O meu final pressuposto.
A MINHA ESCOLA ATRASOU bastante em chegar às férias, afinal algumas escolas estavam já há três semanas. Porém, além de hoje ter sido o dia tão esperado pelos alunos, também foi o dia esperado por todos os cidadãos de Estados Unidos. Era a véspera do dia da independência.
Era o nosso primeiro Independence Day sem o vovô. Ele sempre fazia o churrasco de hambúrguer com salsicha. Era a nossa tradição nacional e também pessoal, porque o vovô era o melhor nisso. Nós ficávamos espiando da calçada a queima de fogos até o último segundo, e o vovô sempre ficava cochilando na madrugada, até acordar umas cinquenta vezes assustado com o barulho dos fogos e me fazendo rir em todas as vezes.
Mas esse ano tudo parecia estar morto. Minha mãe tinha saído para festejar com os amigos, e só restava eu e a minha irmã. Ainda lembrava a sensação de que aquilo duraria para sempre, o sorriso despreocupado, as rugas do vovô se movimentando de lá para cá, e o sentimento de alegria que eu sentia por estar perto dele. Tudo se passando em conformidade, e na minha cabeça, em câmera lenta. Eu de todos eles era quem mais amava tudo aquilo. Aquelas engenhocas luminosas invadindo a minha imensidão limitada me faziam ter a sensação de que eu também poderia alcançar o céu.
Quando Kay nasceu, vovô passou a fingir seus sustos para ela, e eu me tornei a sua cúmplice. Porém, ele havia ido embora, e hoje estava só eu e ela em casa, assistindo a programação especial do feriado tão querido. Todos pareciam estar se divertindo muito lá fora. Principalmente exatamente agora, que tinha acabado de dar meia noite. Luke bateu à porta exatamente nessa hora, como tinha prometido. Com ele estavam a pequena Sara, que entrou direto para o quarto de Kaylee, e uma garota e um garoto que eu não conhecia.
Eles chegaram pulando, os três com a cara pintada de listras azuis e vermelhas. Pareciam ter acabado de chegar de algum lugar bem agitado.
- "Happy Fourth of July" - os três gritaram, em uníssono, fazendo gestos com a mão, como se fosse uma apresentação.
A menina era baixinha, e o garoto um pouco mais alto que ela. Ambos, pelo que pude ver, eram magricelos e ruivos, mas não tendo nenhuma outra semelhança física além da cor do cabelo.
- Oi - eu disse meio encabulada.
- Viu? Eu disse que ela ia nos achar estranhos se chegássemos gritando - a menina cochichou para o outro rapaz.
- Oi, Sky - Luke saudou - Esses são meus amigos, Tina e Peter.
Os dois fizeram uma reverência engraçada, que eu agradeci por ter visto. Aquilo sim foi engraçado. Os dois pareciam engraçados.
- É um prazer, darling - Tina disse. - Lucas nos falou bastante de você. - Ai - ela gritou, e olhou para o outro menino, como se tivesse levado um beliscão ou algo assim.
- Sim, é verdade. - Peter concordou. - Já conhecíamos você em oração - disfarçou. Eu não era tão inteligente, mas não era tão ingênua assim.
- Querem algo? Quer dizer, comer? - perguntei assim que os dois estranhos - Luke não era um deles, não mais - entraram em casa.
- Eu quero - Tina foi a primeira.
- Ela só está sendo Educada - Peter balançou a cabeça - Você realmente não entende nada, não é? - resmungou.
- Eu não como há duas horas - ela se justificou.
- E ainda assim acha pouco?
- Sim, e por que você se preocupa tanto, Peter?
- Porque você vai ficar gorda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Abra Os Olhos
SpiritualUma jovem cética, questionadora, e que está ficando cega. Diagnosticada com retinose pigmentar desde criança, Skyller Reed tem uma vida simplória e dramática de uma menina cheia de máscaras que escondem fragilidade e um coração enorme, onde irá entr...