Capítulo 05

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Uma mistura do azul do céu e do cinza das nuvens.

LUKE OU LUCAS, tanto faz, teve que voar para minha casa para eu tentar chegar a tempo na escola. Eu apenas troquei de roupa e entrei no carro do papai. O cheiro de flores era às vezes enjoativo, mas eu gostava. Kaylee já tinha ido para a escola no ônibus escolar, e nem era por escolha dela. Ela geralmente amava. Dizia que lá tinha uns amiguinhos que não conheciam Jesus, e que ela deveria falar dEle para eles.

Eu acho engraçado. Nem por um bilhão de dólares eu chegaria a alguém e diria quem era Jesus. Por vergonha, por medo de falar e ser enxotada, ou simplesmente porque, como aquilo não era uma verdade absoluta para mim, seria uma mentira descarada.

– Animada para o verão? – papai quebrou o silêncio enquanto estávamos no carro.

– Mais ou menos, o senhor nunca me disse para onde nós vamos.

– Primeiro iremos para um lugar que se chama Kleinestal. É uma cidade desconhecida por muitos norte-americanos, mas foi de lá que eu vim.

Kleinestal? – repeti. – Ual. Realmente nunca ouvi falar.

– Você vai gostar. Temos uma programação bem legal. Kleinestal, depois, para Geloven e por último, Eikatso.

Fiz uma careta, que eu imagino que papai tenha notado, pois sorriu.

– Você ainda pode mudar de ideia.

– Não, obrigada. Prefiro ir para klatal, ishatzo e para eloven do que ficar em casa.

– Vai ser um grande verão, pequena. Acredite em mim.



O horário bateu exatamente na hora que eu cheguei, e graças a Deus, eu cheguei a tempo. É um pouco aleatório, e eu não deveria ter notado, mas realmente eu tinha acabado de falar "graças a Deus".

Dave não me incomodou. A professora não chamou ninguém para me levar até minha cadeira, então dessa vez foi tranquilo. De qualquer forma, não me contive e olhei para ele. Ele era realmente bonito, mas tinha algo que era tão escondido dentro dele. Eu tinha um livro, uma Bíblia e anotações aonde o seu pai fala coisas horríveis dele. É quase como se eu estivesse descobrindo Dave e o conhecendo em sua pior versão.

Teve uma hora, durante a aula, que eu tinha certeza que ele estava me olhando. Não só pela posição da cabeça, mas porque eu olhei para ele também, e nossos olhares se encontraram. Ele estava sentado do meu lado, e devido a minha falta de visão periférica, não tinha dessa de olhar para uma pessoa de canto de olho para ela não perceber. Eu aprendi a ter que encarar realmente as pessoas para ter o que eu queria.

Eu desviei a cabeça na mesma hora, claro. Não pretendia que Dave Collins tivesse mais repulsa por mim, ou que me magoasse mais. Talvez porque isso me traria mais raiva dele, e eu não queria sentir raiva dele.

Fui para o almoço um pouco receosa. Ele sempre aparecia, nem que fosse apenas para me olhar com sua cara mais amedrontadora possível, ou para fazer piadas enquanto passava por mim, e eu normalmente iria chorar no banheiro após isso. Já tinha virado uma rotina.

Peguei meu almoço e caminhei para uma mesa vazia. Dave Collins apareceu logo depois, e dessa vez longe dos amigos. Ele me olhou, e continuou caminhando até mim. Na verdade parecia que estava me procurando.

– O que você estava fazendo na minha casa? – ele sentou-se ao meu lado. O mais perto que Dave tinha ficado de mim sem ninguém por perto para ver o que ele iria fazer.

Seus olhos não eram como o do irmão. Os olhos de Luke eram transparentes para mim, e os de Dave eram enigmáticos. Enquanto os de Luke lembravam o azul nítido e brilhante de uma manhã, os de Dave lembravam mais o azul da noite, e por isso eu não podia vê-los.

Abra Os OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora