Capítulo 1

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Amanda O'Connor

Meu corpo inteiro doía, cada músculo do meu corpo parecia que fora espancado e na minha testa uma ardência queimava, abri meus olhos com dificuldade e encarei uma parede de barro, olhei para o outro lado e havia uma mesa de madeira velha, em cima dela um copo de água, eu precisava de água mesmo. Meus lábios e minha garganta estavam secos, me sentei na cama e observei uma roupa desconhecida sobre meu corpo. Era uma espécie de túnica negra que cobria meu corpo inteiro, tentei levantar e fiquei tonta momentaneamente, bebi a água como se não a bebesse a dias.

E acho que talvez eu não bebesse água a dias, minha cabeça latejava, mas pouco a pouco a lembrança da explosão, da fuga, de tentar me abrigar com Aisha e então tudo branco.

— Minha filha...? — Levantei-me e pousei o copo em cima da mesa. Não sabia onde estava, mas caminhei determinada até a porta de madeira gasta tentando não cair dura no chão, eu ainda estava tonta e quando toquei minha testa que latejava, notei que ali havia um corte. Doeu quando o toquei e fiz uma careta ao abrir a porta. Encontrei duas mulheres, elas usavam burca e conversavam entre si em árabe, entendi apenas algumas palavras soltas antes delas notarem minha presença.

Elas falavam sobre a explosão, maridos mortos e crianças e vizinhos perdidos. As duas me encararam e me perguntei se eu estava sendo mantida como prisioneira, se elas pensavam que foi a mando do tio Sam que a bomba foi lançada eu estaria em apuros. E onde estava a minha filha?

— Filha? Minha filha, Aisha? — Perguntei, arranhando meu péssimo árabe.

Elas voltaram a conversar entre si, falando rápido demais para que eu entendesse qualquer coisa. Então bati as mãos na mesa para chamar a atenção delas. Se elas fossem me matar que matassem logo, eu só queria saber se minha filha estava bem.

— Filha! Minha filha! Minha filha! — Já enrolei o árabe com inglês e comecei a ficar histérica. Eu protegi Aisha com o meu corpo, ela estava bem, ela tinha que estar.

— Está bem a menina. Aisha. — Disse uma delas num inglês pausado.

— Onde ela está?

— Se-segura. — Disse a mulher. — Com nossos filhos.

— Eu quero vê-la. Me digam onde ela está que eu quero vê-la. — Disse em pânico, não confiava nessas mulheres. Talvez por elas serem muçulmanas e um preconceito irracional estava tatuado em meu subconsciente desde os ataques terroristas.

Elas se entreolharam e falaram rápido novamente, num árabe incompreensível, a que falava um pouco de inglês assentiu e então voltou a me encarar.

— Samira vai guiar você, siga Samira. — Ela indicou a outra mulher, seus olhos castanhos me encaravam com desconfiança. Mas a segui, caminharia até mesmo em uma ponte de cordas sobre um mar de fogo se fosse para ver minha filha. Atravessamos um corredor curto e logo ela abriu uma porta e indicou com um gesto que eu entrasse.

Assim que entrei no quarto a vi. Aisha estava brincando com outras quatro crianças, ela não tinha um arranhão no corpo e estava sorrindo. O alivio que senti naquele momento foi surreal, só quem é mãe para entender o alívio que senti ao ver minha filha viva.

— Aisha!

Mami! Mami! — Ela correu para os meus braços, ouvir sua vozinha me chamando daquele jeitinho só dela, fez com que lágrimas brotassem em meu rosto e a segurei bem perto de mim. — Mami porque chorando? — O jeitinho errado dela falar inglês me deixou ainda mais emocionada, pensei que não escutaria mais a sua voz.

Sempre foi você - Série Lennox - Livro 8 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora