das mãos, se é que me entendem. No começo parecíamos umas gralhas gritando e tudo era uma completa desordem, o que fazia Bernadete - vizinha do Joey - gritar o tempo todo para calarmos a boca e nos chamar de loucos. Daí o nome Our Madness. Mas sempre que nos perguntam o significado do nome dizemos qualquer coisa ligado ao "jeito gótico de ser". Ninguém precisa saber, não é mesmo?
Naquela tarde, decidimos as músicas para a tal festa de boas-vindas de Hailee, na qual ela concordou prontamente com aquele estúpido sorriso cheio de segundas intenções. Temo que a qualquer momento serei abusado sexualmente.
🎶
Quarta-feira - 07:15, Colégio Columbia.
Na manhã seguinte, obrigo minhas pernas a correrem em direção a sala da impiedosa Norma, professora de biologia. Não sou o tipo que tira notas baixas, nem nada do tipo. Mas biologia e Norma juntas... é a pior combinação que alguém poderia ter feito.
O cheiro de produto de limpeza impregna meu nariz, fazendo-o coçar. Aquele corredor nunca pareceu tão longo.
Com um suspiro aliviado, alcanço a maçaneta fria da porta, com a sensação de que a Cruela não está do outro lado. Sonhar é de graça...
Não poderia estar mais enganado.
Norma ajeita a armação de seu óculos fundo de garrafa, com sua típica expressão de tédio supremo. Um sorriso tão falso quanto suas unhas pairando nos lábios.- Resolveu dar o ar da graça, Libertini? - indaga, cruzando os braços.
Sorrio amarelo.
- Não perderia sua aula por nada nesse mundo. - lanço meu melhor olhar inocente, recebendo um revirar de olhos.
- Vá logo se sentar. - resmunga.
Corro os olhos pela sala, procurando rostos conhecidos. Vou em direção a carteira vazia ao lado de Peter Parker - isso mesmo: Parker. Afundo na cadeira enquanto Norma explica algo sobre um tal de Mendel, lei da pureza dos gametas, ervilhas e qualquer outra coisa no seu grego fluente. Pelo menos para mim.
Mais tarde, naquele dia, eu e os rapazes fritamos nosso cérebro. Corey, o mais sensato do grupo, nos inscreveu numa competição musical, onde cada membro do grupo, caso chegasse a final, tem que compor uma música. Todos já tinham suas músicas prontas. Menos eu. Otimismo é isso, senhoras e senhores.
- Cara, você precisa andar logo com isso. Não temos a vida toda. - resmunga Marvin.
Há três semanas ouço o mesmo discurso de que preciso de uma música. Já tentei diversas vezes, usando diversas coisas como inspiração. Meu cachorro que fugiu e etc...
Nada.
- Você não está gostando de ninguém? - pergunta Corey. Abro a boca para responder, mas sou interrompido por Joey.
- Não vale sua vizinha que troca de roupa com a janela aberta!
- Então, não.
The World Bands é uma das maiores competições musicais dos últimos tempos. A banda vencedora receberá um prêmio de 20 mil para cada participante e um contrato de dois anos com a gravadora Moment - gravadora de grandes bandas como The Killers, Hey Jude! e Abnormal. O que significa que estamos desesperados para conseguir a última música necessária.
- Vamos te dar só mais um mês para ter uma música pronta ou estaremos fora da competição. E adeus Our Madness. - diz Corey, saindo em seguida.
- Pedro ligou hoje. - diz Marvin, brincando com uma bola de baseboll - Ele pediu para lembrar que o dinheiro que ele gasta com tinta para cobrir os cabelos brancos causados por nós o está levando a falência. E que é bom você dar um jeito nisso logo.
Pedro Leão é nosso empresário. E tem uma grande cisma comigo.
Na volta para casa, divago sobre possíveis letras para uma boa música. Ouço um grito agudo. Levanto a cabeça a tempo de ver um enorme cachorro correndo em minha direção. Fico estático, como sempre me disseram para ficar caso algo assim acontecesse. Mas... put* que pariu... o cachorro é enorme. No momento seguinte só sinto duas patas em cima do meu peito e o asfalto quente queimar minha mão.
- Oh meu Deus, me desculpe! - diz uma voz ofegante. - Clement saía já de cima do rapaz. Menino mau. - ralha a garota.
O tal Clement sai de cima de mim.
- Mil desculpas. Ele te machucou?
Abro os olhos rapidamente ao reconhecer a voz. Ela me encara, confusão brilhando nos olhos. Tenho certeza que minha cara não é das melhores. Levanto com dificuldade, passando a mão pelo corpo, tirando sujeiras invisíveis.
- Estou bem. - respondo finalmente.
- Tem certeza? Você parece um pouco pálido.
Heather coloca a palma da mão em minha testa. Estremeço com o toque. Desvio de seu contato, encarando seu rosto. E lá estava aquele olhar.
- Eu estou bem. - afirmo - Mas você deveria ser mais responsável e não deixar esse monstro andar por aí sem coleira.
Heather arqueia as sobrancelhas, me lançando o olhar que mais odeio: superioridade.
- Que bom que está bem, Libertini. Mas da próxima irei garantir de deixá-lo arrancar suas bolas inúteis. Passar bem. - dizendo isso, vira as costas, puxando Clement consigo. Suspiro, frustrado.
Agora tenho um grande problema com a queridinha de Beira Rio.
E mais... Ainda não tenho uma música.
Heather Cooper... você me paga!
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Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)
Novela Juvenil"Heather Cooper é como a letra de uma canção nunca terminada. Como uma fórmula matemática nunca solucionada. É uma língua nunca explorada. Um paradoxo. Uma fórmula química perigosa. Sua face angelical, nos engana. Porque no fundo, ela é sacana."...