Capítulo 4

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Amanda O'Connor

Já fazia dois dias desde que o menino Said pegou a estrada para encaminhar nossas cartas. Eu encarava o horizonte pela janela, estava ansiosa para retornar para a casa, e proporcionar segurança para Aisha. Ela havia perdido peso nos últimos dias, eu podia notar isso em suas roupas que estavam ficando largas. Quando chegássemos em casa eu iria pedir ao meu pai para que ele fizesse seu delicioso macarrão com queijo e pediria a Elena para que fizesse um filé delicioso frito com cebolas. A vegetariana de seis anos atrás estava ansiando por um belo pedaço de carne. Certas coisas mudam inevitavelmente.

Uma batida na porta me alertou, Zalika e Samira me encararam e mandaram que eu me cobrisse, elas fizeram o mesmo. Desde que conquistei a confiança de ambas elas agora andavam dentro de casa livre de suas burcas e descobri que eram tão jovens quanto eu e as duas eram lindas. Me cobri como elas mandaram e então Samira abriu a porta. Uma mulher estava ali, desesperada, ela falava rápido demais, Samira assentiu e a deixou entrar.

— Essa é Samiyah, ela é mãe do menino Ghazi, estava procurando ele a dias. — Disse Samira. A mulher voltou a falar em um árabe muito rápido, mas pelo modo como ela pronunciava as palavras notei que ela estava agradecida por termos cuidado de seu filho.

— Pode desabafar querida. — Disse Zalika.

— Quem é ela? Você é Zalika viúva do Sheik e Samira é sua criada. Só quero meu filho, não conversar. — A mulher me encarou com desconfiança

— Tudo bem querida, vamos chama-lo aqui. — Disse Zalika e então olhou na minha direção. — Essa é minha prima Layla, ela é muda e surda, então pode nos contar tudo que ela não vai contar nada. — Aquilo foi um sinal, seja quem fosse aquela mulher, Zalika não queria que ela soubesse minha verdadeira identidade.

— Pensamos que os malditos americanos tinham pegado nosso filho para nos chantagear, meu marido é o general do exército e ele nem sabe que vim até aqui ou então seus soldados iriam destruir essa casa até encontrar meu Ghazi. — Ela suspirou cansada. — Esses malditos americanos, o que querem nas nossas terras? São todos arrogantes, só porque fizemos a vontade de Alá, são todos sujos e impuros e devem ser exterminados da terra. — Ela cuspiu essas palavras e estremeci dentro da burca.

Logo o menino Ghazi estava ali, ele era um dos órfãos junto com Alimah.

— Para a segurança do menino peço que tire seu hijab. — A mulher se remexeu desconfortável.

— Eu sou a mãe dele. — Disse ela com emoção na voz.

— Se ele a reconhecer você pode leva-lo. Desculpe, mas, imagine se viesse aqui outra mulher e dissesse que Ghazi é filho dela e a deixássemos leva-lo. O que você acharia disso? — Indagou Zalika. — Peço-te que tire o seu hijab e então se Ghazi dizer que você é a mãe dele, poderá leva-lo.

A mulher assentiu e despiu a burca que a cobria, hijab era apenas outra maneira que elas usavam para chamar a vestimenta. A mulher tinha olheiras profundas e de seus olhos lágrimas pesadas escorriam por sua face.

— Mãe! — Ghazi correu para os braços da mulher e ela o abraçou com lágrimas nos olhos.

— Ghazi, meu menino que saudades... seu pai vai ficar tão feliz em vê-lo. — Ela beijava o rosto do menino com emoção, aquela cena fez com que lágrimas escorressem da minha face.

Essa tristeza, essas mortes, essas perdas que todos que estavam no fogo cruzado não eram mostrados nos jornais. Mães que perdiam filhos, maridos e entes queridos. Pais que perdiam as esposas, filhos e entes queridos. Nada disso era noticiado, a outra face da guerra era ocultada do mundo e o que aparecia na mídia não era nada comparado a verdadeira face da guerra. Toda a carnificina e todo o sangue. Mas momentos como aquele, em que havia um reencontro era o que me dava esperanças. Me perguntei se eu teria meu reencontro com Dom, será que ele estaria vivo? Estaria ele lá fora lutando? Ou teria voltado para a casa?

Sempre foi você - Série Lennox - Livro 8 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora