Ousadia (revisado)

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Nosso primeiro encontro foi num elevador e logo atraiu minha atenção. Não era uma estampa comum. Tratava-se de um garoto que se apresentava de forma diferente, fora dos padrões etiqueta da hora/loja de departamentos. Garoto porque tem, sim, cara de menino, e um sorriso doce, quase infantil. Após errar de prédio e de andar, descobrimos que estávamos indo para o mesmo evento.

Ao fim da mesa-redonda da qual participei, ele me abordou. Primeira surpresa: um jovem escritor, inteligente, culto, de boa conversa e muito interessado em aprender. Algo raro atualmente, em que estreantes já olham o mundo de cima para baixo. Dimas Moraes é seu nome, diz que somos amigos na rede social; recordo vagamente. A curiosidade me venceu e fui procurar na internet o tal rapaz tão novinho e tão pé no chão. Segunda surpresa: tem posição, sabe a que veio nesta existência, defende o que é justo.

A terceira surpresa – e espero que não seja a última – é este livro, primeiro trabalho publicado do autor. Sem grandes pretensões, Dimas descreve mulheres, a maioria na faixa dos trinta anos, em seus dramas pessoais. Empresária, faxineira, religiosa, puta, trans. Não importa quem seja ou como viva, a mulher narrada nesta obra é a que muitas podem reconhecer em si: a dependência do ser masculino, o casamento como objetivo de vida, a sexualidade contida, o relacionamento abusivo, a tristeza na intimidade que a gente não alcança, a negação do eu.

Dimas é um estreante que se joga no mercado literário com ousadia, ao eleger as mulheres como tema para suas pequenas histórias. O sorriso é doce, a face é de menino, mas ele conhece o terreno em que pisa e segue com coragem. Que seja o primeiro de muitos que lerei pela frente.


Prefácio por Giovana Damaceno, jornalista e escritora.

(Giovana Damaceno é autora do livro "Do lado esquerdo do peito")


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