20. Você acha?

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Sábado, 2009, 15:17, parque Neolasco

- Garotas não caçam minhocas. - sussurro para a garota, cruzando os braços. Ela dá de ombros e continua sua caça.

- Garotos não se intrometem onde não são chamados. - ela levanta, afastando os cabelos do rosto com o dorso da mão, fazendo grãos de areia caírem em suas bochechas.

- Minha mãe diz que eu sou muito curioso. - dou de ombros e ela me ignora. - Crianças são curiosas.

Seus cabelos parecem calda de chocolate sob o sol. Eu estava procurando minha bola quando a vi agachada revirando a terra do parque. Ela é pequena e branca demais, o que me lembra um palmito. Então sua cascata de chocolate me chamou atenção.

- O que está fazendo? - ando até onde ela está, olhando de cima os buracos que ela fazia.

Um, espaço, dois, espaço, três. Um saquinho pousava ao lado de seus pés e um regador em formato de elefante logo a frente.

Ela olha para mim e pega o saquinho.

- Isso se chama semente. A terra é como nossa mãe e ela, nosso pai. Colocamos a semente dentro da terra e geramos uma vida.

- Eu sei o que é uma semente, garotinha. - rolo os olhos e ela me lança um olhar interrogativo. - Aliás, crianças da nossa idade não deveriam saber essas coisas. É pervertido.

- Você sabe. - ela aponta, ainda cavando.

- Você não conhece minha mãe. - resmungo e sento na grama. - Você é nova aqui?

Ela tem um jeito engraçado de falar, meio enrolado. Sua língua parece dar uma volta na boca e fica entre os dentes.

- Não sou daqui. Sou do Texas.

Balanço a cabeça em concordância. Eu sei lá o que diabos é Texas. Ela enterra as sementes e parece medir a profundidade e a distância entre cada uma. Levanta e pega o regador, despejando uma quantidade generosa de água ali. Por fim, leva as mãos até o quadril e dá um sorriso vitorioso.

Ela tem aquela "janelinha" entre os dentes da frente e sardas no nariz.

Mas estou mesmo intrigado com seus olhos. Parecem duas amêndoas e parecem brilhar.

Uma camiseta laranja pequena contrasta com a pele branca; o macacão jeans faz com que ela pareça um menino. Mas apenas de costas.

Geralmente eu não gosto das garotas da minha idade. Elas são nojentas e têm voz irritante. Sem falar que são manhosas demais, birrentas demais, choronas demais, chatas demais e legais e interessantes de menos.

Menos ela.

- Cameron!

Levanto rapidamente e limpo minha calça. Minha mãe está me gritando e não quero despertar a loucura dela.

Ela pega o regador e o saco com as sementes, colocando-as no bolso da frente do macacão.

- Ér... tenho que ir... - murmuro, sem jeito. Ela me deixa um pouco nervoso. - Nos veremos de novo?

Ela me olha como se eu fosse a criatura mais burra do universo. Sobrancelhas arqueadas e tudo mais.

- Não vamos nos ver novamente.

Ela acena e gira nos calcanhares, caminhando para longe.

E eu só consigo ficar parado vendo a única garota que eu gostei de falar indo embora.

Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora