Sei que essa pessoa é idiota, insensível , complexa , complicada , mas você não se importa, porque é exatamente isso que te faz gostar mais e mais dela.
A chatinha tinha mesmo torcido o tornozelo. E é óbvio que era tudo culpa dela, ninguém mandou ser tão maluca. Tenho que confessar que foi quase impossível enrolar uma faixa no pé dela por que eu levei tantos socos enquanto passava um remédio que já estava quase desistindo. Ela resmungava de dor, como se eu tivesse culpa de sua total falta de jeito. Eu tentei explicar pelo menos duas milhões de vezes que a porra do celular não pegava nessa área por que não tinha sinal mas ela preferia me insultar do que tentar me ouvir. Bem típico da Blake, sinceramente.
- Pronto marrentinha! – terminei de fazer o meu ótimo trabalho e coloquei seu pé no meu travesseiro que estava no centro da sala – Agora vê se para de reclamar!
- Você é um idiota Bieber!
Eu ri fraco, eu adorava quando ela me chamava pelo meu sobrenome. Ela só fazia isso quando estava sendo irônica ou quando estava brava.
- A culpa não é minha se o meu celular não é de camelô.
Ela me olhou feio.
Mas era a verdade, meu iPhone estava ótimo enquanto o dela com certeza nunca mais ligaria, aliás ele devia estar no fim do oceano, até por que parece mais tijolo do que um celular.
- Eu estou com raiva de você. – ela confessou.
- Jura? – dei risada – Se você não falasse...
- Nunca mais vamos sair daqui.
- Eu amo seu otimismo.
Eu usava toda a minha ironia quando conversava com ela, era tão ridículo, parecia que nós estávamos competindo o tempo inteiro para ver quem conseguia ser mais sarcástico. Eu perdi algumas vezes. E se tem uma coisa que eu não gosto e não admito, é perder.
- Você acha que vamos sair daqui? – agora ela já estava sendo completamente sensível.
- Eu tenho certeza! – disse sem estar completamente certo das minhas palavras.
Durante o resto do dia ficamos assistindo TV, não era mais tão torturante ficar vendo o que as pessoas falam sobre nós, é como se estivéssemos nos acostumado com esse sentimento estranho, quando todos acham que estamos mortos, e quando na verdade estamos vivos e sem poder fazer nada para mudar os fatos.
Além do mais raramente assistíamos jornal, os canais de filmes pareciam de longe mais atraentes. Era tão legal assistir filme de terror com a Blake, ela ficava toda medrosa e acabava me abraçando. Eu me sentia um máximo e até dava um sorrisinho malicioso sem que ela percebesse, é claro. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas esses dias em que estava ali eu pude realmente viver, sem nenhum contato com o mundo lá fora.
Eu não queria ficar ali pra sempre, eu tinha uma vida, tinha fãs, uma família e muitos amigos, mas eu confesso que talvez eu estivesse precisando desse tempo.
Blake tinha se tornado uma pessoa de extrema importância na minha vida. Nós estávamos passando pela mesma coisa e mesmo que brigando o tempo inteiro tinham aqueles momentos sóbrios em que podíamos reconhecer que seria tudo mais difícil se não tivéssemos um ao outro.
- O sol está se pondo, está mais bonito hoje. – disse ela com os joelhos no sofá observando pela janela o lindo por do sol que começava lá fora.
- Legal. – dei de ombros prestando atenção na tevê.
- Eu queria tanto comer uma fruta. – ela passou a mão no estômago – Todos os esses doces vão acabar nos deixando doentes.