"Coraline"
"Coraline"
Algo ecoava de fora, fora da minha mente... Aquela escuridão já quase fazia parte do meu corpo. Acordar? Para quê? Aquilo era o inferno.
"Coraline!"
Sinto algo molhado em meu rosto, pouco a pouco vou entrando na realidade de novo.
- Para! - Falo, me mexendo de um lado para o outro.
- Acorde. - A voz fala apressada.
Abro meus olhos... A escuridão ainda residia ali, volto meus olhos para o lado, onde tinha um bolo preto.
- Você tem que sair daqui! - O pequeno bolo fala.
Mas não era um bolo preto, e sim o gato, seus olhos azuis expressavam o medo.
- Gato... O que aconteceu? - Pergunto, me levantando devagar.
- Você desmaiou. - Fala ele, com tom de preocupação.
- Cadê a outra mãe? O que você fez com ela? - Pergunto olhando para os lados, e ao mesmo tempo me vem todas aquelas crianças em minha mente... O gato corta esses pensamentos.
- Ela está a sua procura, não deves enrolar. Saia daqui! Esse lugar não é grande o suficiente para você se esconder. - O gato parecia realmente estar muito preocupado.
Me aproximo dele e digo:
- Não! Eu não vou fugir. Eu a encontrarei e a derrotarei... - Minhas palavras soaram um pouco arrogantes, e fizeram o gato abaixar a cabeça.
- Você não vai desistir não é? - Ele diz com a cabeça baixa.
- Desistir? Para que? Para continuar tudo de novo? Não! Se ela me atraiu até aqui, então, que seja! Vou lutar. - Olho ao redor, procurando alguma estrada, ou algo do tipo.
- Você é muito corajosa para apenas uma garotinha. - O gato levanta a cabeça.
- Ela me fez ser, ao menos uma coisa boa ela me proporcionou. - Digo olhando em seus olhos. Continuo:
- Gato... Eu vou enfrenta-la. - Pego em sua cabeça.
E com um pequeno sorriso ( de gato, se é que existe ) ele fala:
- Contanto que você não me jogue em cima dela de novo... - Eu sorrio, e o olho. Nesse mesmo instante, uma coisa da qual a outra mãe falara pra mim, martela em minha mente, e sem pensar, eu pergunto:
- Quem é Magnus? - Vejo o gato paralisar, seus olhos ficam vidrados, era como se ele estivesse entrando em um tipo de transe.
Chamo sua atenção:
- Gato?!
Ele pisca, e balança a cabeça, olha para a lua que estava acima de nós, e sem olhar diretamente para mim, ele conta uma história.... A sua história.
- Eu poderia começar com um "Era uma vez..." Mas não, não posso, porque ela ainda vive, essa história nunca poderia estar mais viva... - Ele começa a andar, em direção ao nada da floresta sombria, eu o acompanho, vagarosamente. Ele continua...
- Foi numa bela tarde de domingo, o sol brilhava intensamente. O palácio rosa recebia uma visita, não qualquer visita. O barão e o seu filho Magnus... Vieram ver a Baronesa da qual já era viúva, e sua filha... Julieta, que estava prometida ao jovem Magnus.
Ele parou por um instante de falar. E apenas caminhávamos a luz do luar, seu olhar estava tão triste. Eu estava apenas calada, olhando para ele, e pensando em como aquilo tudo era assustador. Ele parou, perto de um gramado, onde tinha muitas flores lilases, e continuou a contar tal história:
- Entre eles, Magnus e Julieta, não havia amor nenhum, pesar de ela ser muito bonita, ele era de fato, apaixonado por outra. Já ela, gostava dele, ou imaginava que sim. O tempo passou, e os dois casaram, o melhor casamento, a melhor festa, o palácio cor de rosa foi herdado a Julieta, onde os dois passaram a morar. O amor surgiu, quando ambos souberam que estavam esperando um lindo bebê... Mas Julieta tinha problemas, sua gravidez era perigosa, pondo em risco não só o bebê mas também a ela. O médico os visitava quase que semanalmente, quando, em um dia, Julieta passou mal e começou a sangrar... Magnus chamou o médico. Julieta estava mal. Nada estava indo bem, e ao passar dos dias, Julieta melhorou e começou a sair para algum lugar. Sozinha. Magnus não sabia aonde ela iria, pois ela não deixava que ele a acompanhasse. Mas ficava preocupado.
Infelizmente isso não foi o bastante para que ele não a traísse com a empregada. Julieta descobriu a traição, e os dois discutiram muito... - O gato novamente para de falar, e de seus olhos escapa uma lágrima. Aquele lugar ficava a cada minuto mais triste e frio.
Ele continuou:
- Magnus saiu do palácio em direção ao jardim em frente da casa, e ali ficou. Um grito surgiu de dentro do palácio. Ele correu, e ao chegar no quarto Julieta estava caída, arrodeada de sangue, Magnus tentou pedir alguma ajuda... Mas era tarde demais. Ele se aproximou dela, ela pegou em sua cabeça, e a puxou para perto de seus lábios e com palavras secas disse: Eu o amaldiçoou, como um ser negro você viverá e eternamente vagará.
Então ela o fura nas costas, com algo pontiagudo... A dor foi quase que incontrolável mas o beijo que ela dera nele, o adormeceu... E a escuridão o tomou de conta. Mas ainda não tinha terminado, ele acordara, mas, não da mesma forma, algo estava diferente, falar já era impossível, seu corpo estava coberto de um pelo negro, e patas tinham no lugar de seus braços e pernas. Magnus tinha sido amaldiçoado por sua mulher. E nada era pior. Um gato que jamais morre. Que jamais descansa.
- Gato... É você. - Falo com tremedeira na voz, mesmo não sendo uma pergunta, ele responde:
- Sim, eu sou Magnus. - Meus olhos ficam arregalados.
" Como assim? Estou ficando louca!" - Pensei.
- E antes que você pergunte. Sim. Julieta é/era a que foi sua outra mãe...
E o medo de tudo aquilo, volta ao meu corpo... Perfurando a parte mais profunda e escura.
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Coraline - A segunda Chave
FantasiaLIVRO COMPLETO * PLÁGIO É CRIME CONFORME A LEI Nº9.610 de 19 de fevereiro de 1998 * O vento batia forte em minha janela, galhos arranhando o vidro, era como naqueles filmes de terror, só que sem um monstro. Embrulho-me e fecho os meus olhos, tento e...