Capítulo 8

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Dominic Lennox

Eu não poderia descrever a viagem nem mesmo que eu quisesse, tudo me pareceu uma grande viagem de LSD; isto é, se um dia eu tivesse usado tal substância. Nunca fui de usar drogas, mas creio que as sensações surreais que senti naquele avião foram bem parecidas as viagens que os viciados têm. Mas de qualquer forma, isso não vem ao caso.

Quando desembarcamos no aeroporto em Phoenix foi tudo muito cinzento. Eu me vi abraçado pelas pessoas que eu mais amava na vida, mas tudo parecia um sonho ainda, e eu temia que qualquer movimento brusco de minha parte, me fizesse despertar. Então me concentrei no cinza do céu, ah Deus e como aquele céu nublado me pareceu belo, as nuvens pesadas carregadas de chuva, o cheiro de terra úmida assim que as primeiras gotículas se chocaram contra o chão, cara eu queria que chovesse para sempre, minha pele queimava, um contraste enorme contra a chuva fria que me deixava úmido.

Enquanto abraçava minha mãe e sentia seu coração batendo perto do meu, fazendo com que eu acreditasse que aquilo ali não era apenas um sonho, que eu não iria despertar assustado em meu acampamento militar, que eu não despertaria em um quarto estranho e que de jeito nenhum eu iria abrir os olhos e me deparar com o sol escaldante dentro daquele jipe que passei a odiar.

Minha mãe balbuciava e chorava, eu não conseguia dizer muitas coisas, ainda parecia irreal que estávamos mesmo em casa, que viemos para ficar. O que eu faria da minha vida agora? A pergunta me atingiu inesperadamente. E eu não tinha uma resposta para ela. Avistei Amanda, minha Mandy nos braços de Travis, nossos olhares se encontraram e ela balbuciou um obrigado silencioso.

Raphael. A lembrança do seu agradecimento ofegante em meio ao campo de batalha me atingiu em cheio, como se agora que finalmente tínhamos paz; as lembranças da guerra achassem uma brecha para se infiltrar em nossa mente. Seria assim com todos?

— Vamos para casa, antes que a gente pegue um resfriado. — Disse minha mãe, ela me encarou cansada parecia ter envelhecido uns dez anos desde a última vez em que a vi.

— Desculpe. — Foi a única palavra que saiu dos meus lábios.

— Não se desculpe por voltar vivo para mim. — Ela acariciou meu rosto e a vontade que senti naquele momento foi de que ela me pegasse no colo e tomasse conta de mim. Como na vez em que torci o braço e ela me trazia comida na cama e lia histórias para mim.

— Eu não queria preocupa-la. — Meu pai deu uns tapinhas em meu ombro.

— Nós somos fortes e nunca perdemos a fé. — Minha mãe assentiu, os dois estavam encharcados pela chuva, mas pareciam não se importar.

— Dom. — Amanda me chamou e me afastei deles para ir até ela.

— Você está bem? — Perguntamos em uníssono, isso fez com que uma risada escapasse de nossos lábios. Ela também não parecia a mesma garota de seis anos antes, era como se tivesse passado seis décadas ao invés de seis anos desde que nos encontramos em solo americano.

— Eu vou ficar bem, só preciso de uma cama e muita comida. — Ela falou.

— O mesmo para mim, só que em dobro. — Aisha já estava dentro da SUV de Travis, ela acenava para mim, acenei de volta.

— Isso, descanse e em breve a gente se vê. — Disse ela sem jeito.

— Claro, a gente se vê. — Ela deu um beijo leve no canto da minha boca e correu para o carro.

Então era isso. Um estranhamento, um distanciamento que se instalou entre nós, que foi como se eu ainda estivesse no Iraque e Amanda no Líbano. Eu suspeitei que seria assim, mas nós iriamos consertar isso.

Sempre foi você - Série Lennox - Livro 8 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora