Cap. 18 - Gorette iludida (revisado)

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Gorette não era pobre nem rica.

Sentia-se abençoada por ter uma casa com pai e mãe morando juntos, bem-casados, católicos praticantes e respeitados pela vizinhança. É claro, a cidade é pequena, mas o respeito dos moradores do bairro é sempre importante, ela pensa. Sua família carrega um nome, cujas glórias, há muito haviam sido deixadas na Europa. A origem portuguesa é tudo que sabem sobre seus ancestrais, dos quais já não mais se lembram.

Gorette não era estudiosa, muito menos intelectual. Depois dos estudos básicos obrigatórios, sua maior ocupação era cuidar da casa. Namorados? Nunca tivera um. A virgindade aos vinte e dois anos se tornava uma grande preocupação.

Mas, e o padre e a igreja? Ela não sabia como tomar as decisões. Beijar na boca ela sabia bem, desde a época da escola primária já era praticante.

Até que ele apareceu. Sua marra oriental, sua mania de citar grandes escritores, dos quais ela nunca ouvira uma sequer menção do nome. Ele a inspirara. Pensou estratégias mil para conquistá-lo. Tomou algumas decisões arriscadas e se atirou em sua direção.

Disse que gostava de livros, que queria fazer faculdade, casar, ter filhos e cuidar da própria vida, prosperar, viver bem. Naquele mesmo dia eles transaram. Ela ignorou a igreja, o conselho das beatas e a experiência da mãe.

Os pais forçaram o casamento, quando souberam que ela engravidara. Ele não queria casar, mas ela estava animada com a ideia de ser mãe. Ele, aterrorizado com os gastos e com a prisão que o casamento lhe construiria.

Casaram-se.

Ela em casa cuidando do bebê, uma bela garota de nome estrangeiro, e ele com os amigos pelas esquinas. Em casa, ele passava somente à noite. Não trocava fralda da menina, não lhe preparava mamadeira, não lia nenhum dos livros da estante, mas os mantinha por lá. Era sempre grosseiro, quase não a procurava para fazer sexo e quando recebia os amigos mudava, tornava-se outra pessoa. Era gentil compreensivo e hospitaleiro.

Gorette se tornou, por necessidade, observadora. E também se enfadou de mentiras e intrigas sem resultado algum, resolveu valorizar mais a verdade. Ela estranhava quase tudo em seu comportamento, ele parecia um picareta.

Com o passar do tempo, ela não conseguiu mais esconder, disse-lhe que não gostava de estudar, que detestava ler e que trabalhar era para homem. Ele, transtornado, ameaçou-lhe, como quem avisa de uma agressão vindoura. Acusou-lhe de mentirosa, de enganá-lo para se casarem. Seu toque fora tão bruto, que, até mesmo, hematomas ficaram em seu antebraço direito.

Ela pensou sobre o que fazer à noite enquanto ele, adormecido ao seu lado, roncava exalando álcool.


(continua no próximo capítulo)


>> E aí, com será a continuação? Que tal um voto?

[Não perca o capítulo 19: Gorette envenenada]

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