Orchideous

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Dentre todas as decisões que eu tomara na vida, esta fora a mais difícil. E também a menos provável, sendo eu quem sempre fui.

Recebi alta do hospital depois de uma semana, e o endereço de Hermione ainda estava amassado embaixo da cama. Em meu colo a carta de minha mãe. Cheirei o pergaminho com força, buscando o perfume da mulher que me trouxera ao mundo, aquela que significava mais do que o próprio oxigênio que eu inspirava todos os dias. Minha mãe.

Pedir para um homem escolher entre o amor de sua genitora e o amor de uma mulher deveria ser proibido. Deveria figurar na lista de maldições imperdoáveis.

Mãe é sempre mãe. Os caminhos mudam, as pessoas morrem, envelhecem, o mundo caminha em várias direções diferentes; convicções são atiradas ao vento. Mas o amor de uma mãe jamais perece.

Era engraçado pensar em Narcissa com tanto carinho, quando ela me pusera contra a parede de forma tão fria. Entretanto, a frieza daquela mulher, que poderia muito bem ter sido feita de mármore, era o que me fazia relutar ainda mais. Dentro dela havia o calor materno, havia uma infinidade de sentimentos contidos que somente eu conhecia. Era fácil ama-la sabendo quem ela era.

Levantei de meu estado reflexivo e resolvi enfrentar a decisão tomada.

Pedi uma pena, um pedaço de pergaminho e um punhado de pó de Flu para Cunnis, a enfermeira, e comecei a escrever apressado.

Mãe.

Declino de sua oferta. Infelizmente não posso abandonar alguém que carrega um filho meu. A senhora e meu pai me educaram sob a égide de ensinamentos aristocráticos, e a honra era um dos pilares fundamentais. Manterei o bom trabalho de ambos.

Draco.

Reli a carta muitas vezes, até sentir os olhos úmidos. Minhas mãos tremiam e a coragem, pouco a pouco, diminuía.

Com uma das corujas do hospital entreguei a carta. E não precisei esperar muito.

Na noite do dia seguinte recebi duas correspondências. Uma delas era um envelope negro, com uma textura áspera.

Dentro dele o brasão da família Malfoy.

Quando abri, um laço esverdeado amarrou a ponta do meu dedo indicador, a ponta do laço se transformou numa agulha que picou minha pele, fazendo sair uma gota de sangue.

Após a gota de sangue pingar no envelope a voz de meu pai soou, baixa e ameaçadora.

"Draco Lucius Malfoy está morto. Que a Poena repuddia se aplique e lhe sejam retirados todos os benefícios desta família. Que seu sobrenome seja apagado."

O envelope pegou fogo. Uma chama azul consumiu minha sentença de morte.

Estava feito.

O outro pergaminho continha ameaças, e insultos. O que era bastante previsível, então, li rapidamente e atirei-o no lixo.

Não esperei amanhecer. Desci ate o saguão principal do Hospital e joguei o pó sobre a lareira, proferindo o endereço amassado no pergaminho trouxa.

"Espero que não seja tarde demais." Foi o meu último pensamento, antes de ser engolido pela lareira.

XX

As alças da mala, que Tina Cunnis me emprestara, estavam deslizando entre meus dedos suados. Parte de mim era nervosismo, a outra parte era medo.

Ela abriu a porta. Sempre espontânea, sempre sorrindo e fazendo chegar até minhas narinas o seu aroma característico. Correu até mim, e atirou-se em meus braços tão logo eu larguei a mala no chão de cascalhos.

Dez EncantamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora