3. PERDIDO

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Brasil, Rio de Janeiro, Hospital Tavares de Souza, ano de 2333

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Brasil, Rio de Janeiro, Hospital Tavares de Souza, ano de 2333.



VINTE ANOS se passaram e veio uma nova vida.

Abri meus olhos e uma luz ofuscou a visão. Não conseguia distinguir os vultos à frente e nem os sons. Tudo estava brilhante e embaçado. Não conseguia mexer o corpo, apenas os olhos. Não sabia onde estava e nem quem eu era. Sentia angústia e a mente opaca.

Aos poucos a visão melhorou e senti que podia movimentar os dedos dos pés. Veio um silêncio. Pavoroso. A imagem de uma feição feminina com olhos lúcidos e tão castanhos quanto a pele ficou nítida. Ela movia os lábios e dizia algo.

Havia pessoas vestidas de branco ao redor do meu leito, pareciam espantadas e felizes. Um homem, um médico, tomou a frente da moça, começou a gesticular e falar. O silêncio continuava a imperar.

De repente, sons surgiram fazendo um estampido agudo em meus ouvidos. Pude então compreender o que o médico dizia:

— Ele voltou!

Não sabia de que lugar eu tinha voltado, e se algum lugar realmente existia ou fazia sentido.

Fui tranquilizado com massagens e acupuntura, feita por pequenos robôs em forma de insetos. Continuei não conseguindo falar, nem me movimentar com desenvoltura. Transferiram-me para um quarto aconchegante, sarcasticamente com vista para florestas e montanhas, cheias de mistério e tristeza. Um verde que me alegrava e aterrorizava, sem motivo aparente.

Meu raciocínio era letárgico. O tempo passava como em câmera lenta. Devo ter ficado uma semana sonolento, não sabendo distinguir sonhos da realidade. Pensando bem, agora também não consigo reconhecer com exatidão as diferenças. Sonhos e realidades são, em muitos casos, aparentemente a mesma coisa.

Existe um bloqueio em minha mente, ainda existe. Mesmo aqui no deserto não me lembro de todo o meu passado. Naquele momento, no hospital, eu não tinha sequer uma lembrança sobre mim, nada, apenas sensações e informações desconexas de tempos remotos que me vinham em flashes.

O acidente, minha família, minha profissão, toda a turbulência de uma longa vida, tudo esquecido. Somente uma névoa, espessa e cruel.

Quando tive alguma melhora, colocaram-me em uma cadeira flutuante, amarraram o meu corpo nela e me levaram pelas instalações do hospital. Sim, cadeira flutuante. Vocês, meus receptores de tempos arcaicos, ficariam de queixo caído se vissem uma.

Os corredores eram iluminados e as portas, transparentes, pareciam líquidas. Vi salas para diversos tipos de tratamento. Um local organizado e limpo. O cheiro de lavanda remetia a limpeza e cuidado. As luminárias e os móveis dos quartos e corredores eram de material reciclado, percebi pelos símbolos. Tudo colorido, extravagante e flutuante.

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