Vicent

55 8 2
                                    

Ao que David calculava, já devia ter feito uns vinte minutos desde que saiu daquela casa, e partiu atrás de Vincent. Imaginou que logo estaria de manhã novamente. Isto é, se houvesse mais alguma manhã por ali. Já estava em frente a rua que dava entrada ao beco, e entrou. David sabia que Vincent não estaria ali, mas também não imaginava nenhum outro lugar seu amigo estar, então, precisava arriscar. Jurou a si mesmo que quando o encontrasse iria logo lhe dar um soco na cara por ter sumido desse jeito.


Logo, um cheiro forte de carniça começou a passar pelo nariz de David. Era insuportável. David não via nada, mas imaginou que ali devia ter dezenas de corpos apodrecidos. Ele não ligou para o cheiro, e continuou. Sua cabeça estava confusa, seus pensamentos estavam rápidos, imaginava que Vincent devia estar morto, que, em meio aqueles corpos, o de Vincent estaria ali, que ele mesmo iria morrer em breve.

Quando estava prestes a chegar ao local onde desmaiou, um barulho horrível deixou David ainda mais assustado, deu um salto para trás. O som era parecido com quando alguém devora rapidamente alguma coisa. E podia ser Vincent.

"Mas também pode não ser" pensou David. De qualquer forma, David precisava saber o que era, e, ao direcionar sua lanterna para onde vinha o barulho, David Ficou paralisado.

Lá estavam dois cachorros, de aparência assustadora, devorando um corpo humano.
O que mais deixou David apavorado, era a aparência dos cães, que para ele, era impossível que um ser vivo tivesse aquela forma. A pele das criaturas pareciam ser toda queimada, em certas partes seus ossos estavam aparecendo, em outras grandes buracos, onde nem ossos mais existiam. Um deles, David pode ver que não tinha língua. O outro não possuía um rabo, nem as orelhas. Os animais nem ligaram para a luz da lanterna de David. Respirou fundo e fechou os olhos, abriu-os novamente e pode ver.

-VINCENT!!??? - Gritou David com agonia. Aquele suéter branco, o cabelo e cavanhaque loiros, identificou rapidamente quem era. E David não pode acreditar no que via. Ficou paralisado, enquanto os cães vinham em sua direção, calmos, como se estivessem preparando o ataque.

David percebeu os cães, e logo começou a correr, para não ter o mesmo destino que seu melhor amigo. "Não, não pode ser ele!" pensava enquanto corria com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ao olhar para trás, viu que em menos de 2 minutos os cachorros o alcaçaria. Tentou correr mais rápido, mas não possuía tanta disposição assim. Foi aí que por pura sorte, ele avistou uma pilha de barras de ferro em sua frente, e por um reflexo rápido, agarrou uma barra, se virou e acertou um dos cães, que já pulava para lhe atacar. Sua lanterna caiu, mas não foi em vão, o golpe foi certeiro, acertando em cheio a cabeça da criatura, matando-a na hora.


Pegando a lentara que deixara cair, David preparou para acertar o outro. Mas o mesmo havia desaparecido. David começou a procurá-lo desesperadamente, virando-se para um lado e para o outro. Se a criatura lhe pegasse, seria seu fim. Deu alguns passos para frente,e por fim encontrou o cão correndo em sua direção, seu rosnado era indescritível.

David lhe deu um golpe na cabeça, mas não muito forte, já que utilizou apenas uma mão para atacar, enquanto a outra segurava a lanterna. O cão caiu, e logo se levantou, mas David não lhe deu muito tempo, e atacou novamente, acertando desta vez seu corpo. A criatura ainda resistiu mais uma vez e, levantou-se novamente. Já estava fraca, o que facilitou muito para David, finalmente dando o golpe final, estourando um pedaço da cabeça da criatura com uma potente ferrada. Acabando por fim com essas abominações, David jogou a barra de ferro no chão, limpou seu braço que estava sujo de sangue, e sentou no chão para descansar.


- Mas o que é isso? - falou para si mesmo não acreditando em tudo aqui que acabara de acontecer.

Ele logo se lembrou de Vincent, levantou e correu em direção ao amigo. Ao chegar, lá estava Vincent, ou pelo menos seu cadáver.

- Não, não, não!! - Começou gritar, chegando perto do amigo. Quando estava de frente a ele, viu seu corpo todo estraçalhado e mordido. Sua blusa branca, a que mais gostava, já estava toda rasgada, cheia de sangue. David começou a chorar. Nunca teve um amigo como ele, e agora estava morto.

- Você não merecia morrer assim, cara! Não merecia! Você tinha que morrer em Ashfield, como sempre dizia! SEU DESGRAÇADO, COMO PODE FAZER ISSO COMIGO VINCENT!! - David desabafou com um dos braços sobre o rosto para enxugar suas lágrimas.


Agora, estava tudo perdido. Seu amigo, talvez o único, estava morto, e era uma questão de tempo para David também estar. Não pensou em sair daquele beco apavorante, nem de ir embora de Silent Hill. Não estava nem aí se iria aparecer mais daqueles cães, ou coisa pior. Só queria ficar ali com Vincent.

Silent hill - Memórias do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora