♡ continuação de Gorette iludida ♥
E assim a vida deles seguiu. Ele quase nunca em casa e ela cuidando da criança.
"A vida é assim, injusta", queixou-se Gorette com sua mãe. Esta, por sua vez, descreveu-lhe uma cartilha de boa esposa. Disse tudo que ela deveria fazer, enquanto mulher e esposa, para conquistar e tornar seu marido um benfeitor. Uma das falas que Gorette decifrou perfeitamente foi:
— Quando seu marido chegar do trabalho, não dê mole para ele! Diga que precisa de dinheiro para comprar coisas pra casa, abra as portas do armário e mostre a quantidade de compras lá, enfatizando se é com aquilo que ele pretende passar o mês. Homem é assim, minha filha, se você não o aperta, ele não se move.
A conversa, com sua mãe, fora a gota d'água de uma torrente devastadora. Gorette aplicou o método à risca. Mas, o marido não reagira como a sogra previra. Ele era outro tipo de homem, mais malandro, conhecedor de sogras e seus procedimentos, ele pensava.
O rapaz pediu divórcio, ela ficou arrasada e no fórum da comarca local eles acertaram um valor de pensão. Quantidade ínfima, o patriarca não possuía emprego fixo.
Gorette saiu-se dessa aventura matrimonial devastada, morando com sua filha, ainda pequenina, com menos de duas centenas monetárias para alimentar a si e à sua pequena. Pagar as contas da casa? Impossível. A casa dos pais não possuía a porta aberta para o seu retorno, descobrira logo na primeira semana do pós divórcio.
Enquanto ele, o solteirão, a passeios com amigos perambulava região e na segunda semana já estava apresentando uma nova namorada. Loira, magra, sem filhos e empregada numa multinacional, Gorette desabava em prantos.
Depois de alguns dias, nessa lamentável situação, ela processou toda a sua vida e a entendeu, pela primeira vez, por completo. Sentiu-se uma tola, enganada e iludida por um homem já calejado das safadezas que aprontara.
No dia seguinte, ela saiu de porta em porta procurando emprego. Trabalhou como babá de filho de madame, enquanto sua filha passava o dia na creche municipal. Cumpriu, por algumas semanas, pequenos contratos como diarista pelo bairro em que morava, cortou mato de quintal com enxada e, por fim, conseguiu um trabalho com carteira assinada.
Uma explosão de alegria.
Recebeu seu primeiro salário, pagou todas as contas do mês anterior, foi até a igreja matriz da cidade e, dê joelhos, na pressa, prometeu ao primeiro santo que encontrou:
— O meu próximo salário vou gastar todinho para dar o troco naquele salafrário, viu!?
— Está me ouvindo!?
Olhou para o santo à sua frente e, reconhecendo-o, deu um salto com a surpresa:
— Santo Antônio?!
A alma de Gorette estava envenenada. Ela acabara de prometer vingança contra seu ex-marido, justamente para o santo casamenteiro.
(fim)
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Mini-histórias Sobre Mulheres
NouvellesOs dilemas que a maioria das mulheres enfrenta ao longo da vida, desde a prostituta até a empresária de sucesso, são narrados aqui de forma irreverente, arrebatadora, com desfechos que vão do drama à comédia em poucas páginas.