(A)Mar

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          2 de agosto de 2016, por volta de 8h32.

      Imagine que eu sou um mar. Água salgada que banha a areia. E vai, e vem, mas sempre volta. Medo de continuar? Talvez. Tire sua roupa interior e, passo a passo, vá se aproximando. Receosa, molhe seus pés na água. E então, mergulhe de cabeça, sem medo; eu prometo tentar não te machucar.

      Neste mesmo teatro, peço que admire cada peixe, cada coral, toda a beleza da água rasa e exterior. Eu te convidarei a ir cada vez mais fundo, explorando cada canto de mim. Você se sentirá em casa. As minhas águas te abraçarão e te farão flutuar. No entanto, quando você se der conta, a escuridão já terá te agarrado. Você não verá nada ao seu redor. Entrará em pânico, mas não importa, você fez essa escolha - ou foi induzida a fazer? Começará a nadar desesperada e as criaturas da escuridão darão risada de você. Vai tentar gritar em desespero por ajuda. Mas na escuridão é onde a minha voz não cessa. Ela lhe diz:

      - Fique, fique comigo. Não fuja!

      E neste mesmo teatro, você se arrepende. Eu lhe peço perdão por não ser o que você esperava. Eu não cumpro nem as minhas próprias expectativas. Todavia eu sei diferenciar o bem do mal, o ideal e o supérfluo. Nestas idéias, eu te deixo partir; por mais que eu queira te prender em meu abraço e te fazer minha para sempre, por mais que isso te mate e eu adoraria ver seu sangue sobre meus lábios. Então eu te solto e observo você nadar numa velocidade incrível para a superfície, correndo da areia ao chegar lá, fugindo das ondas, e se embrulhando nos braços da Terra. Eu sei, eu sei... Talvez você nunca vá voltar, mas é provável que não tenha sentido a falta deste teu amuleto que eu te dei e agora roubei para mim. Ele tem você, é parte de você e agora também é parte de mim.

    Você deixou o amor.

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