Capítulo 3

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Dominic Lennox

Al Fuqaha - Líbia, 338 quilômetros de Sabha

Ari estava quieto hoje, conversamos com um homem que disse que Sabha estava praticamente abandonada após o bombardeio e que praticamente ninguém saiu ileso da explosão. Ele temia ter perdido sua família, eu tinha fé de que não tinha perdido Amanda.

— Nós vamos encontra-las. — Falei confiante, ele apenas assentiu e ficou encarando o horizonte, pegamos a estrada de terra que nos levaria até Sabha, Líbia.

Faltava muito pouco para que nós chegássemos a Sabha, cidade em que Amanda me enviava as cartas, cidade que fora atingida, cidade em que ela estava viva. Ela estava viva. Dentro do meu coração eu tinha a convicção de que ela estava viva, uma parte de minha mente que tinha herdado um pouco da criatividade de minha mãe eu imaginava que eu e Amanda estávamos conectados, e que se um dia ela parasse de respirar; eu também pararia. Automaticamente, como se fossemos um único ser vivo, cada metade separada por uma guerra que não era nossa.

— Tudo foi destroçado cara, centenas de pessoas estão mortas... tenho medo de ter perdido minha família. — Confessou Ari.

— Você quer desistir? Deixo você em alguma cidade e sigo sozinho. — Falei mal-humorado. Aquele sol escaldante estava me deixando com dor de cabeça e escutar Ari reclamando em árabe não estava ajudando.

— Quem falou em desistir? Eu vou seguir com você; se minha família morreu eu preciso fazer o ritual para purificar seus corpos e enterra-las. — Notei que sua voz ficou falha e encarando-o de soslaio vi ele limpando uma lágrima solitária de sua face.

— Então vamos seguir Ari e desejar que não seja necessário fazer nenhum enterro.

— Desejar não, orar. — Respondeu ele.

Fiquei pensativo por um tempo. Veio-me a memória o primeiro dia em que coloquei os pés nessas terras inóspitas. Eu pensava que todos os islâmicos eram nossos inimigos, que todos estavam infectados pela maldade. Eu admito que era preconceituoso e culpei uma maioria, pelos atos de uma minoria.

Talvez a raiva de Raphael tenha me contagiado, afinal ele perdeu seus pais no atentado do Onze de setembro, ele foi jogado na casa dos seus tios e tratado como um peso. Raphael foi um dos meus melhores amigos e eu nunca esqueceria o que ele fez por mim. Nunca. E quando eu retornasse ao Arizona eu iria até a casa de seus tios, falar sobre o grande homem que Raphael era. Ele foi um herói de guerra.

— Hey o que é aquilo? — Ari sentou-se ereto no banco do carona e encarou o horizonte. Há nossa frente vi um camelo se aproximando e um garoto montado nele. — Vamos falar com ele, talvez ele saiba de algo. — Disse Ari.

— Ele pode ser um rebelde. — Argumentei.

— Não, é apenas um garoto. Vamos falar com ele.

— Já vi garotos menores do que ele carregando uma A-K 47. — Argumentei. — Se morrermos agora nunca iremos encontra-las.

Ari bufou ao meu lado. E começou uma oração em árabe. Okay, era só o que me faltava agora. Pensei.

Deus me mande um sinal, onde está minha Amanda?

Quando eu ia passar direto pelo garoto algo brilhou em sua bolsa com o reflexo do sol e me cegou momentaneamente. Freei bruscamente, fazendo com que Ari e eu fossemos para a frente. Ao menos o maldito parou de orar como se fosse um exorcista.

— O que aconteceu?

— Um sinal. Vamos falar com o garoto. — Saltei do Jipe e chamei o garoto. — Ei garoto, qual seu nome?

Sempre foi você - Série Lennox - Livro 8 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora