Sábado, 2009, 15:17, parque Neolasco
- Garotas não caçam minhocas. - sussurro para a garota, cruzando os braços. Ela dá de ombros e continua sua caça.
- Garotos não se intrometem onde não são chamados. - ela levanta, afastando os cabelos do rosto com o dorso da mão, fazendo grãos de areia caírem em suas bochechas.
- Minha mãe diz que eu sou muito curioso. - dou de ombros e ela me ignora. - Crianças são curiosas.
Seus cabelos parecem calda de chocolate sob o sol. Eu estava procurando minha bola quando a vi agachada revirando a terra do parque. Ela é pequena e branca demais, o que me lembra um palmito. Então sua cascata de chocolate me chamou atenção.
- O que está fazendo? - ando até onde ela está, olhando de cima os buracos que ela fazia.
Um, espaço, dois, espaço, três. Um saquinho pousava ao lado de seus pés e um regador em formato de elefante logo a frente.
Ela olha para mim e pega o saquinho.
- Isso se chama semente. A terra é como nossa mãe e ela, nosso pai. Colocamos a semente dentro da terra e geramos uma vida.
- Eu sei o que é uma semente, garotinha. - rolo os olhos e ela me lança um olhar interrogativo. - Aliás, crianças da nossa idade não deveriam saber essas coisas. É pervertido.
- Você sabe. - ela aponta, ainda cavando.
- Você não conhece minha mãe. - resmungo e sento na grama. - Você é nova aqui?
Ela tem um jeito engraçado de falar, meio enrolado. Sua língua parece dar uma volta na boca e fica entre os dentes.
- Não sou daqui. Sou do Texas.
Balanço a cabeça em concordância. Eu sei lá o que diabos é Texas. Ela enterra as sementes e parece medir a profundidade e a distância entre cada uma. Levanta e pega o regador, despejando uma quantidade generosa de água ali. Por fim, leva as mãos até o quadril e dá um sorriso vitorioso.
Ela tem aquela "janelinha" entre os dentes da frente e sardas no nariz.
Mas estou mesmo intrigado com seus olhos. Parecem duas amêndoas e parecem brilhar.
Uma camiseta laranja pequena contrasta com a pele branca; o macacão jeans faz com que ela pareça um menino. Mas apenas de costas.
Geralmente eu não gosto das garotas da minha idade. Elas são nojentas e têm voz irritante. Sem falar que são manhosas demais, birrentas demais, choronas demais, chatas demais e legais e interessantes de menos.
Menos ela.
- Cameron!
Levanto rapidamente e limpo minha calça. Minha mãe está me gritando e não quero despertar a loucura dela.
Ela pega o regador e o saco com as sementes, colocando-as no bolso da frente do macacão.
- Ér... tenho que ir... - murmuro, sem jeito. Ela me deixa um pouco nervoso. - Nos veremos de novo?
Ela me olha como se eu fosse a criatura mais burra do universo. Sobrancelhas arqueadas e tudo mais.
- Não vamos nos ver novamente.
Ela acena e gira nos calcanhares, caminhando para longe.
E eu só consigo ficar parado vendo a única garota que eu gostei de falar indo embora.
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Como resistir a Heather Cooper (Em revisão)
Teen Fiction"Heather Cooper é como a letra de uma canção nunca terminada. Como uma fórmula matemática nunca solucionada. É uma língua nunca explorada. Um paradoxo. Uma fórmula química perigosa. Sua face angelical, nos engana. Porque no fundo, ela é sacana."...