Aviso de capítulo grande e lindão. Conselho de votar e comentar em tudo. Desejo de boa leitura à vocês. Beijos e pasteis para ser fofa. Chega.
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Obra do acaso.
HOJE O TORMENTO estaria mais perto de chegar ao fim. Hoje eu tinha uma das provas, mas ainda não a última. A minha escola era uma das melhores da cidade. Era particular, ou seja, só havia os filhos dos ricos. Eu antes estudava numa escola pública, mas então meu avô conseguiu uma bolsa para mim aqui por conta da minha doença. Vovô conseguia convencer todo mundo. Ele era um artista, ele tinha seus métodos, ele sabia como ganhar as pessoas. Kaylee se parecia muito com ele.
Assim sendo, eu e mais uns trinta alunos temos mais regalias do que os outros. O preço do lanche era menor, todos tinham obrigação de tratar bem a gente - essa nunca foi cumprida -, atrasos, falta e coisas do tipo nunca contaram para nós, então tínhamos muitos privilégios que os outros não tinham. O dono da escola era o maior médico cardiologista da cidade, então os pais de filhos doentes abusavam da caridade dele, e os demais alunos da escola praticamente queriam nos extinguir por causa disso.
Esses alunos, contudo, não eram excluídos como eu. Tinha o grupo dos cadeirantes, o grupo dos portadores de câncer, dos que tinham síndrome de Down, e tinha até o grupo dos provavelmente aidéticos, onde Dave fazia parte. Comecei a rir com esse pensamento. Eu estava na cadeira, esperando a prova chegar, e rindo sozinha por causa dos aidéticos.
Endireitei meus ombros e esperei a aplicação da prova. Sentia um embrulho no estômago, e a quase certeza que eu me daria muito mal na prova. Pensei na minha mãe. Nunca fui motivo de orgulho para ela, e realmente não me importava. Pensei em Kay. Ela sempre deu orgulho por onde quer que passe, era natural dela. Pensei no meu avô, que sempre acreditou em mim. Ele sempre me dizia que não importa a nota, o importante é que eu tinha aprendido. "Não é nota que me dá orgulho de você, Sky, é o quanto eu vi você se esforçar para isso".
Mas agora as coisas mudaram. Se eu repetisse o ano então muito provavelmente eu perderia a bolsa, e minha mãe me ridicularizaria. Ela nunca se importa comigo, mas se importa quando eu me tornava um maior fracasso. As palavras delas podem ser as piores possíveis quando se trata do seu ego materno. Eu até entendo ela: já tem uma filha cega e inútil. Reprovada seria um brinde mais humilhante ainda.
A prova chegou e então o meu pavor aumentou ainda mais. Peguei minha caneta, respirei fundo, e olhei para a prova. Quando fui escrever meu nome, eu não enxerguei a linha. Eu não enxerguei mesmo.
Inspirei. Expirei. Tudo ficaria bem. A prova é só mais um obstáculo.
Mas realmente havia se apagado. O pânico aumentava à medida que eu balançava minha cabeça em busca de enxergar a linha. Parecia que tudo estava indo embora gradativamente, como uma animação especial. Comecei a inspirar mais vezes, de forma que eu me esquecia de expirar. Eu parecia que estava com uma crise de asma, onde na verdade, era pura ansiedade e medo de realmente não poder ver mais a prova.
Isso é bobagem. É coisa da sua cabeça. Você não pode ficar cega assim de repente. Isso não é possível, você ainda tem muitos anos pela frente até lá. Para quê temer? Só porque você sabe que não tem capacidade para passar de ano e dar orgulho para alguém na sua vida? Isso também é bobagem. Aceite seu porvir, ele pode estar realmente por vir.
Chegou uma hora que eu só via pedaços da folha em branco, mas até isso tinha se apagado, e minha cabeça pesou de tal forma que eu só consegui olhar para o chão. Olhei de novo para a prova, e me espalhei na cadeira, achando forças nas mãos para virar e revirar aquela prova em busca de algo.
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Abra Os Olhos
SpiritualUma jovem cética, questionadora, e que está ficando cega. Diagnosticada com retinose pigmentar desde criança, Skyller Reed tem uma vida simplória e dramática de uma menina cheia de máscaras que escondem fragilidade e um coração enorme, onde irá entr...